30 Março 2022
Francisco recebe no Vaticano grupos de aborígenes norte-americanos que sofreram abusos em escolas católicas onde foram internados à força para assimilar a cultura ocidental.
A reportagem é de Dario Menor, publicada por Vida Nueva, 28-03-2022.
Com um encontro com os membros do Conselho Nacional Métis e outro com os representantes da comunidade Inuit, o Papa Francisco iniciou nesta segunda-feira a série de audiências privadas que realizará esta semana com membros dos povos indígenas do Canadá e que terminará em Sexta-feira com o discurso que lhes dedicará na Sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano.
O Papa com uma delegação dos Inuit do Canadá. (Foto: Vatican Media)
Esses encontros, organizados pelo episcopado canadense, acontecem após a polêmica que surgiu no país norte-americano com o aparecimento de valas comuns em escolas católicas onde crianças indígenas eram internadas para forçá-las a assimilar a cultura ocidental e deixar de falar sua língua e praticar sua Alfândega. Nesses centros educativos eram comuns os maus-tratos, abusos sexuais e até o desaparecimento de crianças.
Estima-se que, entre 1863 e 1998, 150.000 crianças foram separadas de suas famílias e internadas nessas escolas católicas. Muitos deles nunca voltaram para seus pais, a ponto de 4.100 terem morrido nessas escolas devido a doenças, fome e frio , segundo o projeto Crianças Desaparecidas. No ano passado, veio à tona o último capítulo deste drama: a descoberta de uma nova vala comum na antiga residência escolar para crianças indígenas em Kamloops, na província de British Columbia (oeste do Canadá). Neste centro administrado pelas Oblatas de Maria Imaculada, onde os indígenas foram internados à força por quase 80 anos, encontraram restos de 215 pequenos.
Após a reunião de segunda-feira, que durou uma hora e um quarto, uma porta-voz do Conselho Nacional Métis explicou que Francisco havia repetido três palavras em inglês: "truth, justice and healing" (verdade, justiça e cura). Ele também expressou confiança de que pode continuar essa tarefa de reconciliação com uma próxima viagem ao Canadá. O Papa "ouviu o que três de nossos anciãos lhe disseram, que foram muito corajosos ao falar de suas experiências", explicou a porta-voz.
Ngie Crerar, uma das mulheres indígenas que prestou seu depoimento a Francisco, assegurou que, quando foram admitidas nessas escolas, "roubaram tudo de nós, embora não nos quebrassem". Crear também mostrou sua admiração pelo Papa: “Vendo seus gestos atentos, pensei: amo este homem. Agora queremos que ele trabalhe conosco", disse ele no final da audiência, segundo a agência Askanews.
Ngie Crerar (Foto: Vatican Media)
Raymond Poisson, presidente da Conferência Episcopal Canadense, agradeceu tanto aos diversos representantes dos povos indígenas “por terem caminhado conosco neste caminho” quanto a Francisco, “por sua atenção ao seu sofrimento e seu profundo compromisso com a justiça social”. Com esses encontros privados, os bispos canadenses esperam que o Papa conheça em primeira mão "o trauma e o legado de sofrimento enfrentado pelos povos indígenas", bem como o papel desempenhado pela Igreja Católica nos internatos. Este trabalho "contribuiu para a supressão das línguas, cultura e espiritualidade indígenas", lamentou Poisson.
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“Verdade, justiça e cura”, a receita do Papa para o trauma dos indígenas canadenses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU