23 Fevereiro 2022
"Obrigado, portanto, ao teólogo ambrosiano Marco Vergottini e seu árduo trabalho; que inclusive, conseguiu manter o foco dos colaboradores principalmente sobre o legado espiritual do cardeal Martini", escreve o biblista e padre italiano Giovanni Giavini, ex-capelão de Sua Santidade, durante o pontificado de João Paulo II, em artigo publicado por Settimana News, 22-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Trata-se da coletânea de 24 testemunhos sobre o arcebispo em Milão de 1980 a 2002, que morreu em 2012. As testemunhas são de diferentes origens, desde Liliana Segre até seus últimos assistentes durante o longo período de sua doença em Milão, em Jerusalém e em Gallarate. Nem todos são convergentes nem centrados.
No entanto, sua rica personalidade renasce, poliédrica, viva e fascinante, em parte também desconhecida: eu mesmo, que estive um pouco perto de Martini nos conselhos diocesanos e como diretor dos departamentos catequéticos, para o IRC e para o apostolado bíblico diocesano, com vários encontros com ele e alguns confrontos, mas sempre compartilhando com muitos outros uma profunda estima por ele; eu mesmo o conheci apenas parcialmente, mas esse livro me fez descobrir um rosto espiritual mais rico.
La settima stanza del cardinale.
L'eredità di Carlo Maria Martini
O que emerge do conjunto das 24 intervenções parece-me exato: Martini foi um homem de escuta da Palavra divina bíblica e das palavras que brotam do coração de cada um, de Milão, de Jerusalém, do mundo, de judeus e de outras religiões, mesmo aquelas de quem, como ele, passaram pela dúvida, pela busca, pela noite escura dos místicos.
Palavras na corda bamba entre a fé e a incredulidade, entre o bem e o mal, entre o belo e o feio, entre o ódio e o amor. Isso foi especialmente vívido nos anos dramáticos do episcopado de Martini, nas trágicas horas de Milão e em outras cidades mais ou menos semelhantes.
Dessa dupla escuta surgiram seus planos pastorais bem articulados e outras iniciativas cujo eco ainda se ouve muito além das fronteiras da diocese ambrosiana e chegam também ao flutuante magistério do Papa Francisco (aliás, jesuíta como Martini).
Não faltam páginas sobre suas relações com os papas de seu tempo, mas, além daquelas sobre suas relações com Paulo VI, há bem pouco para os outros: uma lacuna que mereceria ser preenchida com prudência, respeito e parrésia.
Agora o cardeal repousa em sua catedral de Milão, ao lado da capela com o grande Crucifixo tão amado por seu predecessor São Carlos Borromeu e por ele mesmo: de lá Martini continua a falar a quem quiser ser, como ele, homem de escuta humildade, sincera e orante; muitas páginas de Martini sobre a oração.
Também esse livro continua a propiciar-lhe aquela palavra que o havia dolorosamente abandonado no final da sua vida terrena.
Obrigado, portanto, ao teólogo ambrosiano Marco Vergottini e seu árduo trabalho; que inclusive, conseguiu manter o foco dos colaboradores principalmente sobre o legado espiritual do card. Martini.
Marco Vergottini (org.), La settima stanza del Cardinale. L’eredità di Carlo Maria Martini, ed. Solferino 2021, pág. 280, € 16,00.
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O legado de Martini. Artigo de Giovanni Giavini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU