04 Fevereiro 2022
“Aqueles que ainda se opõem a uma necessária reforma da Igreja não entenderam o desafio que temos pela frente”. Com essas palavras, ressaltadas pela maioria da mídia alemã, o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising, não encerra a polêmica história de abusos na Igreja Católica alemã, mas provavelmente abre uma nova fase de "confronto e reconstrução", conforme apontou ontem na coletiva de imprensa, na Academia Católica de Munique, comentando o relatório sobre abusos em sua Igreja local, divulgado na semana passada.
A reportagem é de Vincenzo Savignano, publicada por Avvenire, 28-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“A maior culpa - disse - é ter negligenciado as pessoas atingidas. Isso é imperdoável. Não tínhamos nenhum interesse real por seu sofrimento. Tenho uma responsabilidade moral por isso como arcebispo no cargo". Em seguida, dirigiu-se àqueles que sofreram os abusos: “Peço desculpas mais uma vez em nome da arquidiocese. São desculpas dirigidas às vítimas, mas também aos fiéis que agora duvidam da Igreja”.
Ele também dirigiu seus pensamentos “às comunidades paroquiais nas quais os responsáveis pelos abusos foram empregados”. “Não tivemos atenção suficiente para com essas paróquias, envolvendo-as”, observou. Marx também falou de "causas sistêmicas na raiz dos escândalos que não podem mais ser negados".
Entre 1945 e 2019, os advogados do escritório Westpfahl Spilker Wastl, por solicitação da própria arquidiocese de Munique, apuraram e documentaram em uma investigação de 1.900 páginas que pelo menos 497 menores foram vítimas de abusos sexuais por parte de sacerdotes e representantes da arquidiocese.
As vítimas são em sua maioria do sexo masculino, 60% entre 8 e 14 anos. 235 pessoas envolvidas: 173 padres, 9 diáconos, 5 representantes pastorais e 48 funcionários no âmbito escolar. Um dossiê que, segundo o cardeal, representa "uma profunda cesura para a arquidiocese e uma cesura também fora dela".
O próprio Marx, presidente emérito da Conferência Episcopal alemã, é acusado de erros de comportamento em dois casos em 2008. "Em pelo menos um caso eu me censuro por não ter agido ativamente", relatou ontem. Marx havia apresentado sua renúncia ao Papa Francisco em maio passado. "Mas o pontífice decidiu de outra forma, pedindo-me para continuar com responsabilidade o serviço", esclareceu diante da imprensa. Algo que "estou pronto a fazer" também em vista dos "próximos passos que devem ser dados para uma elaboração mais confiável, para uma maior atenção às vítimas e para uma reforma da Igreja", continuou.
O cardeal divulgou parte da carta enviada a Francisco, na qual citava, entre os motivos da decisão, "a catástrofe dos abusos sexuais cometidos por sacerdotes". Ontem o cardeal explicou que "se for considerado útil ou necessário, a qualquer momento estou pronto para renunciar ao mandato".
A intervenção do cardeal ocorre após o esclarecimento do Papa Emérito, Bento XVI, sobre o conhecimento dos fatos que remontam a 1980, quando Joseph Ratzinger liderava a arquidiocese de Munique e Freising. A investigação chamou em causa Ratzinger por supostos erros em quatro casos, que ele sempre negou. Respondendo a uma pergunta sobre as declarações do Papa Emérito, Marx afirmou: “Aceito que ele interprete os fatos de forma diferente sobre esse ponto, que ele se sinta desagradado. Acredito que ele vai se manifestar sobre toda a questão novamente. Isso seria uma coisa positiva e eu veria isso positivamente”. Ratzinger sofreu muitos ataques da mídia alemã nos últimos dias, especialmente do Bild.
O jornal nacional-popular, como muitas vezes acontece, surfa na onda midiática. No dia de sua eleição como Papa, 19 de abril de 2005, o Bild gritava para o mundo: "Wir sind Papst!" ("Nós somos o Papa!"), saudando o primeiro Pontífice alemão da história. "A Igreja Católica alemã agora está vivendo provavelmente o momento mais difícil de sua história moderna e contemporânea", comentou ontem o jornal progressista de Munique, Süddeutsche Zeitung. “Não haverá futuro para o cristianismo em nosso país se não houver renovação na Igreja”, concluiu o cardeal Marx.
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“A maior culpa é ter negligenciado as pessoas atingidas pelos abusos sexuais. Isso é imperdoável", afirma Cardeal Reinhard Marx - Instituto Humanitas Unisinos - IHU