16 Novembro 2021
Carrón conduziu ininterruptamente Comunhão e Libertação desde 2005, após a morte do fundador, e foi reconfirmado à frente da CL em 2008, 2014 e em 2020. A aceleração do passo para trás foi ditada pela guerra fria das últimas semanas com a Santa Sé. Bergoglio, de fato, recentemente colocou sob intervenção os Memores Domini, ou seja, os consagrados do movimento.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 15-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma rendição incondicional às diretrizes do Vaticano. No final, depois de um confronto que durou várias semanas com a Santa Sé e até com o Papa Francisco, o presidente da Comunhão e Libertação, dom Julián Carrón, renunciou. O sucessor direto de dom Luigi Giussani, fundador da CL em 1954, foi obrigado a aceitar a decisão irrevogável do Dicastério para os leigos, a família e a vida.
De acordo com o recente decreto emitido por esse órgão do Vaticano, de fato, os presidentes dos movimentos eclesiais não podem permanecer no cargo por mais de dez anos. Carrón liderou Comunhão e Libertação ininterruptamente desde 2005, ou seja, logo após a morte do fundador, e foi reconfirmado à frente da CL em 2008, em 2014 e em 2020 para um novo mandato de mais seis anos, que expiraria em 2026. As novas regras, porém, obrigaram-no a deixar o cargo até setembro de 2023.
A aceleração do passo para trás foi ditada pela guerra fria das últimas semanas com a Santa Sé. Bergoglio, de fato, recentemente colocou sob intervenção os Memores Domini, ou seja, os consagrados do movimento, que inclui também Roberto Formigoni e as quatro mulheres que assistem o Papa Emérito Bento XVI no mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano.
Uma decisão tomada em decorrência das graves falhas que emergiram na gestão do governo. Mas também pela desobediência da ex-presidente dos Memores Domini, Antonella Frongillo, e do próprio Carrón às diretrizes da Santa Sé. Imediatamente após a publicação do decreto do Dicastério para os leigos, a família e a vida que pôs fim às presidências vitalícias dos movimentos eclesiais, Carrón primeiro confirmou sua “plena disponibilidade para dar seguimento ao que lhe era pedido”.
Mas depois o cenário mudou e o confronto com o Vaticano começou. No dia 16 de setembro, Carrón e Frongillo não compareceram ao encontro dos líderes dos movimentos eclesiais com o Papa organizado pelo Dicastério presidido pelo cardeal Kevin Joseph Farrell. Em seu lugar, Carrón enviou o vice-presidente da CL, Davide Prosperi.
Daí a impossibilidade de a Santa Sé continuar um diálogo pacífico com os líderes em saída do movimento. Se para os Memores Domini o Papa nomeou como seu delegado especial o arcebispo de Taranto, monsenhor Filippo Santoro, ele também membro da CL, agora o novo presidente da Comunhão e Libertação deverá ser eleito de acordo com as disposições do novo decreto do Vaticano.
O passo para trás de Carrón ocorre no final de um cabo-de-guerra que inevitavelmente levaria o Papa colocar sob intervenção toda a CL. “Neste momento tão delicado da vida do movimento - escreve o sacerdote na carta em que comunica a sua decisão - decidi apresentar a minha renúncia ao cargo de presidente da fraternidade da Comunhão e Libertação, para favorecer a mudança da direção a que somos chamados pela Santo Padre, através do decreto sobre o exercício do governo dentro dos movimentos, se desenvolva com a liberdade que tal processo requer. Isso levará cada um a assumir pessoalmente a responsabilidade pelo carisma.
Foi uma honra para mim - continua Carrón - exercer esse serviço durante anos, uma honra que me enche de humilhação pelas minhas limitações e caso tenha falhado para com algum de vocês. Agradeço a Deus pelo dom da companhia de que usufrui, perante o espetáculo do vosso testemunho quotidiano, com o qual aprendi constantemente e com o qual quero continuar a aprender. Almejo que vivam esta circunstância como oportunidade para o crescimento de vossa autoconsciência eclesial, para continuar a testemunhar a graça do carisma doado pelo Espírito Santo a Dom Giussani, que faz de Cristo uma presença real, persuasiva e determinada, que nos investiu e nos arrastou para dentro de um fluxo de vida nova, para nós e para o mundo inteiro”.
A renúncia de Carrón ocorre poucos dias após a saída de um dos expoentes mais importantes do movimento, o cardeal Angelo Scola, do futuro conclave. O purpurado em 2011 foi transferido por Bento XVI da sé patriarcal de Veneza para aquela arcebispal de Milão também graças ao apoio do agora ex-presidente da CL.
Certamente, se ele tivesse sido eleito Papa no conclave de 2013, Scola não teria obrigado Carrón a renunciar, nem teria posto sob intervenção os Memores Domini, nem jamais teria tido com os membros do seu movimento os tons mordazes de Bergoglio: “Sair também significa rejeitar a autorreferencialidade, em todas as suas formas, significa saber ouvir quem não é como nós, aprendendo com todos, com humildade sincera. Quando somos escravos da autorreferencialidade, acabamos cultivando uma 'espiritualidade de etiqueta': 'Eu sou Cl'. Essa é a etiqueta.
E assim caímos nas mil armadilhas que nos oferece a complacência aautorreferencial, aquele jeito de nos olharmos no espelho que nos leva a ficar desorientados e a nos tornarmos meros empresários de uma ONG”. Palavras claras que sempre marcaram a profunda distância entre Francisco e dom Giussani. Ao contrário de Ratzinger que, poucas semanas antes de ser eleito Papa, no dia 24 de fevereiro de 2005, celebrou suas exéquias na catedral de Milão.
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Comunhão e Libertação - CL, padre Julián Carrón renuncia à presidência: a rendição incondicional às diretrizes do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU