Movimento Comunhão e Libertação (CL). Carrón, um líder relutante, mas capaz de aplainar montanhas

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22 Agosto 2017

O Pe. Julián Carrón, o teólogo e linguista espanhol sucessor do Pe. Giussani, é o protótipo do líder relutante. Em Rimini, no programa oficial do Meeting [organizado pelo movimento Comunhão e Libertação], não está previsto nenhum discurso dele, mas a transformação do Comunhão e Libertação que foi lançada nos últimos dois anos obteve o sucesso pleno.

A reportagem é de Dario Di Vico, publicada por Corriere della Sera, 21-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A palavra de ordem da passagem “da hegemonia ao testemunho” – na prática, o abandono do formigonismo [referente a Roberto Formigoni] e da extrema proximidade com o poder – se afirmou totalmente, e o resultado não era óbvio.

O sucesso da linha Carrón é tamanho que, nas próximas eleições políticas, o voto dos ciellini [os membros do Comunhão e Libertação] se apresenta, pela primeira vez, absolutamente livre. O movimento não dará nenhuma indicação, e o julgamento será deixado totalmente aos indivíduos ou, melhor, para o usar o léxico certo, “às pessoas”.

Para uma organização que, nos últimos anos, estava perto demais da política e que logo sofreu plenamente o fascínio de Giulio Andreotti, antes, e de Silvio Berlusconi, depois, é uma reviravolta radical. A paixão política se transformou em uma reflexão articulada sobre o espaço público e sobre o bem comum. O interlocutor é sempre a administração, tanto central quanto periférica, independentemente da cor e, mesmo assim, sem querer construir a todo o custo relações privilegiadas. “Eu compro os sapatos se os sapatos forem bons”, parece que Carrón disse para encerrar a discussão.

Esse é o espírito com o qual, nesse domingo, o Meeting acolheu e aplaudiu Paolo Gentiloni, apreciando, acima de tudo, o seu perfil institucional, não de homem parcial. Em virtude dessa novidade – no passado, o Comunhão e Libertação organizava o controle das preferências in loco, mais ou menos como o velho Partido Comunista Italiano – é fácil pensar que o voto dos ativistas e simpatizantes se distribuirá predominantemente em três partidos (Forza Italia, Area Popolare e Partido Democrático), enquanto muito difícil que o Cinque Stelle reúna consensos significativos.

É muito forte entre os ciellini – dizem no Meeting – o respeito até mesmo formal pelas instituições e a convicção da política como serviço, para ceder às invectivas de Beppe Grillo. Além disso, na distribuição dos consensos, muito vai depender de quais serão os temas-chave do voto, quanto peso terão – por exemplo – as questões da imigração e do acolhimento.

Também nas relações com as hierarquias eclesiásticas, tudo mudou em relativamente pouco tempo. Uma vez, havia o Movimento, a Conferência Episcopal Italiana, os bispos ciellini e o papa: um quadrilátero de relações cruzadas, do qual o Meeting registrava as mínimas oscilações e implementava os relativos movimentos diplomáticos.

Hoje, em cena, só está o Papa Bergoglio, e o Comunhão e Libertação se reflete plenamente no seu magistério, pondo de lado primados e separatismos. Os novos ciellini, “bondosos” e menos presunçosos, não se consideram mais os primeiros da turma e começaram a dialogar com as outras associações, como a Ação Católica, a Cáritas e as Acli, e iniciativas que, antes, tinham uma forte marca ciellina, como a Colletta Alimentare, estão se tornando, pouco a pouco, projetos de todos.

No nível das relações de força internas, está se invertendo a relação centro/periferia, onde antes o centro era Milão, e a periferia, o mundo: hoje, o Comunhão e Libertação organiza meetings como os de Rimini em pelo menos outras cinco ou seis cidades do planeta (incluindo Nova York).

Quanto aos organogramas, conta-se que também estão mudando, mas quem observa as presenças no palco dos vários debates do Meeting, honestamente, não tem essa percepção.

Se a receita de Carrón é menos política e mais obras, estas últimas correspondem cada vez menos à atividade da Companhia das Obras (que, mesmo assim, para muitos jornais, ainda evoca os famosos contratos) e cada vez mais a uma presença social no bem-estar, na formação e na integração cultural dos imigrantes, com cursos de italiano e aulas de reforço escolar para as crianças.

Família e educação certamente continuam sendo os temas mais caros aos ciellini – uma espécie de demanda social “branca” –, mas não se fala mais como antigamente de ocupar as praças ou de ser sentinelas, enquanto, paralelamente, cresce a atenção aos temas da justiça social e do sentido da vida e da dor.

Carrón pode ser um líder relutante, mas aplainou as montanhas.

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