16 Setembro 2021
Mesmo que o voo de Bratislava para Roma seja um tanto curto, o Papa Francisco respondeu de bom grado às perguntas dos jornalistas. Os temas que ele abordou são todos importantes: o futuro do cristianismo na Europa, a questão do aborto e da comunhão aos políticos católicos que apoiam as leis abortistas (um argumento que está dividindo os Estados Unidos, já que o presidente católico Biden é abertamente abortista), a divisão que apareceu entre os no-vax e aqueles que consideram essas medidas necessárias para erradicar a covid-19 (mesmo entre cardeais) e, finalmente, a grande questão das uniões homoafetivas. Este último argumento torna-se ainda mais urgente pela posição europeia que, numa resolução, afirma que os casamentos e as uniões registadas num dos países membros seriam válidos em toda a União.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 15-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“O matrimônio é só entre um homem e uma mulher: é um sacramento e a Igreja não tem o poder de mudar os sacramentos como os Senhor os instituiu. Mas existem leis civis que tentam ajudar a situação de muitas pessoas de diferentes orientações sexuais. É importante ajudar as pessoas, mas sem impor coisas que, por sua natureza, não cabem na Igreja”. O Papa também deu o exemplo da lei francesa sobre os Pacs, em sua opinião aceitável com uma condição: “sem que isso tenha a ver com o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo: podem usá-los, mas o matrimônio como sacramento é homem-mulher”. Mais ainda. “Eu falei claramente: o matrimônio é um sacramento e a Igreja não tem o poder de mudar os sacramentos como o Senhor os instituiu. Existem leis civis que tentam ajudar a situação de muitas pessoas de diferentes orientações sexuais. É importante que sejam ajudados, mas sem impor coisas que na igreja por sua natureza não cabem. Se duas pessoas homossexuais querem viver juntas, os Estados têm a possibilidade civil de apoiá-la, para lhes dar segurança de herança e saúde. Mas o matrimônio é matrimônio e não significa condená-los, por favor, são irmãos e irmãs e devemos acompanhá-los, mas é claro, o matrimônio é homem e mulher, devemos respeitar a todos, mas a igreja não pode renegar a sua verdade. Muitos se aproximam para pedir conselhos aos sacerdotes que os ajudem a seguir em frente com sua vida”.
Papa Francisco reiterou que nada mudou para a Igreja: o aborto continua sendo "um homicídio". E acrescentou que é como "contratar um assassino para resolver um problema". No entanto, na tempestade que foi levantada por tantos bispos estadunidenses que se recusam a dar a comunhão aos políticos que defendem a possibilidade de escolha das mulheres, o Papa especifica: “os bispos devem agir como pastores: na história da Igreja, sempre que o os bispos lidaram com um problema não como pastores, tomaram partido no lado político”. Para o Papa, a comunhão “não é um prêmio para os perfeitos, a comunhão é um dom, um presente, a presença de Jesus na Igreja e na comunidade. Além disso, quem não está na comunidade não pode comungar porque está fora da comunidade, não foi batizado ou se afastou”.
O Papa Francisco lastimou que também existem antivax no Vaticano. “Até no colégio cardinalício há negacionistas e um destes, coitado, está hospitalizado com o vírus... ironia da vida”, referindo-se ao cardeal Raymond Burke, internado na UTI. Em seguida, repetiu que "vacinar-se é um ato de amor" e os cristãos devem levar isso em consideração.
No voo, o Papa recebeu uma mensagem da escritora judia que sobreviveu ao Holocausto, Edith Bruck (“Amado Papa Francisco, as Suas palavras sobre o antissemitismo nunca erradicado hoje são mais atuais que nunca, não só nos países que está visitando, mas em toda a Europa. Espero que a Sua visita tenha algum efeito positivo”). Francisco balançava a cabeça concordando: “É verdade, o antissemitismo está na moda, está ressurgindo. É algo ruim".
No encontro em Budapeste com o primeiro-ministro húngaro, ele disse que falou sobre muitas coisas, mas que nunca abordou o tema dos migrantes. “O primeiro tema foi a ecologia, palmas para os húngaros, que tem realmente uma consciência ecológica muito grande. Depois perguntei sobre a idade média, estou preocupado com o inverno demográfico. Na Itália a média é de 47 anos e acredito que na Espanha seja ainda pior, tantos vilarejos estão vazios, é uma preocupação séria. O presidente explicou-me a lei para ajudar os jovens casais com os filhos. Nada se falou sobre a imigração. Falamos de família, no sentido de se vê que há muitos jovens, muitas crianças, mesmo na Eslováquia. Agora o desafio é procurar emprego para que não saiam à procura de trabalho. Foi um clima bom, durou uns 50 minutos”.
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Papa Francisco: “Vacinas, há negacionistas até entre os cardeais. Matrimônio só homem-mulher, mas uniões civis homoafetivas possíveis” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU