20 Janeiro 2021
Uma publicação feminina do Vaticano criticou suavemente os recentes comentários do Papa Francisco sobre a nomeação de mulheres para posições de autoridade na Igreja Católica, dizendo que o pontífice tocou em um “ponto sensível” ao alertar novamente contra a chamada clericalização das mulheres.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada em National Catholic Reporter, 19-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O caderno "Donne Chiesa Mondo", suplemento mensal do jornal L’Osservatore Romano do Vaticano, publicou um comentário em sua edição de janeiro sobre o livro do fim de 2020, “Vamos sonhar juntos: o caminho para um futuro melhor” (Ed. Paulus), um esforço colaborativo entre Francisco e o autor britânico Austen Ivereigh.
O comentário, de autoria da ex-jornalista da Rádio Vaticano Romilda Ferrauto e publicado na última página do caderno, elogia as palavras de Francisco no livro sobre os seus esforços para nomear mais mulheres para cargos vaticanos.
Mas também diz que a advertência posterior do pontífice contra a “clericalização” das mulheres, uma admoestação que Francisco repetiu ao longo de seus oito anos de papado, “toca um ponto sensível em que se condensam desconfiança, medos e resistências”.
“Vai ao cerne das perplexidades presentes em algumas alas do universo católico e além dele, em relação à exclusão das mulheres dos ministérios ordenados e à sua talvez consequente subordinação”, escreve Ferrauto.
Francisco tem lutado ao longo de quase todo o seu papado para incluir mais as mulheres na estrutura de liderança e nos ministérios da Igreja Católica, e tem reafirmado repetidamente a proibição do Papa João Paulo II em relação à ordenação de mulheres ao sacerdócio.
O papa também alertou contra a “clericalização” das mulheres em seu documento de fevereiro de 2020 em resposta ao Sínodo dos Bispos do Vaticano sobre a região amazônica, dizendo que não queria que a Igreja restringisse sua compreensão de si mesma a uma consideração apenas das suas “estruturas funcionais”.
“Este reducionismo levar-nos-ia a pensar que só se daria às mulheres um status e uma participação maior na Igreja se lhes fosse concedido acesso à Ordem sacra”, disse ele no documento. “Mas, na realidade, este horizonte limitaria as perspectivas, levar-nos-ia a clericalizar as mulheres.”
Em “Vamos sonhar”, o papa parece oferecer a sua primeira defesa pública sobre a nomeação de mulheres para cargos de autoridade. Ele aponta especialmente para a sua nomeação em 2016 da italiana Barbara Jatta para liderar os Museus Vaticanos e para várias outras mulheres que ele nomeou como subsecretárias dos dicastérios vaticanos.
“Talvez por causa do clericalismo, que é uma corrupção do sacerdócio, muitas pessoas acreditem erroneamente que a liderança da Igreja é exclusivamente masculina”, afirma o papa no livro.
“Dizer que elas não são líderes de verdade porque não são padres é clericalismo e desrespeitoso”, acrescentou.
Ferrauto escreve que as críticas das mulheres aos comentários de Francisco “não foram muitas, mas foram duras”. Ela menciona uma declaração da Women’s Ordination Conference e os comentários de Anne Soupa, uma teóloga francesa que se candidatou junto à embaixada do Vaticano em Paris em 2020 para ser a próxima arcebispa de Lyon.
“Para Francisco, dizer que na realidade as mulheres não governam porque não são sacerdotes é clericalismo e desrespeitoso”, escreve Ferrauto.
“O fato é que, como já foi sublinhado muitas vezes, a reflexão sobre a vida cristã feminina obriga a levantar a questão do sacerdócio em termos de poder e de equilíbrio dos poderes, e a realidade do sacerdócio ministerial, na sua relação com o sacerdócio batismal”, continua ela.
O restante da edição de janeiro de 2021 do caderno “Donne Chiesa Mondo” é amplamente dedicado ao trabalho das religiosas católicas em todo o mundo. Ele traz o tema: “Irmãs: hoje não é ontem”, e foca o modo como as irmãs são diferentes das imagens frequentemente mostradas sobre elas nos filmes populares.
Entre os perfis de irmãs proeminentes hoje estão figuras como a Ir. Norma Pimentel, das Irmãs Missionárias de Jesus e diretora executiva da Catholic Charities do Vale do Rio Grande, nos EUA; a irmã e assistente social Simone Campbell, diretora executiva do grupo Network, com sede em Washington; e a irmã salesiana Alessandra Smerilli, uma das cinco conselheiras oficiais da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano.
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Publicação vaticana critica Francisco por tocar em “ponto sensível” da liderança feminina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU