30 Novembro 2020
No dia da nomeação dos novos cardeais, Francisco fala de improviso e convida a pensar nos “tantos tipos de corrupção na vida sacerdotal”.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por L’Huffington Post, 29- 11-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Havia um “convidado de pedra” na Basílica de São Pedro na tarde desse sábado, 28, durante o Consistório público realizado pelo papa para a “criação” de 13 novos cardeais (e a palavra usada por Deus Criador já indica que, de algum modo, os prelados escolhidos vêm de novo para a luz).
Era Angelo Becciu, que há dois anos recebera o barrete cardinalício, de cor vermelho-púrpura, cor do sangue (porque os escolhidos pelo pontífice juram que estão prontos para o derramar pelo papa e pela Igreja), e que lhe foi “retirado” no fim de setembro após o escândalo financeiro do edifício de Londres.
Falando da púrpura dos novos cardeais, Francisco não podia ter sido mais explícito no decorrer de uma solene cerimônia religiosa: “O vermelho-púrpura do hábito cardinalício, que é a cor do sangue, pode se tornar, para o espírito mundano, o de uma eminente distinção. Continuamos apenas eminência, mas esse é o sinal de que estamos fora do caminho”.
A pessoa continua “eminência”, mas está “fora do caminho”. O papa acrescentou de improviso ao texto já preparado: “Pensemos nos tantos tipos de corrupção da vida sacerdotal”. Quase um grito de dor. Uma passagem de grande significado que não pode deixar de recordar os escândalos da Igreja.
Dois dos novos cardeais substituem os cargos que Dom Becciu ocupava (na Congregação para as Causas dos Santos e na Ordem de Malta).
Toda a homilia se centrou na explicação do relato do Evangelho de Marcos, ambientado na estrada que leva a Jerusalém. “A estrada é o ambiente em que se desenrola a cena descrita pelo evangelista Marcos (cf. 10,32-45). E é o ambiente em que sempre se realiza o caminho da Igreja: a estrada da vida, da história, que é história de salvação”, disse o papa.
Mas dois se destacam no grupo dos Apóstolos, Tiago e João. “Aproximam-se de Jesus e lhe expressam o seu desejo: ‘Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda’ (v. 37). Esta – comenta o papa – é outra estrada. Não é a estrada de Jesus, é outra. É a estrada de quem, talvez sem sequer se dar conta, ‘usa’ o Senhor para promover a si mesmo; de quem – como diz São Paulo – busca os seus próprios interesses e não os de Cristo (cf. Fl 2,21)”.
“Jesus – continua Francisco –, depois de escutar Tiago e João, não se altera, não se zanga. A sua paciência é verdadeiramente infinita. E responde: ‘Vocês não sabem o que estão pedindo’ (v. 38). Ele os desculpa, em certo sentido, mas ao mesmo tempo os acusa: ‘Vocês não se dão conta de que estão fora da estrada’. Com efeito, logo depois, serão os outros dez apóstolos que demonstrarão, com a sua reação indignada aos filhos de Zebedeu, que todos estavam tentados a sair da estrada. Caros irmãos, todos nós amamos a Jesus, todos queremos segui-lo, mas devemos estar sempre vigilantes para permanecer na sua estrada. Porque, com os pés, com o corpo, podemos estar com Ele, mas o nosso coração pode estar longe e nos levar para fora da estrada.”
“La Strada” é a obra-prima de Federico Fellini que Francisco declarou várias vezes ser o seu filme preferido e que ele também citou em junho passado aos jovens do projeto internacional Scholas Ocurrentes. “Eu me identifico com esse filme em que há uma referência implícita a São Francisco”. Dois dos novos cardeais são franciscanos.
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Becciu, o “convidado de pedra” no consistório - Instituto Humanitas Unisinos - IHU