Dos ‘fratelli tutti’ do Papa aos ‘fratelli coltelli’ (irmãos traiçoeiros) na Cúria

Edifício na Sloane Avenue, em Londres. | Foto: Twitter/Reprodução

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

05 Outubro 2020

Enquanto o Papa, pela primeira vez após o lockdown, deixa o Vaticano para assinar sua terceira encíclica em Assis, Fratelli tutti, nos sagrados palácios o clima é de confronto final. As investigações da promotoria da Santa Sé sobre a compra do prédio da Avenida Sloane pela Secretaria de Estado não só revelaram um giro de negócios de centenas de milhões de euros, mas inflamaram o confronto entre as várias facções no Vaticano.

A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 04-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

O caso Becciu

A repentina destituição do cardeal Angelo Becciu do cargo de prefeito da Congregação para as Causas dos Santos foi que acendeu o pavio. Mas sobretudo a decisão de Bergoglio de privá-lo também dos direitos ligados ao cardinalato, impedindo-o de votar no próximo conclave. Um movimento que desalojou os seguidores do ex-substituto da Secretaria de Estado. É evidente, de fato, que Becciu teria desempenhado um papel fundamental na Capela Sistina entre os dois principais e atuais candidatos italianos à sucessão de Bergoglio. De um lado, o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, e do outro o Cardeal Arcebispo de Bolonha, Matteo Maria Zuppi, que cresceu na Comunidade de Santo Egídio.

Certamente Becciu não poderá representar no conclave o partido dos descontentes de Francisco entre os quais estão três nostálgicos cardeais da Cúria: Gerhard Ludwig Müller, Raymond Leo Burke e Robert Sarah. Aos quais podemos acrescentar também Angelo Comastri, afastado e submetido a investigação no caso dos contratos da Fábrica de São Pedro, e Fernando Filoni, antecessor de Becciu na Secretaria de Estado, a quem o Papa destituiu prematuramente como prefeito da Congregação para a evangelização dos povos.
Parolin, o papável.

No momento em que a Secretaria de Estado é abalada por um escândalo financeiro sem precedentes, é inevitável a repercussão sobre Parolin. Sempre foi considerado um papável perfeito, também por causa de sua carreira curial antes de retornar a Roma da Venezuela, para onde foi enviado como núncio por Bento XVI por vontade de seu predecessor direto, o cardeal Tarcisio Bertone. Aparentemente seu perfil não sofreu desgaste, mas é óbvio que excessiva mansidão de Parolin, que não escondeu o fato de ter sido informado pelo noticiário do afastamento de Becciu, pode virar contra ele.

Zuppi avança

O peso de Zuppi cresce e, apesar de ter criticado a forma como Becciu foi demitido, ele se apresenta cada vez mais como mediador. O episcopado italiano já o vê no seu vértice quando o cardeal arcebispo de Perugia-Città della Pieve, Gualtiero Bassetti, hoje com 78 anos, decidir se aposentar. Zuppi presidente do CEI e depois Papa é o cenário que muitos nos sagrados palácios consideram possível. Duas cartas jogam principalmente a favor do cardeal: a notoriedade internacional num momento em que muitos cardeais não se conhecem, e o fato de ele não ter vínculos, exceto pertencer à Comunidade de Santo Egídio.

O peso de Ratzinger

No entanto, não devemos subestimar o papel do cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, que Bergoglio chamou de Manila como prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. O cardeal filipino, pupilo de Ratzinger que quis nomeá-lo cardeal em seu último consistório, também foi considerado papável no conclave que mais tarde elegeu Bergoglio. Ele é certamente um homem que pode representar uma síntese entre os diferentes ânimos da Igreja, especialmente dentro do Vaticano. De fato, a defenestração de Becciu recompactou repentinamente a Cúria Romana contra o Papa. Uma aversão que já perdura desde o Natal de 2014, quando Francisco apontou o dedo para seus colaboradores mais próximos ao falar de 15 doenças curiais.

O retorno de Pell

Entre os vencedores do momento está certamente o cardeal George Pell, ex-prefeito do Secretariado da Economia, absolvido das acusações de pedofilia e que recentemente voltou a Roma para ser reabilitado. Mas a sua idade e seus modos rudes nunca lhe deram seguidores, especialmente na Cúria.

Por fim, não se deve esquecer dois importantes outsiders, como o cardeal vigário de Roma, Angelo De Donatis, e o Patriarca de Bagdá, Louis Raphaël I Sako. Duas figuras em torno das quais logo poderia se registrar um notável consenso.

 

Leia mais