26 Setembro 2020
Um acerto de contas no Vaticano. O cardeal George Pell, ex-superprefeito do Dicastério da Economia, afastado pelo papa para enfrentar um processo de pedofilia na Austrália, do qual foi depois absolvido, enviou na manhã dessa sexta-feira, 25, uma declaração lapidar sobre a demissão do cardeal Angelo Becciu: “O Santo Padre foi eleito para limpar as finanças vaticanas. Ele fez um longo trabalho e deve ser agradecido e parabenizado pelos recentes desdobramentos. Espero que a limpeza continue tanto no Vaticano quanto em Victoria”.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 25-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Pell se referia ao Estado australiano de Victoria, referindo-se ao lugar onde evidentemente alguém, na opinião dele, teria orquestrado a armadilha que o levou ao processo por abuso. Pell sempre se declarou inocente e, há três anos, quando teve que deixar o Vaticano e as suas prerrogativas a respeito da sua imunidade (a pedido do papa) para enfrentar os juízes e as pesadas acusações, ele o fez convencido de que seria absolvido.
Nos meses que antecederam a sua partida do Vaticano, consumaram-se enormes lutas internas entre o seu dicastério da economia e a Secretaria de Estado, dirigida pelo cardeal Parolin e pelo substituto, Becciu.
Com este último, Pell teve confrontos muito duros. Na origem, havia duas visões diferentes sobre a gestão do Óbolo de São Pedro. Becciu e Parolin defendiam a autonomia financeira da Secretaria de Estado, como sempre foi desde os tempos de Pio XI, enquanto Pell visava a um controle centralizado de todos os recursos financeiros existentes, desde os da Secretaria de Estado aos da APSA.
A visão administrativa de Pell, de marca anglo-saxônica, tinha como objetivo uma reforma total do sistema econômico dentro do Vaticano, visando à transparência total de acordo com os critérios corporativos modernos.
O então substituto, Becciu, se opunha a essa abordagem, afirmando que não se podia transformar o Estado da Cidade do Vaticano em uma espécie de multinacional. A declaração do cardeal Pell vem de longe e contribui para incendiar ainda mais uma passagem confusa, sobre a qual a magistratura vaticana está investigando.
A investigação que levou o papa a pedir a renúncia de Becciu e o abandono das prerrogativas cardinalícias foi o confronto ocorrido no ano passado entre o IOR e a Secretaria de Estado.
O nome de Becciu havia sido trazido à tona no ano passado, quando estourou o caso do prédio londrino comprado pelo Vaticano em 2012 para investir o dinheiro do Óbolo. A investigação havia começado após um confronto entre o atual substituto da Secretaria de Estado, o venezuelano Peña Parra (que substituiu Becciu em 2018), e o diretor do IOR, Franco Mammì, pelo controle das substâncias geridas autonomamente pela Secretaria de Estado.
Peña Parra pedia ao IOR um empréstimo para quitar um empréstimo oneroso contraído durante uma das mudanças de propriedade. O IOR não o concedera, e foi aí que tudo começou. Os magistrados sempre levantaram a hipótese de que, entre uma mudança de propriedade e outra, alguém teve a oportunidade de enriquecer.
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Cardeal Pell parabeniza o papa por ter demitido Becciu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU