O paraíso é fiscal: a caixa de Pandora aberta pelo “caso Becciu”

Angelo Becciu. | Foto: Twitter/Gloria TV

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05 Outubro 2020

Um pouco como a mítica caixa de Pandora que, uma vez aberta, despejou sobre o mundo todos os males que continha, a repentina demissão do cardeal Becciu, que perdeu as prerrogativas do cardinalato e a liderança da Congregação para as Causas dos Santos, abriu e revelou uma série de roubos, especulações e maquinações que começam na Cidade do Vaticano e terminam em Londres e em alguns paraísos fiscais.

A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 02-10-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Uma rede de prelados, financistas e banqueiros que teriam desenvolvido e implementado um plano sistemático de saque dos recursos vaticanos, particularmente aqueles geridos pela Secretaria de Estado – incluindo os fundos do Óbolo de São Pedro –, para um giro de negócios de centenas de milhões de dólares.

Desde os tempos de Dom Marcinkus e Sindona em diante, não há ninguém que pense que o Vaticano e os seus órgãos financeiros são palácios de vidro transparentes e cristalinos. Portanto, nada de novo debaixo da cúpula de São Pedro.

Agora, porém, com as investigações e os documentos da magistratura vaticana – e esta talvez seja a única novidade positiva dos últimos anos – e italiana, vai se delineando uma rede intrincada e complexa, extremamente difícil de reconstruir, que evidencia a existência de um verdadeiro sistema.

Tudo começa com o famoso prédio da Sloane Avenue 60, em Londres, cujos procedimentos de compra, com custos crescentes desmedidamente ao longo do tempo, foram iniciados quando estavam na Secretaria de Estado o cardeal Bertone e Becciu, que confiaram no financista Raffaele Mincione e no banqueiro Enrico Crasso (Credit Suisse).

Mas o prédio londrino, segundo os investigadores, teria sido apenas o início de “uma manobra bem planejada para realizar uma enorme depredação de recursos financeiros da Secretaria de Estado que não tem igual”, razão pela qual, neste momento, 15 pessoas estão sendo investigadas – prelados e empregados da Secretaria de Estado (mas nem Becciu, nem Bertone), financistas, banqueiros – por peculato e corrupção.

“A Secretaria de Estado – escrevem os magistrados vaticanos – recorreu a uma complexa estrutura financeira realizada para não tornar visível o desvio realizado”, usando o dinheiro para especulações imobiliárias e desviando-o para contas e fundos estrangeiros. As investigações deverão ser longas e, acima de tudo, extremamente complicadas.

Enquanto isso, também chegaram ao Vaticano os inspetores do Moneyval, o órgão do Conselho da Europa que avalia a transparência financeira e os padrões de combate à lavagem de dinheiro dos Estados.

 

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