03 Outubro 2020
O cardeal australiano George Pell, absolvido em um caso de pedofilia na Austrália e recém-chegado a Roma, afirma em um livro escrito na prisão que seu “conservadorismo” pode ter “exacerbado a hostilidade popular”.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 02-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em trechos publicados na quinta-feira na revista religiosa italiana Il Timone, o ex-secretário de finanças do papa Francisco relatou sua estada em uma cela de prisão de Melbourne, de sete metros por dois, na mesma seção que um “terrorista muçulmano” e outros detentos que “gritavam desesperadamente à noite”.
O cardeal, que em março de 2019 relatou sua emoção ao receber em apenas um dia 80 cartas de apoio, confirma seu grande apego aos valores conservadores da Igreja e avalia que suas posições o podem ter prejudicado.
“Meu conservadorismo social e a defesa da ética judaico-cristã exacerbaram a hostilidade popular, especialmente entre os militantes leigos”, considera.
O cardeal, que em 2002 se recusou a dar a comunhão a casais homossexuais na Austrália, comenta com preocupação sobre a legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo em seu país, ocorrida em 2017 após um referendo.
Seu livro será publicado em inglês nos Estados Unidos pela Ignatius Press na próxima primavera.
O ex-secretário de Economia do papa Francisco chegou a Roma da Austrália na quarta-feira, após uma ausência de três anos.
O cardeal foi condenado em março de 2019 a seis anos de prisão por estupro e agressão sexual contra dois coroinhas em 1996 e 1997 na Catedral de São Patrício em Melbourne, onde foi arcebispo.
Sua condenação, mantida depois da apelação, foi finalmente anulada pelo Tribunal Superior da Austrália, que o absolveu no último mês de abril de cinco acusações de violência sexual, sob o benefício da dúvida.
Pell ficou preso por mais de um ano.
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George Pell afirma ter sofrido “hostilidade popular” por causa do seu “conservadorismo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU