17 Setembro 2020
O papa Francisco falará sobre o uso da crise do coronavírus como uma oportunidade para repensar a economia, a política e o meio ambiente quando se dirigir à Assembleia Geral da ONU por mensagem de vídeo em 21 de setembro. Ele explicará como a crise pode ser usada de uma forma que beneficie a humanidade e a terra.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por Catholic News Service, 15-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Desde que a covid-19 foi oficialmente reconhecida como uma pandemia no início de março, o Papa tem instado indivíduos, organizações e governos a reconhecer as desigualdades que a pandemia destacou na economia e no acesso a cuidados de saúde e educação, bem como os padrões atuais da produção e o consumo têm prejudicado o meio ambiente.
O papa Francisco deu início a uma série de palestras para a audiência geral no mês passado sobre os princípios do ensino social católico que podem ajudar o mundo a se recuperar da pandemia e avançar de uma forma que seja melhor para os seres humanos e para o meio ambiente.
Ele falou sobre transformar “as raízes de nossas enfermidades físicas, espirituais e sociais e as práticas destrutivas que nos separam uns dos outros, ameaçando a família humana e nosso planeta”.
Durante uma coletiva de imprensa em Rieti, Itália, para lançar uma celebração marcante na vida de São Francisco de Assis, dom Domenico Pompili respondeu a um comentário sobre a cooperação inter-religiosa dizendo que o papa Francisco estava preparando uma nova encíclica sobre a fraternidade humana, uma frase usada para um documento sobre diálogo inter-religioso e cooperação assinado em 2019 pelo papa Francisco e o xeque Ahmad el-Tayeb, Grande Imã de Al-Azhar.
Uma encíclica social sobre uma visão pós-Covid seria construída sobre a afirmação de que todos os seres humanos foram criados por Deus com igual dignidade e que as soluções para os problemas mais urgentes do mundo devem ser encontrados juntos e devem beneficiar a todos.
Em uma longa entrevista, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, foi questionado sobre quais princípios do ensino social católico poderiam ajudar a economia global a se recuperar da pandemia e de seus bloqueios.
“A prioridade não é a economia como tal, mas a pessoa humana”, respondeu Parolin a Carlo di Cicco, ex-editor assistente do jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano.
A entrevista foi publicada por Riparte L'Italia, uma revista online de um think tank econômico e social.
“A covid-19 não apenas provocou uma crise de saúde, mas impactou vários aspectos da vida humana: família, política, trabalho, negócios, comércio, turismo, etc.”, disse o cardeal Parolin. “O caráter amplo e interconectado da pandemia nos lembra constantemente da observação do papa Francisco de que tudo está conectado”.
O cardeal disse que aceita a ideia de que a economia não é tudo, nem é a única explicação para que tantos governos nacionais e locais tenham ordenado bloqueios para evitar a propagação do coronavírus: “Mostra que a prioridade não é a economia, mas a pessoa”.
No entanto, disse ele, para a Igreja Católica não basta se preocupar com a saúde física de uma pessoa. Deve-se cuidar da integridade da pessoa humana, o que significa cuidar também da saúde espiritual, política e econômica da pessoa, afirmou.
Especialmente desde o ensino de João XXIII sobre a pacificação em face da corrida armamentista nuclear, disse o cardeal Parolin, o ensino social católico enfatizou a interdependência das nações.
A pandemia revelou “nossa fraqueza comum, nossa fragilidade compartilhada”, disse ele. “Porém, em vez de fomentar a cooperação para o bem comum universal, vemos cada vez mais muros se erguendo ao nosso redor, exaltando as fronteiras como garantia de segurança e praticando violações sistemáticas da lei, mantendo uma situação de conflito global permanente.
Como o papa Francisco lembrou em Nagasaki (em novembro), os gastos com armas atingiram seu pico em 2019, e agora existe um sério risco de que, após um período de declínio, inclusive devido a restrições relacionadas à pandemia, continue a aumentar”, ele disse.
Mas, disse ele, a pandemia demonstra que o que é necessário é amizade e benevolência, em vez de ódio e medo.
A doutrina social católica, disse o cardeal, tem bases bíblicas, teológicas e antropológicas firmes e pode ser continuamente atualizada para responder a novas necessidades e situações.
Ao falar sobre economia, afirmou, as duas encíclicas sociais papais mais recentes são fundamentais: a Caritas in Veritate, de 2009 do papa Bento XVI e a Laudato Si': sobre o cuidado com a casa comum, de 2015 do papa Francisco.
“Bento XVI falou de uma economia em que se deve abrir espaço para a lógica do dom, o princípio da gratuidade, que expressa não só a solidariedade, mas ainda mais a fraternidade humana”, disse o cardeal. “Francisco relançou o tema do desenvolvimento humano integral no contexto de uma ecologia integral, que é ambiental, econômica, social, cultural, espiritual”.
“Hoje a pandemia está causando um tremendo choque em todo o sistema econômico e social e suas supostas certezas em todos os níveis. Os problemas do desemprego são e serão dramáticos, os problemas de saúde pública exigem a revolução de todos os sistemas de saúde e educação, e o papel dos Estados e das relações entre as nações está mudando”, disse o cardeal Parolin.
“A Igreja se sente chamada a acompanhar a complicada jornada que se apresenta a todos nós como família humana. Ela deve fazer isso com humildade e sabedoria, mas também com criatividade”.
Em outras palavras, disse ele, existem princípios de referência sólidos, mas hoje a criatividade corajosa é mais urgente do que nunca para que a dramática crise da pandemia não termine em uma terrível tragédia, mas abra espaços para a conversão humana e ecológica que a humanidade necessita.
Os leitores italianos podem obter mais dicas sobre o que o papa Francisco está pensando quando o fundador do movimento italiano Slow Food apresentar o livro baseado em três longas conversas que teve com o Papa sobre o significado da ecologia integral.
O livro Terra Futura tem lançamento previsto para o início de setembro e contará os diálogos que Carlo Petrini, autodenominado agnóstico, teve com o papa Francisco sobre o cuidado com a Terra e todas as pessoas que nela vivem, promovendo a justiça para os indivíduos e a preservação da natureza.
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Papa levará as preocupações da Covid ao cenário global na ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU