03 Julho 2020
"Os estados que reabriram cedo demais – os poucos que seguiram as diretrizes do governo Trump – estão, hoje, tendo que voltar atrás. É possível que as igrejas precisam também fechar novamente. Se ficar em casa, não indo à missa, significar salvar vidas, então é a coisa certa a fazer", afirma o editorial do National Catholic Reporter – NCR, 02-07-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Segundo o editorial, "graças em grande parte à falta de protagonismo no governo federal, os EUA estão enfrentando aquilo que muitos creem não ser a temida “segunda onda” do vírus, mas a continuação da primeira onda, que agora estaria se espalhando para os centros urbanos do nordeste para áreas mais rurais, do centro-oeste e sul".
Uma pesquisa de opinião informal feita na sala de redação virtual do National Catholic Reporter – NCR descobriu que, neste começo de julho, apenas um pequeno número dos nossos funcionários havia voltado às missas presenciais. Talvez formamos um grupo cauteloso. Ou, mais provavelmente, os nossos empregos exigem que acompanhemos com regularidade o noticiário – e as notícias sobre o coronavírus ainda são aterradoras.
No momento em que publicamos este editorial, o número de casos novos de covid-19 nos Estados Unidos aumentou 80% nas últimas duas semanas, segundo o banco de dados do New York Times. A Flórida, o Texas, o Arizona e a Califórnia formam os novos focos da doença, mas mesmo o centro-oeste está vendo um aumento no número de casos – e não só por causa do aumento das testagens, como diz o governo Trump.
Países da União Europeia estão reabrindo as fronteiras para viajantes de países onde a pandemia está suficientemente controlada. Os EUA não estão incluídos na lista.
Enquanto isso, o principal especialista americano em doenças infecciosas, o Dr. Anthony Fauci, formado em instituições jesuítas de ensino, falou, em 30 de junho, diante de um painel do Senado onde advertiu que “estamos indo na direção errada” com a abordagem atual adotada por nossos governantes contra o coronavírus. Com uma média recorde de mais de 40 mil novos casos por dia entre 24 de junho a 29 de junho, Fauci estimou que os EUA poderão ver índices de 100 mil casos diários – especialmente se não prestarmos a atenção devida às normas para a reabertura das cidades.
No meio de tudo isso, alguns paroquianos estão voltando às missas presenciais. Eles fazem reservas, usam máscaras, medem a temperatura na entrada, sentam-se em bancos isolados, evitam cantar e trocar saudações de paz, seguem marcações com fita adesiva no chão que indicam onde devem ficar para distanciar-se fisicamente dos demais quando se põem na para a Comunhão e aplicam desinfetante às mãos antes de receber a hóstia.
É uma experiência bastante diferente da liturgia pré-coronavírus. “Não é como era antes”, afirmou o Pe. Ralph Sommer, da Paróquia de St. Bernard, em Levittown, Nova York, que usou o ginásio paroquial para realizar uma missa de Dia dos Pais, em 21 de junho.
Mas muitos fiéis estão felizes por poder rezar juntos e receber a Eucaristia pessoalmente. Nas últimas semanas, o NCR noticiou uma série de paróquias que voltaram a abrir suas portas, entre elas as paróquias de Appalachia, em Los Angeles, e de Camden, em Nova Jersey – e uma outra no subúrbio de Chicago.
Párocos e agentes paroquiais disseram que muitos dos que voltaram a frequentar a missa estão famintos. “Eles sentiram falta”, disse Pe. Tom Burke, pastor da recém-formada paróquia de Santa Maria Madalena, de Pittsburgh. “Era como se estivessem recebendo a Primeira Comunhão de novo”.
Funcionários e voluntários têm trabalhado duro para preparar as instalações e instruir os fiéis para liturgias seguras e com o devido distanciamento físico, seguindo as diretrizes diocesanas ou arquidiocesanas, bem como as diretrizes estaduais. Mas alguns têm se mostrado preocupados com os idosos e outros paroquianos que pertencem aos grupos de risco, especialmente porque os casos continuam a aumentar.
À medida que os especialistas aprendem mais sobre o vírus e como ele se espalha, surgem indícios de que os encontros em ambientes fechados representam um perigo maior do que as atividades ao ar livre.
A Dra. Ngozi Ezike, diretora do Departamento de Saúde Pública de Illinois, elaborou uma lista das coisas que ela pode – e das coisas que ela não pode – fazer quando se sentir segura a realizar certas atividades. Ir à igreja? Não por “um ano ou mais”, disse Ezike ao jornal Chicago Sun-Times.
Durante este período de confinamento social, os chamados defensores da liberdade religiosa reclamavam que as igrejas estavam sendo injustamente fechadas, quando lojas ou até salões de beleza já estavam reabrindo. Mas passar uma hora dentro de uma igreja, com dezenas de outras pessoas, não é o mesmo que entrar em um estabelecimento por cinco minutos e sair.
Sim, a liturgia semanal é parte essencial de nossa fé – e, sejamos honestos, a maioria das paróquias já estava em crise financeira antes da pandemia. Então, entendemos o desejo de “voltar à normalidade”. Mas um administrador de controle de risco de uma companhia de seguros para igrejas disse, ao NCR, que aconselha que as paróquias busquem continuar com as missas virtuais, principalmente para os fiéis mais vulneráveis ao vírus.
Infelizmente, graças em grande parte à falta de protagonismo no governo federal, os EUA estão enfrentando aquilo que muitos creem não ser a temida “segunda onda” do vírus, mas a continuação da primeira onda, que agora estaria se espalhando para os centros urbanos do nordeste para áreas mais rurais, do centro-oeste e sul.
Os estados que reabriram cedo demais – os poucos que seguiram as diretrizes do governo Trump – estão, hoje, tendo que voltar atrás. É possível que as igrejas precisam também fechar novamente. Se ficar em casa, não indo à missa, significar salvar vidas, então é a coisa certa a fazer.
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Tenhamos cautela quanto a voltarmos às missas, alerta editorial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU