01 Julho 2020
Dom Daniele Libanori, jesuíta e bispo auxiliar da Diocese de Roma, poderá ser nomeado na próxima sexta-feira como sucessor do cardeal Beniamino Stella como prefeito da Congregação para o Clero. Há rumores sobre a nomeação circulando nos corredores vaticanos, reforçados pelo fato de o Papa Francisco ter recebido Libanori em audiência privada no dia 26 de junho.
A reportagem é de Catholic News Agency, 30-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As notícias da nomeação devem ser tratadas com todos os condicionais devidos, já que o Papa Francisco sempre pode decidir o contrário. Se o palpite se comprovar correto, no entanto, Libanori seria o primeiro jesuíta no comando do dicastério que é responsável por todos os padres não religiosos do mundo.
Com Libanori, o Papa Francisco voltaria a nomear um homem de confiança para o comando da Congregação para o Clero.
Libanori substituiria o cardeal Beniamino Stella, um dos mais confiáveis conselheiros do Papa Francisco. O Papa Francisco nomeou o cardeal Stella para o Clero no dia 21 de setembro de 2013. Essa foi uma das primeiras nomeações do Papa Francisco aos principais escritórios da Cúria.
O papa criou Stella cardeal durante o consistório do dia 22 de fevereiro de 2014 e o manteve em seu posto até agora. Stella completará 79 anos em agosto, embora a idade de aposentadoria esteja fixada nos 75. Stella também foi reconfirmado após seu mandato de cinco anos, que expirou em 2018.
Daniele Libanori foi escolhido pelo Papa Francisco como bispo auxiliar da Diocese de Roma no dia 23 de novembro de 2017 e foi ordenado bispo no dia 13 de janeiro de 2018. Desde 2017, ele também é o delegado da diocese para o clero e os seminários.
Nascido em 1953, Libanori vem da Arquidiocese de Ferrara-Comacchio, no norte da Itália. Foi ordenado sacerdote em 1977 e, mais tarde, ingressou na Companhia de Jesus em 1991. É licenciado em Teologia da Evangelização e tem um doutorado em Teologia da Vida Cristã.
De 1982 a 1991, foi reitor do seminário da Arquidiocese de Ferrara-Comacchio. Depois de fazer seus primeiros votos como jesuíta em 1991, foi capelão universitário em L’Aquila, na Itália central, de 1993 a 1997. Depois passou um ano na comunidade jesuíta de Nápoles. De 1998 a 2003, foi capelão universitário na Universidade La Sapienza, em Roma.
Em 2003, fez seus votos finais como jesuíta. De 2003 a 2016, Libanori atuou como reitor da Igreja do Gesù em Roma. É reitor da Igreja de San Giuseppe Falegname al Foro Romano desde 2017. Também é um exorcista bem conhecido em Roma.
Durante a emergência causada pela pandemia da Covid-19, Dom Libanori tem se pronunciado franca e abertamente. Em particular, subiu ao palco do debate sobre a proibição de celebrar missas com o povo.
Como se sabe, alguns padres reclamaram da decisão do governo de proibir qualquer reunião, seja ela religiosa ou civil. O cardeal Angelo de Donatis, vigário do papa para a Diocese de Roma, chegou a decretar o fechamento das igrejas, seguindo as sugestões do Papa Francisco. No dia seguinte à decisão, a propósito, o Papa Francisco criticou a possibilidade de “uma Igreja sem povo”, obrigando, assim, o seu vigário a voltar atrás.
O papa sempre pediu aos fiéis que respeitassem as indicações do governo. No dia 20 de junho, o papa se encontrou com os médicos da Lombardia, a região italiana mais afetada pela Covid-19. Naquela ocasião, o papa também apontou o dedo para “os padres adolescentes” que defendiam as missas com o povo.
A posição de Dom Libanori tem sido a posição do papa, e é possível que o Papa Francisco tenha notado e apreciado isso.
Em particular, Libanori expressou seu ponto de vista em uma carta do dia 19 de março dirigida aos padres do setor da Diocese de Roma que ele administra. A carta foi depois publicada na edição 4.076 da La Civiltà Cattolica, a revista italiana dirigida pelos jesuítas e aprovada pela Secretaria de Estado do Vaticano.
A Civiltà Cattolica intitulou a letra “Fé em tempo de Covid-19”. Na carta, Libanori observou que “muitos lamentam que, entre as restrições impostas pela situação atual, esteja também o fechamento das igrejas”, mas ele alertou que “não cabe à Igreja, mas sim ao Estado legislar em termos de saúde pública”.
Dom Libanori então pediu para se encontrar “novos caminhos” para alimentar a fé em um tempo de emergência. Ele admitiu que “a Igreja aberta também pode ser um sinal de conforto”. No entanto, acrescentou, “se se trata de ‘sinal’, basta que a Catedral esteja aberta”.
Ele acrescentou que “a Igreja verdadeira, feita de homens e mulheres, graças a Deus, pode viver também sem igrejas, como ocorreu durante os primeiros séculos e como ainda ocorre em muitas partes do mundo”.
Dom Libanori, então, perguntou se “o protesto, até mesmo vívido, contra o fechamento das igrejas é animado pela fé ou, pelo contrário, por uma religiosidade que deve ser purificada”. O bispo também convidou “a não se deixar capturar pelo falso zelo”, pois "no pedido insistente demais pela Eucaristia muito frequentemente há uma fé sincera... mas não madura”.
Dom Libanori mostrou uma consonância total com o Papa Francisco, e talvez a sua posição sobre o assunto possa ser decisiva para ele assumir o cargo.
A nomeação de um novo prefeito do Clero começará a mudança significativa dos altos escalões da Cúria Romana.
Embora a reforma da Cúria ainda é aguardada, cinco dos nove prefeitos já completaram 75 anos. Além disso, existem outros cargos importantes na Cúria que ficarão vagos.
A Congregação para o Clero passará por uma reforma significativa quando a reforma ocorrer. Além disso, o secretário da Congregação, arcebispo Joel Mercier, completou 75 anos em janeiro. Em março, o bispo Fernando Vergez Alzaga, secretário geral da administração do Estado da Cidade do Vaticano, completou 75 anos.
O cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, completou 75 anos em abril. Surpreendentemente, o Papa Francisco o confirmou donec aliter provideatur (até que seja decidido de outro modo).
Os outros prefeitos que ultrapassaram a idade da aposentadoria são o cardeal Luis Ladaria Ferrer, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que completou 75 anos em junho passado; o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, também com 75 anos desde junho de 2019; o cardeal Giuseppe Versaldi, prefeito da Congregação para a Educação Católica, com 76 anos; e o cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, também com 76 anos de idade.
Se Libanori receber o cargo, será a segunda vez que o papa jesuíta escolhe um coirmão para uma alta posição no Vaticano, depois da nomeação – no ano passado – do Pe. Juan Antonio Guerrero Alves como prefeito da Secretaria para a Economia.
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Um jesuíta à frente da Congregação para o Clero? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU