"Como será nossa existência quando o COVID-19 acabar? Para ela não temos resposta. No entanto temos alguns movimentos possíveis. Podemos sair desse processo com muitas aprendizagens. Dentre elas é que a vida precede a economia, que devemos cuidar e reconhecer mais a alteridade não apenas de quem está próximo, mas também dos que estão longe. Devemos desenvolver a solidariedade planetária, pois a falência do capitalismo demonstrou que não adianta eu pensar que estou bem resolvido solitariamente. Nossa vida depende do bem-estar de cada terráqueo", escreve Vilmar Alves Pereira, filósofo, doutor em Educação pela Universidade do Rio Grande do Sul e bolsista de Produtividade do CNPq em Educação – Nível 2.
Esse ensaio tem o propósito de refletir sobre a nossa condição existencial no contexto do COVID-19. Trata-se de um esforço hermenêutico, enquanto educador ambiental popular de refletir sobre o tempo presente. Desse modo, o ensaio passeia pela forma como vivemos a vida no sistema capitalista, num primeiro momento; num segundo, apresenta a percepção de indígenas e de um espiritualista de religião de matriz africana; posteriormente retoma algumas patologias socioambientais do capitalismo que ficam mais explícitas no contexto do COVID-19. Finalmente, apresenta alguns desafios e formas de cuidado, bem como, a reflexão sobre o papel da Educação Ambiental na atual conjuntura. O estudo reforça a importância da (EA) nas escolhas que estaremos fazendo na direção do futuro coletivo de nosso planeta.
O modo como os humanos vivem a vida com frequência tem passado por reavaliações. Há milhares de anos, desde a presença do humano no planeta terra (aproximadamente 200 mil anos), diversas foram as formas como nos relacionamos com o universo. No entanto, os tempos modernos inserem na cultura planetária pensamentos, comportamentos e atitudes que ficam ou estão internalizadas no cotidiano como padrões referenciais sobre como viver a vida. Assim, as noções de tempo e de espaço, por exemplo, associadas ao modo de produção capitalista, tem reforçado modos de ser tão intensos que, por vezes, acreditamos ser as únicas possibilidades de existir. Estas maneiras tão mecânicas podem nos levar a esquecer de nós mesmos e de pensarmos sobre nossa existência. O horizonte fenomenológico existencialista de Heidegger (1889-1976) e Sartre (1905-1980), provoca-nos a refletir sobre a nossa existência, que jamais está pronta, que sempre está sendo, que é resultado também das nossas escolhas mediante a nossa liberdade. Destituindo o pedestal de uma existência metafísica e infinita, o convite de ambos é que pensemos a existência como a nossa primeira tarefa. Como pensar a existência em contextos em que a vida se torna ameaçada e a fragilidade existencial se apresenta? Qual o sentindo que a Educação Ambiental (EA) assume nessa situação limite do COVID-19 em que a cada dia milhares de humanos morrem em todo o planeta?
Esse é o desafio e objetivo do presente texto, de modo que, vivenciando essa situação, possamos encontrar sentido sobre nossa condição existencial de humanos que se reconhecem enquanto humanos e, mediante a ameaça do COVID-19, buscamos a ampliação compreensiva da vida. É um convite a ressignificação ontológica do existir no tempo presente. Principalmente quando a perspectiva do tempo moderno, acelerado rumo ao futuro e as exigências mecânicas desse agir desenfreado, onde “tempo é dinheiro”, começa a se dar conta de que, o futuro com suas exigências, invadiu o presente de múltiplos modos, fazendo com que as nossas agendas nos colocassem num ritmo onde corremos sem saber para onde a fim de darmos contas das demandas e exigências que temos para sobreviver.
É nesse sentido, que ao invés de novos “cogitos”, novos fazeres assumem sentidos existenciais profundos: “trabalho logo existo”, “me conecto logo existo”, “corro logo existo” “produzo logo existo” e “consumo logo existo”. Esquecemos muitas vezes do cuidado com nossa saúde, e de outras múltiplas formas de cuidado existencial com os humanos e com os não humanos. Vai ser a partir de um olhar ambiental que estaremos revisitando a nossa condição existencial tendo por referência as relações que costumeiramente estabelecemos.
Em estudo anterior (PEREIRA, 2016) já questiona sobre a falta de cuidado na relação Humanidade-Natureza. Fizemos isso, mediante há alguns eventos extremos em nosso planeta como: o desastre em Mariana, os terremotos no México, Tsunami no Japão. Posteriormente tivemos o Furacão Dorian, o poderoso ciclone Idai em Moçambique, um novo desastre em Brumadinho, a maior liberação do uso de agrotóxicos no Brasil, o incentivo de exploração das terras indígenas e o aumento no número de mortes em muitas regiões, o desmatamento e o aumento das queimadas em grande área na Amazônia. Não bastasse as queimadas na Amazônia, fomos visitados pela fumaça das queimadas da Austrália, nos mostrando, que assim como os terremotos e demais eventos extremos, na natureza tudo está vinculado e os sinais vão aparecendo por todo o planeta. O sinal mais evidente desses eventos está nas mudanças climáticas e no descompromisso de muitos governos em nome da subserviência ao modelo de desenvolvimento do sistema capitalista predatório.
Queimadas na Amazônia. (Foto: Victor Moriyama/Greenpeace)
Mesmo com todos esses eventos, as reivindicações na melhoria dessa relação Humanidade-Natureza, são ainda de grupos que não conseguem ecoar seu grito, pois o sistema dita um ritmo forte na contramão de uma relação de maior cuidado. Para tanto, basta ver a apropriação que se faz da perspectiva de desenvolvimento sustentável por muitos países cuja lógica de produção é insustentável. O que percebemos é que a visão antropocêntrica ainda prepondera em nome do lucro, mesmo que isso possa ameaçar a vida. A economia dita o ritmo da vida. A concentração da riqueza nas mãos de poucos cria condições de vidas desiguais. E esse cenário é planetário.
O cenário imposto pelo COVID-19 nos demonstra o esgotamento desse paradigma pois, diferente do que muitos pensam, é a vida que precede a economia. Não basta apenas uma nação possuir altos índices de economia se não servirem para o cuidado e a proteção a vida. Em nome da economia muitos governos protelaram o cuidado com a vida levando a morte inúmeros humanos, que perderam suas vidas, suplicando por um bem acessível a humanidade: o oxigênio.
A (EA) sempre em defesa da vida, deve denunciar essa falsa arrogância dos impérios econômicos que se mostraram ineficientes frente ao COVID-19. A (EA) também deve propor horizontes de maior cuidado, proteção e garantias de direitos básicos a sobrevivência. Apenas na América Latina, de acordo com a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL), 63 milhões de pessoas sobrevivem em situação de miséria. Vejam a fragilidade e o grande descuido que existe nessa lógica entre os humanos. Também nos questionamos sobre como tantos humanos nessa situação e como parecem tão invisíveis, sendo que muitos deles estão muito próximos de nós. Essa mesma invisibilidade deve ser denunciada em relação aos crimes ambientais e ao consentimento de nosso atual governo com a mitigação da vida, quer sejam pela possibilidade de exploração de recursos naturais, pelas batalhas que são travadas cotidianamente em defesa da terra, quer seja pelo desemprego crescente, pela liberação desmedida do uso de agrotóxicos, a partir dessa visão que distância a natureza humana das demais naturezas para poder dominá-la. O cenário posto pelo COVID-19 nos faz refletir o quanto descuidamos da natureza. Estudos de especialistas estão demonstrando que o planeta está respirando melhor pois os índices de poluição do ar despencaram nos países em quarentena, assim como houve a diminuição do ruído da terra percebida pelos sismólogos e a redução das emissões de gases que contribuem para as mudanças climáticas. É a gaia dando resposta a novas formas de nos comportarmos. Que possamos aprender com mais esse recado.
Nesse esforço avaliativo e compreensivo de nossa condição existencial do momento presente, em meio ao contexto do COVID-19, percebemos que o ritmo imposto pela lógica do agir nos obriga a desacelerar e a refletirmos sobre como os saberes dos povos tradicionais caíram no esquecimento. Fundamentalmente, interessa nos perceber, como esses saberes permitiram que milhares de vida sobrevivessem sem tantos aparatos modernos e, que, no entanto, possuíam formas de cuidado e de proteção à vida que caíram no esquecimento. Refletindo sobre isso estabelecemos via aplicativo WhatsApp diálogos com Indígenas e com praticante de Religião de Matriz Africana pedindo que comentassem sobre o possível distanciamento das nossas raízes ancestrais e sobre formas de cuidados presentes nesses saberes ancestrais no contexto do COVID-19.
Conforme (EMILIANO, 2020), indígena kaingang, pelo fato da cultura ser dinâmica, houve sim o distanciamento das raízes e costumes ancestrais no momento em que foi deixado de consultar e ouvir os kuiãs[2] e demais detentores de saberes, por exemplo, sobre as ervas, como é caso das benzedeiras. Emiliano considera que o COVID-19 serve para acordar sobre a forma como vivemos no mundo atual. Para tanto, sugere a leitura de sua dissertação de mestrado sobre a Revitalização dos Saberes Ancestrais. Na sua opinião, isso está ocorrendo atualmente inclusive nas aldeias onde os mais novos voltam a se aproximar e a escutar os anciões. Ele afirma que há muita procura nesse momento dos kuiãs pela busca de remédios com ervas para melhorar a imunidade como xaropes diversos e a busca de alimentação natural. Considera também que nesse momento, os anciãos narram aos mais novos sobre como foi e como é a ação do homem no desiquilíbrio ecológico. Segundo ele os anciãos consideram o COVID-19 como um aviso da mãe natureza para que o ser humano, volte “a ser humano”.
Outra escuta sobre a atual conjuntura fizemos com o líder indígena Merong Kamakã da aldeia Caramuru Pau Brasil Bahia com Sangue Pataxó hãhãhãe na família Kamakã. Ele avalia esse momento como um momento de reflexão. É momento de pensarmos sobre a necessidade que temos da terra, pois tudo o que precisamos para viver vem da terra. Ele considera que na correria do dia a dia, vivemos encaixado no sistema e acabamos esquecendo da terra de onde viemos. Para (MERONG, 2020), é também um momento de conexão espiritual onde devemos pensar naquilo que é realmente importante para a vida como a valorização de sua cultura, cânticos e orações, pois, na correria do dia a dia nos esquecemos do grande espírito e de nossa verdadeira natureza: a terra. Nessa mesma linha de pensamento, em recente entrevista o líder indígena, ambientalista (KRENAK 2020), afirma que a epidemia é a resposta do planeta a destruição e que a única saída é mudar a sociedade. Em suas palavras: “É como o anzol nos puxando a consciência” (...). E conclama: “nossa chance é aprender com o que está acontecendo. Voltar ao normal seria aceitar que a terra é plana”. Avalia que os humanos com suas necessidades e capacidade de destruição, são piores que o COVID-19. Também considera que é duro pensar que o aprendizado tenha que ter vindo à custa de muitas mortes.
Conforme (DANIEL DO BARA, 2020), espiritualista da religião de matriz africana em Rio Grande, considera que nesse momento “Deus está cobrando” pois Olorum cobra devido as atitudes do ser humano. Lembra que há não muito tempo atrás presenciamos crianças aparecendo mortas na praia na tentativa de fugir da guerra. Vimos também, os países não querendo receber muitas pessoas imigrantes e que muitos morreram em alto mar. Ele considera que a maioria dos países ficaram focados apenas no seu enriquecimento sem preocupação com a natureza. Nesse contexto “os orixás em especial o pai xapanã que é o orixá que traz a doença e junto com ela traz também a cura e a transformação, nos mostram que esse ano será um ano de transformação”. Daniel afirma que após essa pandemia passar “o homem vai ter que se transformar”. Em sua opinião, o que se viu é que ninguém ficou livre do contágio: “nem ricos, nem pobre, nem lideranças. Trata-se de uma cobrança que está assolando o mundo para que as pessoas se atentem e se modifiquem e possam ter mais caridade com o outro”. Ainda complementa que isso vai acontecer e poderá ocorrer outros eventos até que “o ser humano aprenda a ser mais fraterno”. Ainda considera que esse movimento já está ocorrendo pois “há pouco tempo os EUA estavam em crise de relação com a China, hoje devido a COVID-19 estão em parceria em defesa da vida”.
O distanciamento dos saberes ancestrais tem permitido que a partir de um olhar ontoepistemológico presente nos povos tradicionais (indígenas e africanos) nos avaliemos a partir do reconhecimento daquilo que sempre esteve aí, mas que, no entanto, pelo nosso modo de fazer ciência, de ser e agir, permitimos que caísse no esquecimento. Exemplo disso foi o fato de que há poucos dias tomamos um chá com limão, alho e mel. Ao receber uma mensagem por texto ficamos sabendo que o mesmo chá se tratava de uma receita que os “pretos velhos” indicavam nos terreiros para que seus filhos tivessem boa resistência a qualquer tipo de resfriado. Como afirma Emiliano, o uso de ervas, chás e xaropes é comum nas aldeias no cotidiano indígenas. Pelo caminho de ontoepistemologias ancestrais percebemos que não existe cisão entre ser e estar no mundo pois somos todos (as) naturezas.
A intensidade sobre como vivemos a vida e mecanicidade ditada pela lógica imposta, permitiu que, sem nos darmos conta, nos distanciássemos uns dos outros mesmo convivendo de muito perto. Assim estamos próximos, mas não estamos juntos. Com facilidades nos distanciamos das pessoas e com muita facilidade nos desvencilhamos. Perdemos vínculos construídos com longevidade. O sentido que muitos humanos possuem ou atribuem é como se fosse um perfil em rede social que pode ser bloqueado, desfeito ou deletado. O valor do humano muitas vezes é visto similar a um produto que possui utilidade com durabilidade.
Imersos no cosmo cyber expandimos relações com todas as partes do globo em comunidades de alcances planetários. Participamos de movimentos internacionais em busca de justiça socioambiental. No entanto, muitas vezes bem próximo de nós a dor e o sofrimento humano gracejam e temos grandes dificuldades de reconhecê-los. O COVID-19 nos reivindica um movimento de volta para casa; de necessidade de cuidarmos mais de quem está perto. De retomarmos a sintonia interna, de valorizarmos o que de fato possui valor. De reconhecermos o quanto precisamos uns dos outros. Essa necessidade é tão significativa, que foi preciso que nos isolássemos para reconhece-la. A alteridade passa a ser o substantivo feminino mais reivindicado. O outro me constitui. A convivência com o outro (próximo mais próximo) assume um sentido profundo em minha existência. Do cuidado com o outro depende a minha sobrevivência. Alterando o horizonte existencial axiológico para “convivo logo existo”. Nessa perspectiva, aprendemos a tolerar o outro com sua singularidade. Essa tolerância como nos ensina (BOFF, 1999), está impregnada do sentimento de respeito. Nela eu não te tolero por que te suporto, mas te tolero por que te respeito profundamente e, por isso te acolho.
Assim, reconhecimento, alteridade, acolhimento e cuidado passam a integrar novas formas de convivência e novos modos de ser onde o sentido da vida é que orienta este estar sendo em tempos de COVID-19. A sensação e o sentimento é que temos é de que voltamos para casa. Estamos fazendo muitas coisas juntos que há pouco tempo a trás não fazíamos. Estamos mudando hábitos de convivência. A vida rompe o ritmo da individualidade e singularidade e se assume coletivamente. No entanto, paradoxalmente, agora que estamos próximos, não podemos nos abraçar pois ameaçamos a vida de quem mais amamos. Convivendo mais, conversamos mais, nos escutamos e temos a sensação que estamos todos “de volta pra casa”. Isso não significa uma perspectiva de “ética mínima” onde eu só posso ser quem sou no meu meio familiar, já que em alguns ambientes de trabalho, por exemplo,“ser profissional” assume um modo que muitas vezes nega nosso modo de ser. Ao contrário, significa reconhecer a necessidade de cuidado, cujo movimento deve partir do singular para o coletivo. Assim podemos ampliar nosso sentido existencial, pois não posso cuidar dos outros se não me cuido.
A (EA) em tempos de COVID-19, reivindica essa reaproximação entre humanos que transcende a esfera das relações vinculadas pela conexão das redes sociais. Amplia, desse modo, sentimentos e sentido sobre o papel que assumimos com nossa existência individual e coletiva. Esse esforço de reconhecimento no contexto do ambiente de isolamento, nos coloca o sentido solidário para com milhares de humanos que estão tendo diariamente, as suas existenciais mais ameaçadas do que as nossas pelas condições e recursos não disponíveis. Uma das maiores tristezas sentidas nesses tempos é a de vermos imagens de filhos ou pais, irmãos e irmãs que não podem sequer enterrar os seus entes queridos, e tantas outras formas que limitam a possibilidade de um último abraço. Associado a isso, toca profundamente a imagem vinda do Equador onde em Guayaquil, o sistema funerário entrou em colapso e humanos mortos estão sendo abandonados nas ruas. Fatos como esse, nos faz pensar sobre o valor de um abraço, o valor da vida e a necessidade de cuidados permanentes para além do COVID- 19.
Sistema funerário do Equador entra em colapso por mortes. (Foto: Reprodução/Twitter)
O diagnóstico sobre a forma como racionalidade estratégica moderna operou já é conhecido bem como suas limitações. De certo modo, ele demonstra como a referida racionalidade fracassou nos seus propósitos de emancipação. Essa compreensão fez com que os pensadores da Escola de Frankfurt, ainda em seu tempo, reconhecessem entre outras decorrências a do esquecimento do ser e a criação de patologias sociais nos mostrando o esgotamento paradigmático ou as “aporias” em que cairíamos. Nesses tempos de COVID-19, reconhecemos que convivemos sim com inúmeras patologias socioambientais. Algumas das quais já citamos no início desse texto, no entanto, no contexto do COVID-19, acreditamos que algumas patologias ameaçam mais a vida que outras.
Considerando a ameaça real à vida e a necessidade de sua defesa radical, recentemente no Brasil mais de 150 organizações com foco nos direitos humanos se manifestaram exigindo maior atenção com aquelas pessoas que estão em maior precarização e vulnerabilidade em decorrência da desproteção de direitos humanos. Entre tantas reivindicações, contradições, descaso e o risco criado pelo atual governo consideram que:
É necessário que todas as medidas adotadas no país para conter a disseminação do COVID-19 e tratar as pessoas enfermas estejam orientadas para a proteção de todos os direitos humanos de todas as pessoas, em especial dos grupos e populações mais vulneráveis, como as mulheres, idosos, crianças, encarcerados, migrantes, pessoas em situação de rua, pessoas com deficiência, povos indígenas e povos e comunidades tradicionais, grupos e comunidades das periferias, população negra, população LGBTIQA+ entre outros. (OBSERVATÓRIOEA, 2020).
Trata-se de um denso documento que se associa as organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, cobrando ações contundentes dos diferentes níveis de poder em defesa da vida dos mais vulneráveis. Em se tratando do Brasil em novembro de 2019, antes do COVID-19, um estudo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL, um órgão da ONU), constatou que 13, 5 milhões de pessoas viviam em situação de pobreza extrema. São os mais vulneráveis que tem a suas existências mais ameaçadas no atual contexto. O estudo também apontou a falta de foco nos programas sociais do governo Jair Bolsonaro. O cenário do COVID-19 escancarou muitas vulnerabilidades, que, pela nossa correria cotidiana, eram menos percebidas. É o caso dos moradores de rua. Com o isolamento social ficaram mais visíveis e esse quadro pode aumentar caso não tenhamos ações e políticas efetivas nessa área.
No que diz respeito a grande patologia socioambiental das mudanças climáticas, numa importante entrevista (FOSTER, 2020), afirma que é fundamental que sejam analisadas associadas ao sistema capitalista. Elas são a expressão das contradições de um sistema de acumulação injusto e desigual que cria essa grande crise socioecológica. Nesse sentido: “O mesmo regime de capital cria grandes disparidades de classe e imperiais, assegurando que os piores perigos ambientais atinjam os mais pobres e vulneráveis, enquanto os ricos estão relativamente seguros” (FOSTER, Carta Capital, 2020).
Dessa forma, para o autor é fundamental analisarmos a crise ecológica com a vacilação do modelo econômico capitalista. Critica as posturas que não aceitavam reconhecer as fragilidades do sistema muito menos as possibilidades do seu fim. Dessa forma acredita que:
Como resultado da mudança climática, COVID-19, e do desenvolvimento da crise financeira do capitalismo global, isso agora está finalmente sendo revertido. De repente, ficou mais fácil imaginar o fim do capitalismo do que o fim do mundo e, de fato, o primeiro provavelmente o impediria. (FOSTER, Carta Capital, 2020).
Já que o sistema capitalista falhou, para (FOSTER, 2020), é necessário criarmos um mundo mais sustentável e igualitário com uma perspectiva mais coletiva. Então necessitamos pensar que as patologias socioambientais são sistêmicas relacionadas as formas gerimos a vida. E, no caso do capitalismo, os sinais são cada vez mais evidentes.
Outra leitura interessante para compreender esse contexto patológico é a recente entrevista de (SATO, 2020), que enuncia outra decorrência desse cenário: o aumento das migrações ambientais como mais uma consequência das mudanças climáticas onde muitas vidas se perdem pelos caminhos: “Neste capitaloceno, segundo a pesquisadora, são a crise climática e as guerras híbridas que expulsam as pessoas de sua terra natal – mesmo que o próprio imigrante não diga isso”. (SATO, OBSERVAREA, 2020). Esses amplos movimentos demonstram e reforçam o esgotamento do sistema capitalista e a necessidade de novas perspectivas ambientais orientadas por ontoepistemologias que considerem e potencializem a vida ao invés de encolhê-la.
Uma nuvem das palavras mais usadas na internet na primeira semana de abril. (A imagem está disponível aqui)
Apontamos na Ecologia Cosmocena como o sistema capitalista é um sistema de descuido. Denunciamos também algumas das múltiplas formas de descuido:
a) Quando esvaziamos o sentido ontológico de nossa existência na busca do ter mais;
b) Nas guerras por controle e manutenção do poder;
c) Nas migrações forçadas que arrancam os filhos de sua própria terra em busca de sobrevivência;
d) No aumento significativo com altos índices de suicídios de países com desenvolvimento econômico;
e) Na concentração de riquezas nas mãos de poucos e no aumento da pobreza extrema e da fome na América Latina e Caribe;
f) No aumento do desemprego que limita a vida das pessoas pois, a lógica do sistema, não reconhece quem não produz;
g) Na naturalização das invisibilidades de muitos excluídos;
h) Na apropriação predatória da natureza como objeto de lucro a qualquer custo;
i) No aumento do preconceito e das fobias de nações que se sentem ainda superiores e que mediante ao COVID-19 expressaram seus preconceitos em relação a China onde se buscou vincular os chineses com o vírus.
Também devemos condenar a manifestação de médicos franceses por pretenderem ligar a África com o vírus e a necessidade da produção de uma vacina, pois, trata-se de é racismo explícito mesmo sabendo que qualquer pessoa pode transmitir o Coronavírus. É um grande erro e também grande violência cultural ligar a vacina com africanos. O COVID-19 escancara o quanto ainda temos que combater o antigo vírus do preconceito e de muitas fobias ainda muito presentes no sistema capitalista. Esse breve diagnóstico reforça que somos uma sociedade de descuidos coletivos, pois o vírus, como já apontamos é sistêmico com ampla abrangência. Trata-se de um vírus que possui interfaces políticas, sociais, econômicas, culturais trazendo reflexões muito densas sobre o modo como vivemos a vida.
Consideramos, assim como (BOFF 1999), que o cuidado é um a priori ontológico. Isso significa reconhecer que a nossa existência é precedida pelo cuidado. Desde a nossa concepção, se não houvesse cuidado não viveríamos pois, é o cuidado que nos torna pessoas. O COVID-19 reivindica reaprendizagens de cuidados fundamentais como horizonte ambiental possível. Nessa perspectiva, após a pandemia trazida pelo COVID-19, deve haver uma mudança em nossa escala axiológica onde as prioridades de valores podem ser alteradas. Nesse sentido sugerimos:
Se eu não cuido de minha casa que garantias de vida eu terei? O esgotamento do sistema capitalista está demonstrando que não basta cuidar da economia e esquecer do planeta; daí a necessidade do cuidado com o ambiente inteiro;
O contexto pelo qual estamos passando tem nos levado diariamente a reflexão sobre o valor e importância de estar vivo. A força com que o COVID-19 está ceifando vidas nas diferentes partes do planeta, tem nos feito refletir sobre que diferenças tem viver no extremo sul ou extremo norte, que diferenças empregamos a lugares, e posições sociais e econômicas, pois, o vírus não escolhe raças ou cores apenas avança. Nesse sentido, enquanto nos sentimos ameaçados vale a pena refletirmos sobre a necessidade de valorização universal da vida. Essa valorização deve nos levar a refletir sobre as múltiplas outras formas de vida que permitem e garantem a continuidade da vida humana no planeta e das quais somos dependentes. É importante nesse caso uma postura de maior humildade sobre o lugar que ocupamos;
O COVID-19 tem nos reivindicado a importância do cuidado integral com o outro. Dele depende também a garantia de minha existência. Nos damos contas de que estar juntos é muito mais do que estarmos próximos. Nesse sentido, estudos demonstram que está melhorando a convivência nas diferentes famílias nesse período. Nesse sentido reassume ao valor fundamental da convivência e da preocupação com que o meu próximo esteja bem. No entanto, isso não basta, é necessário ampliarmos esse cuidado;
O isolamento social nos trouxe uma outra reivindicação de cuidado: é necessário reconhecer a alteridade em suas múltiplas formas de expressão. Nesse sentido, não basta apenas reconhecer o outro que está próximo, sendo que, a minha existência depende fundamentalmente de alteridades coletivas que habitam os infinitos lugares nesse planeta. Se este é um vírus global, é imprescindível que a nossa consciência e os nossos compromissos sejam também planetários. A lógica individualista e solitária não serve mais como horizonte de ação. Nesse sentido, o COVID-19 criou movimentos e, desejamos que continuem, onde ampliamos nossa percepção para necessidades planetárias. Sentimos a dor da China, Japão, Europa e Estados Unidos e nos solidarizamos com eles. Choramos pela mãe África, nosso berço e torcemos muito pelo êxito na Índia e na América Latina. A vida se pluraliza e assume sentido coletivo. Não existe outra saída: sem o reconhecimento radical da alteridade que vai desde os moradores de rua, enfermos, excluídos LGBT, Imigrantes, desempregados, povos tradicionais, não podemos expressar nossa humanidade;
Quando a angústia nos visita mostrando a nossa finitude existencial, refletimos sobre nosso papel no mundo e nossa forma de proceder. Nesse contexto diferentes formas de ação são adotadas. Alguns fazem terapias, outros negam corajosamente a existência de qualquer transcendente, outros praticam filosofias com sentido profundo e outros independentes de religião, buscam uma conexão densa e íntima com a sua espiritualidade. De certo modo, se conectam mais fortemente com seu Coeficiente Espiritual na busca de sentido existencial. Consideramos fundamental esse movimento quando não carregado de irracionalidades e de sentimentos de culpas. No entanto quando permite uma conexão maior com o universo acreditamos que tem contribuído muito com a psicosfera e com a saúde do planeta. Nesse sentido, as pessoas se abrem solidariamente para vibrar pelo planeta, desejando bons sentimentos para muitos humanos que se encontram enfermos em muitos lugares. O cuidado com a espiritualidade tem permitido no contexto do COVID-19 reconhecermos que os problemas da humanidade são maiores do que pequenas necessidades individuais e, nesse sentido, merecem maior atenção;
Inúmeros são episódios que estão estampando a resposta da nossa casa maior nesses dias de isolamento. Com base na perspectiva hermenêutica (dialógica) de Gadamer, defendemos em estudos anteriores que a natureza dialoga conosco o tempo todo. No entanto, muitas vezes não percebemos esse diálogo. O COVID-19 tem nos mostrado de forma mais explicita a efetividade desse diálogo: no índice de ruído da terra, na melhoria da condição do ar em diferentes partes do mundo, no reaparecimento de algumas espécies que anteriormente se encontravam ameaçadas, na mitigação (ainda que pequena) das mudanças climáticas. No entanto, temos muito ainda que avançar pois, no caso do Brasil do uso deliberado de agrotóxicos, das queimadas, das enchentes, da exploração sem medida das terras pelas grandes mineradoras em favor do lucro, demonstra o quanto ainda temos muito que aprender e evoluir. Demonstra também, o quanto ainda não entendemos o diálogo de Mariana e Brumadinho entre tantos outros;
As racionalidades de corte positivista que imperaram na ciência, durante muito tempo consideram o humano um ser fatiado. Basta ver como Descartes concebia o corpo humano, podendo ser separado, para ser compreendido. Nessa perspectiva, os problemas de saúde não tinham interferências que além do aspecto biológico. A ampliação de sentido e as compreensões do ser humano como biopsicossocioambiespirtual[3] , tem demonstrado esforços significativos para esse olhar sistêmico, que concebe nossa existência a partir das dimensões integradas e relacionadas num amplo conjunto de relações. O que se amplia aqui, não é apenas o sentido ontológico da existência humana, mas a forma e os aspectos que a configuram. Em muitos casos lhe atravessam. Desse modo, pensar o cuidado com a saúde no contexto do COVID-19, requer ainda mais o reforço dessa compreensão sistêmica. O vírus cria e assume movimentos políticos, econômicos, denuncia modos de ser, aponta necessidade de mudança de cultura, escancara as fragilidades dos sistemas de saúde de todo o planeta, demonstra as múltiplas formas em que a vida se encontra concatenada e dependente. O desafio maior é substituir o olhar que no capitalismo, exclusivamente economicista pelo olhar abrangente integral sistêmico. O COVID-19 demonstrou a insuficiência paradigmática da lógica economicista. Em resposta a isso, é necessário que desenvolvamos formas coletivas e solidárias de cuidado da saúde, que não tenham a exclusividade financeira, pois, a bolsa de valores não conseguiu evitar que o coronavírus ceifasse milhares de vidas diariamente em países com economias privilegiadas. Por isso é oportuna essa reflexão: pensar o cuidado com a saúde como dimensão fundamental e coletiva para garantia da vida.
Em recente entrevista (LATOUR, 2020), considera ser esse um momento de reavaliação de posturas. Nesse sentido, espera que após a crise não voltemos ao velho e antigo regime climático com o qual lutamos e não obtivemos êxito. Desafia-nos a pensar que a crise da saúde está vinculada a uma crise maior de “mutação ecológica duradoura e irreversível”. Compreende que esse momento é também uma oportunidade de descobrirmos meios para enfrentarmos essa crise maior. Tendo demonstrado as fragilidades do sistema e suas aporias criadas no próprio sistema e incapacidades de tudo resolver é chegamos nesse momento em que tudo parou. (LAUTOR, 2020) considera que nesse momento, a postura não deve ser a de que devemos urgentemente retomar tudo o mais rápido possível pois, “A última coisa que devemos fazer é retomar, da mesma maneira, tudo o que fazíamos antes”. O grande desafio é encontrarmos formas sustentáveis para interromper essa globalização desenfreada. Será que temos coragem para isso? Para nos auxiliar com esse cuidado com o futuro nos desafia a fazermos uma lista de atividades que nos sentimos privados pela crise atual consideradas essenciais. Sugere que avaliemos se queremos que a mesma fosse retomada exatamente (como antes), melhor ou que não se retome em absoluto[4]. De certa maneira, nos desafia a pensarmos que o futuro está em nossas mãos e de que todos temos a capacidade de escolher pela mudança ou novamente ceder ao “canto da seria”, onde o progresso econômico é o único direcionamento.
O olhar ontoepistemológico desafia a Educação Ambiental para compreensões mais inteiras onde relações da (EA) assumem sentidos que começam com a vida, vão para espaços escolares e transbordam a escola. Buscamos com ele sugerir novas formas de pensar, sentir e fazer ciência. Aliás, pensar a ciência por esse caminho significa reconhecer os amplos sentidos que ela pode trazer para nossas existências.
Acreditamos que esse é um momento singular em que devemos esquecer essa querela sobre qual (EA) consegue dar conta das enormes problemáticas trazidas no decorrer desse texto. Talvez, seja o momento de fato, de reconhecermos o que grandes pesquisadores (as) já vêm defendendo há um bom tempo sobre como é difícil singularizar a EA. Em 2018, (HENNING, MUTZ E VIEIRA) organizam uma obra coletiva onde pluralizam essa discussão: Educações Ambientais Possíveis. Isso significa reconhecer que uma concepção única de (EA) é insuficiente para enfrentarmos os problemas de nosso tempo. Dessa maneira, o COVID-19 expõe ainda mais essa necessidade: precisamos reunir esforços, olhares, compreensões, campos de conhecimentos e saberes diferentes para defendermos a vida que se encontra ameaçada.
Se os projetos hegemônicos sustentados pela racionalidade estratégica, voltada a fins, cujo endereçamento maior era o aumento do lucro, do poder e da afirmação do indivíduo sobre o coletivo já estão demonstrando a sua falência, então, é momento de buscarmos alternativas coletivas e não metafísicas. Assim cabe a Educação Ambiental, a partir desse olhar plural, trabalhar questões centrais sobre o sentido da vida. Em nossa compreensão, essas questões vão desde o reconhecimento de formas onde a vida é vivida mais sustentável, até o reconhecimento de outros saberes que permitiram que os povos tradicionais sobrevivessem a milhares de anos com maior cuidado pela vida. Também passa por densas análises sobre a racionalidade que orienta o sistema capitalista e sobre sua capacidade de malogro, fazendo com que durante muito tempo a vida ficasse num segundo plano em detrimento a economia. Passa igualmente por compreensões de Educações Ambientais que percebam que não se analisa questões de saúde dissociadas da crise e da mutação ecológica como conforme (LUATOR, 2020). Passa pela escuta dos povos tradicionais (indígenas e africanos) que nos alertam que a mãe natureza está nos chamando a consciência para que possamos cuidar melhor a nossa saúde. Eles criticam o antropocentrismo e reivindicam que o “humano possa voltar a ser humano” pois se distanciou de suas origens. Reivindicam uma outra sociedade possível mais solidária.
A (EA), em suas múltiplas dimensões, deve orientar e desenvolver formas de cuidado. Neste estudo indicamos algumas, entre tantas outras, que podem ser fundamentais para que possamos viver melhor a vida. Assim, podemos nos dar conta, de que nossa existência é muito mais do que só existo se trabalho, se consumo, se estou conectado com mundo virtual. O COVID-19 nos fez pensar aquilo que discutimos na obra Ontologia da Esperança (PEREIRA, 2020), que conforme (HEIDEGGER,1989) os processos de entificação do ser nos colocam como imperativo condições de vida inautêntica. Mediante a isso, o sentido existencial se dá na rearticulação da vida no tempo presente. Assim acreditamos: “Porque resisto eu existo não mais como um devaneio, mas como um axioma valorativo de não aceitação do status quo e de convivência com as demais outridades numa luta permanente em defesa da vida e contra o fatalismo ontológico de meros seres adaptados”. (PEREIRA, 2020, p.35)
O COVID-19 nos coloca nesse movimento existencial cuja existência deve ser ativa e construtiva. E entre tantas urgências, seja qual for (EA) que você esteja desenvolvendo sugerimos que considere sempre os mais vulneráveis e os mais excluídos como prioridade. Eles são os que mais estão tendo vidas ceifadas, muitos sem o direito de serem sequer enterrados. É por isso que reconhecemos o esforço brasileiro, aliado a organizações internacionais, de colocar como prioridade, nas suas reivindicações e manifestos os direitos humanos dos mais vulneráveis. Nesse horizonte, o COVID-19 nos chama a atenção para a revitalização ético-política da (EA), no sentido de que a luta pela vida deve ser permanente e deve ser percebida nesse conjunto de implicações sistêmicas que podem ou não garantir nosso futuro.
Uma questão entre tantas permanece em aberto para (EA): como será nossa existência quando o COVID-19 acabar? Para ela não temos resposta. No entanto temos alguns movimentos possíveis. Podemos sair desse processo com muitas aprendizagens. Dentre elas é que a vida precede a economia, que devemos cuidar e reconhecer mais a alteridade não apenas de quem está próximo, mas também dos que estão longe. Devemos desenvolver a solidariedade planetária, pois a falência do capitalismo demonstrou que não adianta eu pensar que estou bem resolvido solitariamente. Nossa vida depende do bem-estar de cada terráqueo. Por isso só é possível pensarmos a existência se ela for considerada coletiva. No entanto, como nos provoca (LAUTOR, 2020), nosso maior equívoco é não avaliarmos e continuarmos tudo como se a forma precedente que vivíamos fosse a melhor possível. Aí, nesse caso, não teríamos tido aprendizagens significativas e nossas existências continuariam ameaçadas. Cabe as educadoras (es) ambientais escolher sobre o porvir. Aprendemos com Sartre, que a liberdade de escolha deve superar a nossa angústia sobre o que escolhemos e, após escolhermos, superando a angústia, teremos a responsabilidade pela nossa escolha. De modo muito singelo é que o que buscamos com esse texto: lhe convidar a escolher pela vida com responsabilidade.
Notas:
[1] A discussão mais ampla sobre o assunto fizemos em: PEREIRA, V. A; FREIRE, S. G; SILVA, M. P. da. Ontoepistemologia ambiental: vestígios e deslocamentos no campo dos fundamentos da educação ambiental. Pro-Posições, Campinas v. 30, e 20180011, 2019. Disponível aqui. Access on 08 Apr. 2020. Epub Oct 21, 2019.
[2] O kuiã Kaingang apresenta-se, então, como sábio ancião respeitado na aldeia que possui o elemento domesticador dessa força, usada por ele como poder para prevenir, proteger, curar e prever.
[3] Utilizamos a palavra biopsicossocioambiespiritual como uma compreensão cosmocena daquilo que constitui a humanidade. Por isso ela procura em uma única terminologia agregar as dimensões biológicas, psicológicas, sociológicas, ambientais e espirituais. Cabe salientar que a compreensão já existe, no entanto, ao descrevê-la, na maioria das vezes é traduzida por Biopsicossocial- ambiental e espiritual. A alteração que faço aqui se dá no sentido semântico de realmente reforçar que essa compreensão no horizonte cosmoceno é indissociável.
[4] 1ª pergunta: Quais as atividades agora suspensas que você̂ gostaria de que não fossem retomadas? 2ª pergunta: Descreva por que essa atividade lhe parece prejudicial / supérfluas / perigosa / sem sentido e de que forma o seu desaparecimento / suspensão / substituição tornaria outras atividades que você prefere mais fáceis / pertinentes. (Faça um parágrafo separado para cada uma das respostas listadas na pergunta 1). 3ª pergunta: Que medidas você sugere para facilitar a transição para outras atividades daqueles trabalhadores /empregados / agentes / empresários que não poderão mais continuar nas atividades que você está suprimindo? 4ª pergunta: Quais as atividades agora suspensas que você gostaria que fossem ampliadas / retomadas ou mesmo criadas a partir do zero? 5ª pergunta: Descreva por que essa atividade lhe parece positiva e como ela torna outras atividades que você prefere mais fáceis / harmoniosas / pertinentes e ajuda a combater aquelas que você considera desfavoráveis. (Faça um parágrafo separado para cada uma das respostas listadas na pergunta 4). 6ªa pergunta: Que medidas você sugere para ajudar os trabalhadores / empregados / agentes / empresários a adquirir as capacidades / meios / receitas / instrumentos para retomar / desenvolver / criar esta atividade? (LATOUR, B. Disponível aqui. Acesso em abril de 2020).
Referências:
BOFF, L. Saber cuidar: a ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis (RJ): Vozes, 1999. CEPAL, Comissão Econômica para América Latina. Panorama Social da américa Latina 2019. Disponível aqui. Acesso em março de 2020.
EMILIANO, D. Revitalização dos Saberes e Práticas Kaingang sobre as Plantas Tradicionais como Proposta de Educação Ambiental na Terra Indígena Ligeiro. Dissertação de mestrado. Ano de Obtenção: 2015. Disponível aqui. Acesso em abril de 2020.
FOSTER, J.B. Capitalismo de catástrofe: mudança climática, COVID-19 e crise econômica. Entrevista a Farooque Chowdhury. Disponível aqui. Acesso em: abril de 2020.
HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. Tradução Márcia de Sá Cavalcante. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1989. T.1
HENNING, P. C; MUTZ, A. S. da C; VIEIRA, V. T. (Org.). Educações Ambientais Possíveis: ecos de Michel Foucault para pensar o presente. 1. ed. Curitiba: Appris Editora, 2018. v. 1. 248p.
LATOUR, B. Imaginar os gestos-barreiras contra o retorno da produção anterior à crise. Disponível aqui. Acesso em Abril de 2020.
Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil. Pandemia COVID-19 e Direitos Humanos no Brasil. Disponível aqui. Acesso em: abril de 2020.
PEREIRA, V. A. Ecologia Cosmocena: a redefinição do espaço humano no cosmos. 1. ed. Juiz de Fora: Garcia Edizioni, 2016. 98p.
PEREIRA, V. A; FREIRE, S. G; SILVA, M. P. da. Ontoepistemologia ambiental: vestígios e deslocamentos no campo dos fundamentos da educação ambiental. ProPosições, Campinas v. 30, e 20180011, 2019. Disponível aqui. Access on 08 Apr. 2020. Epub Oct 21, 2019.
PEREIRA, V. A; MALTA, M. C. (Org.). Ontologia da Esperança: a Educação Ambiental em tempos de crise. 1. ed. Juiz de Fora: Editora Garcia, 2020. v. 1. 183p.
SARTRE, J.P. O existencialismo é um humanismo. Petrópolis RJ: Vozes, 2013.
SATO. M. Número de imigrantes deve aumentar e brasileiro se tornará mais xenófobo, alerta pós-doutora da UFMT. Disponível aqui. Acesso em: abril de 2020.
Entrevistados:
Daniel do Bará. Espiritualista de Religião de Matriz Africana. Rio Grande, 2020.
Darci, Emiliano. Indígena Kaingang. Comunidade Ligeiro do Norte do Rio Grande do Sul, 2020.
Merong, Kamakã Líder indígena da aldeia Caramuru Pau Brasil Bahia com Sangue Pataxó hãhãhãe na família Kamakã, 2020.