30 Março 2020
“As missas sem povo online? Eu não gosto. Infelizmente, muitos padres se acostumaram a isso. Para eles, não há salvação sem um Deus que vem de fora para salvar o homem. Se a celebração da missa é tirada deles, eles não sabem o que fazer. Eles não entendem que o Senhor já está em nós, ele se faz pão na palavra. Ele está dentro do homem e apenas pede para poder ajudar os outros”.
Alberto Maggi, conceituado biblista, padre e teólogo, comenta o momento atual. O Papa disse que é possível, enquanto se espera que tudo volte à normalidade, pedir a Deus perdão pelos pecados rezando em silêncio. Um retorno à oração pessoal e íntima, muitas vezes esquecida por uma Igreja que deseja ter o controle sobre os fiéis.
A entrevista com p. Alberto Maggi é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 28-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Maggi, algumas reportagens falam de padres que celebram com os fiéis em segredo. O que acha disso?
Absurdo. Eles também dão comunhão sob as duas espécies, bebendo do cálice, alegando que é o sangue de Cristo e, como tal, não pode transmitir o vírus. Isso não é fé, é fanatismo. Bancam os cristãos das catacumbas e não sabem que provocam uma hecatombe.
Um erro grosseiro de visão de si, de Deus e do mundo?
Eles acham que são os únicos intermediários entre as pessoas e Deus, mas o Senhor não precisa de intermediários. Por muito tempo Deus tem sido visto como externo ao homem e distante. Jesus superou isso. João diz que para aqueles que amam o Pai, Jesus e o próprio Pai virão nele. Deus se manifesta não quando levantamos as mãos para o céu, mas quando arregaçamos as mangas e ajudamos os outros.
Para um determinado grupo do clero, tudo isso significaria perder o controle sobre os fiéis e, para alguns fiéis, sair de uma visão clerical da fé.
Se Deus está no coração do homem, não se pode controlá-lo. Mas quando você descobre Deus dentro de você tudo muda. Você não precisa mais procurá-lo e viver por ele, mas vive dele. Deus não lhe pede mais nada.
Qual é a utilidade de pedir a Deus para parar a pandemia?
Deus não pode detê-la, não pode mudar o curso da história, mas pode dar ao homem sua força para vivê-la.
Como você explica esse momento tão difícil?
Os danos do coronavírus também são o produto de uma política que inicialmente privilegiou os interesses econômicos de alguns em detrimento do bem comum. Francisco na “Laudato Si” pede um cuidado para a casa comum que poucos perseguem. O paraíso perdido deve ser conquistado agora.
Em que sentido?
Francisco assume uma leitura profética da narrativa da criação. O livro de Gênesis não olha para o passado, não é história, mas teologia. O autor não descreve a saudade por um passado, mas a profecia para o paraíso a ser construído.
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“Francisco nos ensina a redescobrir o divino que está dentro de nós”. Entrevista com Alberto Maggi, teólogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU