13 Janeiro 2020
O evento A economia de Francisco será realizado de 26 a 28 de março e contará com a participação de economistas e empresários com menos de 35 anos de todo o mundo.
A reportagem é de Salvador Cernuzio, publicada por La Stampa, 10-01-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os pedidos ultrapassaram a marca dos três mil, tanto que a pequena cidade de Assis onde se desenrolou a história humana de São Francisco, será dividida em 12 "aldeias" organizadas em macro áreas temáticas. Está previsto se tornar um evento de grandes proporções A Economia de Francisco, encontro internacional idealizado pelo Papa com empresários e economistas com menos de 35 anos de todo o mundo. Tanto é assim que alguém já o alcunhou de Davos do Papa, como a cidade suíça que hospeda no inverno a cúpula do Fórum Econômico Mundial, com os principais expoentes da política e economia internacionais.
Desde o anúncio em 12 de maio de 2019, 3.300 solicitações chegaram de 115 países dos cinco continentes. Até o momento, dois mil foram credenciados para o evento com o Pontífice: 41% mulheres e 56% homens. São pesquisadores, estudantes, doutorandos, empresários e dirigentes empresariais, inovadores sociais, promotores de negócios e organizações locais e internacionais, explica o padre Enzo Fortunato, diretor responsável pela comunicação. Os participantes mais jovens têm 12 anos e vêm da Eslováquia e Tailândia; as nações mais representadas são Itália, Brasil, EUA, Argentina, Espanha, Portugal, França, México, Alemanha e Grã-Bretanha.
Todos os jovens envolvidos tratam de meio ambiente, pobreza, desigualdades, novas tecnologias, finanças inclusivas, desenvolvimento sustentável. E precisamente com base nas diferentes áreas de interesse e ação, que se decidiu dividir a cidade seráfica em "aldeias" dedicadas a um dos grandes temas e questões da economia de hoje e de amanhã. Serão: trabalho e cuidado; gestão e doação; finanças e humanidade; agricultura e justiça; energia e pobreza; lucro e vocação; “policies for happiness”; CO2 da desigualdade; negócios e paz; "economia é mulher"; empresas em transição; vida e estilos de vida.
O horizonte para ler todo o evento, conforme explicado pelo bispo de Assis, Dom Domenico Sorrentino, é a figura de São Francisco, o "Pobrezinho" de quem o papa argentino quis herdar o nome e o espírito. “O desenvolvimento do evento tem uma relação com São Francisco, com sua experiência de vida e com suas escolhas, que têm valor também na economia. Foi ele quem escolheu entre uma economia do egoísmo e uma economia da doação. O seu ato de despir-se diante dos olhos do pai e do bispo de Assis é um ícone inspirador para o evento de março e o motivo pelo qual o papa quis que se realizasse em Assis".
"Francisco de Assis era um jovem comerciante, um party planner e um sonhador ... como muitos outros hoje", enfatiza o padre Mauro Gambetti, guardião do Sagrado convento. “A partir de sua experiência espiritual, surgiu um movimento que contribuiu decisivamente para o nascimento do mercado moderno. Humanidade, civilização e bem-estar cresceram rapidamente depois dele. Why not? Esta parece ser a provocação do Papa Francisco direcionada aos jovens. O desafio é enorme, porque não será vencido graças à competência, à genialidade ou à imitação de alguém – mesmo que seja São Francisco. O desafio é tão grande quanto a confiança depositada nos jovens. A escuta dos desejos mais profundos do coração e a capacidade de decidir pelas coisas que importam (paradoxalmente, não o dinheiro) abrirão o caminho para uma nova economia. Nós acreditamos nisso”.
Se com João Paulo II Assis havia se tornado, 33 anos atrás, a capital da paz e do diálogo entre as religiões, com Francisco, a cidade da Úmbria - destino todos os meses de milhares de peregrinos - está se preparando para se tornar o centro mundial da economia. Aliás, da "boa economia", aquela inclusiva e com alma, em contraste com a "economia que mata", denunciada pelo Papa Bergoglio desde o início de seu pontificado.
Uma economia que pode reconstruir pelas gerações do futuro. "Em Assis, os protagonistas serão os jovens, que apresentarão sua ideia sobre o mundo, porque já o estão mudando, na frente da ecologia, da economia, do desenvolvimento e da pobreza", explica o diretor científico do evento, o conhecido economista Luigino Bruni, que junto com o bispo Sorrentino, durante um encontro no Vaticano, deu ao Papa a inspiração para realizar a iniciativa.
A Economia de Francisco, acrescenta Bruni, "será um think tank, de ideias e práticas, em que os jovens se encontrarão em "ritmo lento" e terão a possibilidade de pensar e se perguntar, nos passos de São Francisco, o que significa construir uma nova economia na medida do homem e para o homem”.
No final do encontro - acompanhado nestes meses por cerca de oitenta eventos preparatórios - será assinado um pacto entre os jovens e o Papa. O objetivo, já esclarecido, é "dar uma alma à economia do amanhã que seja baseada na fraternidade e na igualdade". Quem afirma isso é a prefeita de Assis, Stefania Proietti, que acompanhará de perto o trabalho: A Economia de Francisco deve falar a todos, e todos devem se sentir envolvidos e partícipes de um evento excepcional e histórico. Porque o papel de Assis, reconhecido também pelo Papa com esse encontro, é o de ‘cidade-mensagem’, abre-alas de uma mudança que finalmente passa das palavras para a ação".
Quanto ao programa, o evento começará em grande estilo, quinta-feira, 26 de março, com a intervenção de dois vencedores do Prêmio Nobel, Amartya Sen e Muhammad Yunus. Já são conhecidos alguns palestrantes, nomes ilustres como: Kate Raworth, Jeffrey Sachs, Vandana Shiva, Stefano Zamagni, Bruno Frey, Anna Meloto, Carlo Petrini. A eles se somaram o economista Juan Camilo Cardenas, as filósofas Jennifer Nedelsky, Cécile Renouard e Consuelo Corradi.
Também garantiram sua presença especialistas em desenvolvimento sustentável, inteligência artificial e empresários de renome internacional, entre os quais John Frank, da Microsoft, e o empresário Brunello Cucinelli, nascido na Úmbria. Participarão numerosos banqueiros, frades, sociólogos, gestores e inovadores. Os jovens terão a possibilidade de ter conversas pessoais de aprofundamento com eles e também terão acesso a uma incubadora permanente de ideias-projetos-networking. Além disso, quem desejar poderá realizar visitas pessoais aos lugares franciscanos abertos até tarde da noite e pela manhã cedo.
Finalmente, deve ser ressaltado na véspera do encontro, nos dias 24 e 25 de março, um pré-evento com 500 jovens representando as várias regiões geográficas, culturas e âmbitos de pesquisa e negócios, que trabalharão na preparação do evento principal. Entre eles, Valentina, 28 anos, pesquisadora da Universidade de Oxford, estuda economia comportamental e economia do desenvolvimento. A jovem se considera entusiasmada pelo convite de Francisco; “para mim foi como um chamado, um convite para se envolver. Eu acredito que este seja um momento histórico em que devemos estar presentes. Francisco chama os jovens, busca o seu entusiasmo, paixão, pensamento. Quero ouvir as experiências dos outros, aprender com eles e ter tempo para parar e refletir sobre o futuro da nossa 'casa comum', colocando as minhas capacidades como economista ao serviço da comunidade. Eu gostaria de participar de um evento em que as perguntas, e não respostas, sejam a chave”.
Da mesma opinião é Steve, de Camarões, 27 anos, gerente de uma pequena empresa: “Participar da Economia de Francisco significa assumir o compromisso de construir outra economia”, ele afirma. “Estarei em Assis para viver uma experiência e depois poder compartilhá-la com os outros jovens do meu país, Camarões e toda a África”.
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Assis, está pronta a “Davos do Papa”, com dois mil jovens de 115 países - Instituto Humanitas Unisinos - IHU