27 Agosto 2019
Será realizado em março de 2020, mas haverá uma preparação com seminários e workshops que já estão sendo organizados. Trata-se do encontro proposto pelo Papa Francisco e dirigido aos jovens que será realizado em Assis, a cidade de São Francisco. Economistas e empresários, com menos de 35 anos, se reunirão para projetar juntos uma nova economia. A nossa entrevista é com Luigino Bruni, diretor científico do evento.
A entrevista é de Adriana Masotti, publicada pelo Vatican News, 24-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Já existem 2 mil inscritos no site oficial do evento "A Economia de Francisco" agendada para Assis, de 26 a 28 de março 2020. Quinhentos pedidos de participação de mais de 45 países, incluindo Japão, Angola, Brasil, Estados Unidos, Arábia Saudita, Portugal e Cuba. Esses primeiros dados são fornecidos por um comunicados vindo de Assis, no qual é anunciando, entre outras coisas, que o encontro proposto pelo Papa Francisco também está presente nas plataformas web e nas redes sociais: Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Flick, para se manter atualizado sobre o encontro de três dias dedicado a jovens economistas, empresários e estudantes com menos de 35 anos.
Em preparação para o encontro internacional em Assis, oficinas, laboratórios, seminários e conferências serão realizados na Itália e em todo o mundo, consta no comunicado, promovidos por universidades, empresas, redes empresariais, organizações, movimentos, associações para expor o pensamento e o modo de agir econômico dos jovens em preparação para 2020. No site oficial www.francescoeconomy.org é possível credenciar as próprias iniciativas, "Towards the economy of francesco", preenchendo o formulário específico.
Já confirmara a presença no encontro "A Economia de Francisco" os Prêmios Nobel Muhammad Yunus e Amarthya Sen e, entre outros, Bruno Frey, Tony Meloto, Carlo Petrini, Kate Raworth, Jeffrey Sachs, Vandana Shiva e Stefano Zamagni.
No entanto, o evento de Assis dará, sobretudo, espaço à voz dos jovens, com o objetivo de impulsionar uma economia mundial diferente, mais justa, sustentável e com um novo protagonismo daqueles que hoje estão à margem. Isso é explicado pelo economista aos microfones do Vatican News por Luigino Bruni que, por indicação do papa, é o diretor científico do evento e que, em 21 de agosto passado, apresentou o encontro de Rimini em um diálogo com alguns jovens:
"A economia de Francisco é um conjunto de elementos: é a economia de Francisco de Assis, não por acaso estaremos em Assis. Não devemos esquecer que tudo isso nasceu porque o Papa escreveu uma carta de convocação para os jovens: 'Estou esperando vocês em Assis para fazer um pacto por uma nova economia', escreveu ele. Portanto, é a economia do espírito de Francisco de Assis; e é também a economia do Papa Francisco com tudo o que ele disse nos últimos anos sobre o tema através da Laudato si', Evangelii gaudium, portanto toda a atenção desse pontificado do Santo Padre para o meio ambiente, a paz, a criação. Depois é a economia que nascerá, porque a economia de Francisco ainda não existe; nós não iremos lá para estudar algo que já está definido. É um processo que começa nestes meses, terá um momento importante em março em Assis e depois continuará. Aquele de Assis será um momento dedicado ao pensamento econômico dos jovens; não será a conferência habitual em que os professores conversam e os jovens tomam notas, mas onde os jovens conversam e dizem sua opinião sobre o mundo, sobre a economia, sobre a pobreza, sobre o meio ambiente, porque eles têm algo a dizer e nós precisamos apenas ouvi-los."
Uma pequena amostra foi oferecida por aquele encontro que você realizou recentemente na Reunião de Rimini, durante a qual se encontrou com alguns jovens empresários...
Sim, empresários e economistas, porque havia doutorandos em economia. Lá, os jovens contaram suas experiências, fizeram considerações, expuseram suas opiniões. Geralmente nós gostamos dos jovens, mas não os ouvimos o suficiente. Em determinados momentos, os jovens precisam falar. Em Rimini, foi muito bom porque eles falaram, apresentaram suas opiniões em uma relação de reciprocidade. Eles têm energia, gratuidade, desejo de futuro. Todos esses são patrimônios enormes. Nós talvez tenhamos outras coisas e na reciprocidade podemos nos encontramos.
Você mencionou anteriormente a pobreza. Quando se pensa em São Francisco de Assis, mas também no Papa Francisco, se pensa imediatamente na preferência pelos pobres. Como essa atenção se insere no quadro da nova economia que se quer criar?
Antes de mais nada, falando a respeito, colocando a pobreza no centro. Os pobres são os descartados da história e também pela narração da história. Então, ao falar de pobreza, se mostra que os pobres existem, que não são esquecidos, isso é importante. É por isso que vamos a Assis: para lembrar que a pobreza é um tema importante da economia atual, que não está resolvendo a pobreza, mas está aumentando as desigualdades.
A economia capitalista produz o descarte, os pobres são até culpabilizados. Como poderia um sistema econômico diferente responder às instâncias daqueles à margem?
Antes de tudo, se olharmos para a economia dos franciscanos, encontramos coisas interessantes nestes oito séculos: dos franciscanos nascem as primeiras ideias econômicas modernas, os primeiros bancos do século XV - os Monti di Pietà (Montepios); essa já é uma mensagem importante: não é possível fazer uma nova economia sem bancos, mas com bancos diferentes, com bancos que incluam os pobres, com os quais se combate a usura ... Depois temos o outro Francisco, o papa Bergoglio, que disse coisas importantes sobre o tema do meio ambiente, por exemplo. Hoje não podemos mais considerar a ética ambiental como um vínculo a ser respeitado, um custo a ser mantido; a ética ambiental deve se tornar diretamente economia. Depois o tema do meio ambiente, o tema da paz e o tema dos pobres: a pobreza não é uma maldição. Hoje existe um grande tema em torno disso. Hoje, como você disse, a ideia arcaica de que os pobres são culpados e amaldiçoados está voltando com grande força. Então, diremos que, em vez disso, o pobre não é amaldiçoado, é apenas desafortunado, mas também que existe uma dimensão de pobreza como compartilhamento da vida, como providência, como entrega aos outros, como gratuidade. Essa pobreza não é algo ruim. Portanto, existe uma pobreza como sobriedade, como libertação das mercadorias para escolher os bens, que é algo muito importante em um tempo como o nosso, no qual devemos revisar completamente a ideia de desenvolvimento que não pode mais estar ligada à acumulação das coisas, de mercadorias, de "objetos", mas deve estar ligada ao acúmulo de relações, de gratuidade, de reciprocidade.
Recentemente, os empresários estadunidenses declararam que não pode ser apenas o lucro o objetivo das empresas. Qual o papel do lucro no tipo de economia que se deseja delinear para o futuro?
O lucro é um indicador; é óbvio que uma empresa que não obtém lucro fecha, porque gera perdas. O problema é a maximização do lucro como dogma, ou seja, onde a empresa faz de tudo para maximizar os lucros ou, pior ainda, os rendimentos, ou seja, pessoas que não trabalham e vivem do que fizeram ontem, investindo as energias para proteger seus direitos adquirido em vez de inovar. Portanto, o lucro não deve ser demonizado; deve ser relativizado o lucro como único valor, como maximização de tudo. Então, esses 181 gestores dessas grandes multinacionais disseram o que já se sabia: esse tema não nasce hoje. O interessante é que eles quiseram escrever isso em um documento, que o tornaram público, porque estão entendendo que o mundo está mudando e eles também devem mudar. Eles sabem que cada vez mais os cidadãos e os consumidores irão lhe punir se você não for além dos lucros. As empresas intuíram essa mudança nas preferências do consumidor e se comportam de acordo, não é que esses gerentes sejam altruístas, são pessoas que conhecem o mercado e estão entendendo que os ventos estão mudando. Sempre devemos olhar com simpatia quando algum gerente faz declarações humanísticas, porque, quando o faz, isso nos indica as tendências que devem ser levadas muito a sério.
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Os trabalhos em andamento para o evento “A economia de Francisco". Entrevista com Luigino Bruni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU