20 Novembro 2019
O desalento, uma categoria do IBGE, que indica aquelas pessoas que desistiram de procurar trabalho pode estar mascarada. Não é improvável que seja ainda maior. A ‘medição’ da pesquisa pode esconder uma condição subjetiva que a torna ainda mais grave, escreve Cesar Sanson, professor na área da sociologia do trabalho, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
Foto: Agência Brasil
Desalentado é uma categoria definida pelo IBGE. Encontra-se na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua. São aqueles que desistem de procurar trabalho. O desalento atingiu 4,9 milhões de pessoas no 2º trimestre de 2019 revela a última pesquisa do PNAD.
A mesma pesquisa mostra que o desemprego é superior a 12 milhões de brasileiros e o contingente de pessoas na informalidade se aproxima a 40 milhões de trabalhadores. A informalidade atingiu o recorde da série histórica, iniciada em 2012, chegando a 41,4% da força de trabalho ocupada no Brasil, no Nordeste chega a 60%. A pesquisa destaca ainda que há cerca de 3,2 milhões de desempregados que estão à procura de trabalho há dois anos ou mais.
Esses dados alarmantes, desemprego que permanece alto, informalidade crescente e o tempo infindável para se conseguir um emprego, podem auxiliar nas explicações do desalento. Podem ajudar a compreender os motivos de que porque o desalento é alto e paradoxalmente porque não é ainda maior. Ou seja, a situação está ruim, mas poderia ser ainda pior.
A primeira hipótese para o alto índice do desalento é de que a “desistência” esteja associada ao fato de que o emprego com carteira assinada está se tornando um privilégio. Logo, as pessoas desistem de procurar porque de antemão consideram que não encontrarão esse tipo de trabalho.
Por outro lado, e essa é outra hipótese, como muitos não querem se subordinar a atividades informais que pagam pouquíssimo, não é improvável que a ‘desistência’ esteja associada a resistência em entrar ou permanecer no mercado informal. A hipótese é de que essas pessoas ao mesmo tempo em que desistiram de tentar um emprego formal, também recusam o informal, aumentando assim o desalento.
Mas, o desalento pode ser ainda mais grave e mascarar uma condição subjetiva. Não é improvável que o desalento seria ainda maior se muitos não se subordinassem a atividades informais. A hipótese aqui é de que muitos deixaram de procurar um emprego formal porque consideram inatingível, logo o jeito é ficar com o que restou, o que é possível, o que se tem para o momento, ou seja, o trabalho informal, seja trabalhando para terceiros, seja por conta própria. Temos aqui um tipo de desalento mascarado. As pessoas encaram o que encontram, mas não o que desejam.
O desalento, portanto, encobre uma realidade perversa. Há a sua face visível, daqueles que simplesmente desistiram; mas ele pode estar presente mesmo nas atividades informais. O desalento aqui não é medido, mas pode estar escondendo a condição daqueles que tornaram o que era para ser uma exceção uma regra, ou seja, já não acreditam mais que um dia terão um emprego formal, logo tornam a situação da informalidade como a normalidade.
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Uma sociedade de desalentados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU