“Estamos vivendo na civilização do hardware militar, não para a guerra, mas para a fronteirização”, afirma Achille Mbembe

Foto: Wikimedia Commons

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15 Outubro 2019

Vivemos sob um novo regime de segurança global, segundo o filósofo camaronês Achille Mbembe: "Trata-se de um regime caracterizado pela militarização e miniaturização das fronteiras".

A reportagem é de Ángel Vargas, publicada por La Jornada, 07-10-2019. A tradução é do Cepat.

Em visita ao país [México], o também teórico político, que vive na África do Sul, proferiu, na segunda-feira [07/10], a conferência magistral Corpos como fronteiras: Uma crítica ao regime contemporâneo de migração global, como parte da Cátedra de Arte e Direitos Humanos Nelson Mandela, da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).

A conferência ocorreu no auditório do Museu Universitário de Arte Contemporânea (MUAC), onde o coordenador de Difusão Cultural da máxima casa de estudos do país, o escritor Jorge Volpi, acolheu o renomado intelectual africano, a quem reconheceu suas contribuições ao debate global sobre questões pós-coloniais e a vigilância do poder.

Durante cerca de duas horas, Achille Mbembe falou sobre como as fronteiras no mundo foram transformadas, cada vez mais circunscritas, não se encontrando mais nos locais onde originalmente estavam.

Mencionou como exemplo que, no caso da Europa, as fronteiras não estão mais no Mar Mediterrâneo, mas no Senegal, Burkina Faso, no deserto do Saara e em qualquer outra parte da África.

“As fronteiras se moveram com a mobilização dos corpos. Essa militarização e miniaturização nas fronteiras nunca termina e o monitoramento e a vigilância foram acentuados como um modo privilegiado de prevenção de riscos”, afirmou.

Segundo o pensador, professor em diversas universidades da África e dos Estados Unidos, “estamos vivendo na civilização do hardware militar, não para a guerra, mas para a fronteirização. Uma prática de transformar os espaços em uma espécie de prisão para controlar movimentos civis.”

A função desse regime global de segurança, opinou, é melhorar a mobilidade para uns, enquanto se impede a de outros, por razões de cor e textura da pele. Ou seja, especificou, por razões raciais, é dado um tratamento ilegal e injusto.

“Esse regime está assentado em bases para a opressão racial, uma forma de violência. Nunca antes na história da humanidade houve tantas pessoas presas no mundo como hoje”, disse Achille Mbembe.

O filósofo disse que, ao falar sobre fronteiras e migração, assim como de expulsão, deportação e encarceramento, de fato, está se falando sobre a incapacidade de separar o destino do ser humano e dos seres não humanos.

“Quando falamos sobre migração, o que fazemos é falar sobre a durabilidade do planeta e a possibilidade de sua extinção. É a isso que me refiro quando falo sobre migração”, explicou.

“Não estou falando apenas dos migrantes que se deslocam de um lugar para outro, mas sobre até que ponto o planeta será reeditado, compartilhado o mais equitativamente possível, como uma condição de nossa sobrevivência e de outras espécies. É isso que está em jogo nessa tentativa de redistribuição planetária, de redistribuição das possibilidades de mobilidade.”  

 

 

 

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