14 Agosto 2019
Desde junho, Hong Kong vem sendo sacudida por protestos que, em muitos casos, terminam em violentos confrontos com a polícia. O aeroporto internacional decidiu cancelar seus voos pelo segundo dia consecutivo, após os manifestantes ocuparem o terminal.
A reportagem é de Alison Rourke, publicada por El Diario, 13-08-2019. A tradução é do Cepat.
Inicialmente, a agitação se centrava em um projeto de lei que permitiria a extradição de pessoas de Hong Kong para a China, onde o partido comunista controla o sistema judicial. Muitos moradores de Hong Kong temiam que as autoridades chinesas usassem essa lei para ir contra seus inimigos políticos. Esta erosão nos direitos civis da ilha poderia significar o fim da política de "um país, dois sistemas" em vigor desde a transferência da soberania do Reino Unido para a China, em 1997. Milhões de pessoas se juntaram às marchas de rua contra o projeto, paralisando a cidade.
Os protestos deixaram de ter uma frequência semanal para se organizar quase todos os dias. A brutalidade da resposta policial, que em violentos confrontos usou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a população (uma mulher perdeu a visão em um olho), levou os manifestantes a aderirem um novo e mais amplo objetivo de defesa da democracia.
O projeto de extradição foi suspenso em meados de junho por Carrie Lam, diretora executiva do território, mas os manifestantes exigem sua retirada oficial. Além da renúncia de Lam, é isso o que pedem:
- A retirada completa da proposta de lei de extradição que havia sido proposta;
- Que o governo deixe de usar a palavra "distúrbios" para se referir aos protestos;
- A libertação incondicional dos manifestantes presos e a retirada de todas as acusações contra eles;
- Uma investigação independente sobre a ação policial;
- A implementação de um verdadeiro sufrágio universal.
Os protestos no aeroporto vêm crescendo em intensidade, culminando em seu fechamento temporário e na suspensão de centenas de voos, incluindo voos de longa distância para os Estados Unidos, Austrália e Reino Unido. Lam disse, nesta terça-feira, que "as atividades que violam a lei em nome da liberdade" estão prejudicando o estado de direito no território e que a recuperação dos protestos pode levar muito tempo.
A autoridade de aviação civil da China advertiu a Cathay Pacific, companhia aérea de Hong Kong, sobre a participação de seu pessoal nos protestos. A partir de 11 de agosto, informaram que todos os funcionários da companhia aérea que "apoiem ou estejam envolvidos em manifestações ilegais" não poderão voar para a China continental ou trabalhar lá no transporte aéreo.
A China acusa as potências estrangeiras, particularmente os Estados Unidos, de encorajar manifestações em Hong Kong. Os meios de comunicação estatais passaram de uma censura geral das imagens das manifestações e de um quase completo silêncio sobre os protestos a chamá-los de "distúrbios".
Pequim descreve os manifestantes como "radicais", "baderneiros" e "terroristas" que buscam derrubar todo o sistema com o seu pedido de independência. Veículos do exército chinês foram vistos na fronteira, alimentando o medo da iminente repressão violenta.
O Reino Unido, a antiga potência colonial de Hong Kong, pediu uma investigação independente sobre os protestos, insistiu no direito ao protesto pacífico e condenou a violência. A China criticou a intervenção, que descreveu como "simplesmente incorreta", com o telefonema a Lam do ministro das Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, para "exercer pressão".
A China pediu explicações de Washington por uma informação publicada nos meios de comunicação controlados pelo Partido Comunista da China, segundo a qual alguns diplomatas estadunidenses entraram em contato com os líderes estudantis dos protestos.
A resposta de um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos foi chamar a China de "regime mafioso" por ter tornado públicas fotografias e dados pessoais do diplomata. Nesta terça-feira, um alto funcionário do governo Trump pediu a "todas as partes" que evitem a violência.
Com o protesto do aeroporto, o canadense Justin Trudeau e o australiano Scott Morrison manifestaram sua preocupação com o tratamento de uma crise política sem precedentes. Morrison rejeitou que os protestos possam ser descritos como "distúrbios" e Trudeau pediu para "diminuir as tensões".
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Crise em Hong Kong. O que os manifestantes estão pedindo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU