15 Mai 2019
O dicastério englobará a Esmolaria Apostólica e o Óbolo de São Pedro.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por L’HuffingtonPost.it, 14-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reforma da Cúria Romana, desejada pelos cardeais no momento da eleição do Papa Francisco, tem muito a ver com a história do edifício ocupado na Via Santa Croce in Gerusalemme, em Roma. E com a religação da energia elétrica na noite de sábado pelo esmoleiro pontifício, o cardeal Konrad Krajewski.
Não apenas por um motivo, mas sim por dois. O primeiro, que pode ser deduzido a partir do esboço do documento enviado às Conferências Episcopais nacionais e antecipado antes da Páscoa pela revista católica espanhola Vida Nueva, é que, na nova Constituição que substituirá a de João Paulo II, Pastor bonus, está prevista a criação do Dicastério da Caridade, que englobará a Esmolaria Apostólica (agora liderada pelo cardeal-eletricista) e o Óbolo de São Pedro (dinheiro coletado em todo o mundo no dia 29 de junho para a caridade do papa, que atualmente é gerido pela Secretaria de Estado e que, no passado, foi objeto de muitas polêmicas acerca da destinação dos fundos).
O segundo motivo é que os rumores dos últimos dias sugerem que, à frente desse novo dicastério (que administrará muitos recursos financeiros), justamente o “Padre Conrado” será escolhido pelo papa. E isso seria considerado um “prêmio” pela atividade do prelado polonês, esmoleiro desde o dia 3 de agosto de 2013. Depois, há quem chegue a sugerir – maliciosamente – que o cargo seria até um “prêmio” pela reconexão da energia elétrica no palácio romano ocupado, estabelecendo um nexo de causa e efeito instrumental e francamente inverossímil.
O projeto do papa sobre a criação do dicastério remonta a pelo menos dois anos atrás. Desde quando o barrete cardinalício foi imposto a Krajewski, em junho de 2018 (o cargo de esmoleiro existe desde o ano 1200 e envolve, em si mesmo, o status de arcebispo, assim como para os núncios, mas ninguém jamais havia sido criado cardeal), dificilmente se poderia identificar um candidato melhor do que ele para guiá-lo.
A reforma, que está praticamente pronta, com o título provisório de Praedicate Evangelium, poderia ser até assinada por Francisco no dia 29 de junho, festa de São Pedro e São Paulo, depois de uma última leitura pelo Conselho dos seis cardeais que ajudam o papa, no início do próximo mês.
Hoje, enquanto isso, o secretário de Estado e o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Peter Appiah Turkson, saíram em defesa do “Padre Conrado”. “Vi que houve muitas interpretações e muitas polêmicas: pessoalmente, acho que o esforço deveria ser o de entender o sentido desse gesto, que é o de chamar a atenção de todos para um problema real que envolve pessoas, crianças e idosos”, disse o cardeal Pietro Parolin.
“O gesto do esmoleiro é ilegal? Também diziam a Jesus que as coisas que ele dizia e fazia violavam a lei”, respondeu o cardeal Turkson. “Um gesto que não queria ser de falta de respeito pela lei, mas sim de misericórdia” para com as 420 pessoas presentes lá (incluindo 98 crianças) sem eletricidade há cerca de uma semana, ressaltou o cardeal ganense.
Parolin também rebateu Salvini [ministro do Interior italiano], dizendo que “a Igreja já ajuda a todos”, portanto também aos italianos.
Os cardeais que “cometem um crime na Itália, que não diz respeito à função de governo da Santa Sé, são puníveis. Mas, se o ato for realizado por ‘estado de necessidade’, não pode ser punido”, explicou o ex-presidente da Corte Constitucional, Cesare Mirabelli.
E Tom Kington – que escreveu uma crônica sobre o edifício ocupado no Times de Londres – relatou no Twitter as palavras que lhe foram ditas por uma mulher que precisa de um respirador para viver: “Sem eletricidade, eu estava começando a ficar roxa e morreria sem ele”. Isto é, sem o “Padre Conrado”.
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Um superministério da caridade no Vaticano: na ''pole position'', o esmoleiro Konrad Krajewski - Instituto Humanitas Unisinos - IHU