01 Setembro 2018
Embora os bispos norte-americanos pareçam divididos em reação à sensacional acusação de um ex-embaixador papal nos EUA de que o papa Francisco ignorou as advertências sobre má conduta sexual do ex-cardeal Theodore McCarrick, prelados em outras partes do mundo, especialmente em culturas latinas, parecem estar mostrando forte apoio ao pontífice.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 31-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Declarações recentes nesse sentido foram ouvidas de Portugal, Peru, Espanha e da própria Argentina do pontífice.
"É uma campanha organizada por ultraconservadores para ferir mortalmente o papa", disse o cardeal António dos Santos Marto, de Fátima, Portugal, falando ao jornal eletrônico português Observador sobre a tempestade desencadeada pela acusação de Viganò.
Nomeado cardeal por Francisco no início deste ano, Marto disse que o papa sairá fortalecido da controvérsia, acrescentando, no entanto, que "neste momento é necessário que toda a Igreja manifeste seu apoio ao papa".
Marto prevê que, em algum momento, Francisco mudará de tática e, em vez de evitar dar uma resposta à acusação, como fez ao falar com jornalistas no caminho de volta da Irlanda, ele a abordará de frente, bem como o autor da carta e os que estão por trás disso.
"Agora estamos vendo muitas negações do que o arcebispo diz", disse Marto.
“Em primeiro lugar, a carta foi preparada há muito tempo com jornalistas; alguns dos Estados Unidos, outros da Itália. Especificamente, o jornalista Marco Tosatti, que confessou ter passado três horas com o arcebispo para editar o texto, e que disse que o momento exato da viagem do papa à Irlanda foi escolhido para que "a bomba" - segundo o jornalista - tivesse seus efeitos multiplicados”.
“[Como] pastores e fiéis, queremos mostrar-lhe nossa proximidade fraterna e filial neste momento em que você sofre um ataque implacável em que diferentes interesses mundanos se unem”, disse o comunicado divulgado pelos bispos argentinos na quinta-feira.
"Compartilhamos suas dores e esperanças", disseram os prelados argentinos.
A declaração foi assinada pelo bispo Oscar Ojea, de San Isidro, presidente da conferência episcopal local, e pelo bispo Carlos Malfa, de Chascomús, secretário-geral.
Os prelados evitaram fazer qualquer referência direta a Viganò ou sua carta de 11 páginas. Em vez disso, disseram que sabem que Francisco pode dizer como São Paulo: “Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o que lhe confiei até aquele dia".
Os argentinos encerram sua declaração pedindo que o Espírito Santo encha o papa com “sabedoria e força” para que, como sucessor de Pedro, “continue nos confirmando na fé da Igreja”.
Em uma carta endereçada ao papa e tornada pública pela conferência dos bispos peruanos, os prelados expressaram sua “proximidade” a Francisco em meio a “tentativas de desestabilizar a Igreja e seu ministério”.
"Queremos trazer-lhe a nossa proximidade na certeza de que a promessa de Jesus sempre mantém a rocha sobre a qual Ele construiu sua Igreja", disseram os peruanos, enfatizando uma citação do Evangelho de São Mateus: "Você é Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
Em vista do que descreveram como tentativas de “desestabilizar a Igreja e seu ministério”, eles proclamaram sua fé no “Cristo ressuscitado” e confirmaram seu “apoio pleno, fraternal e episcopal ao seu modo lúcido, corajoso e firme de conduzir o barco de Cristo”.
Na quarta-feira, o cardeal Ricardo Blázquez, arcebispo de Valladolid e presidente da Conferência Episcopal Espanhola, enviou uma carta ao papa da cidade de Medellín, na Colômbia, onde participava de um evento que celebrava o 50º aniversário da conferência dos bispos da América Latina (CELAM).
A carta foi parcialmente compartilhada no site dos bispos espanhóis. Nela, Blázquez disse ao papa que "você não está sozinho, a Igreja está orando por você como, em outra época, fez por Pedro".
"Pedimos ao Senhor que ele continue a sustentá-lo em suas lutas diárias pelo Evangelho, que ele lhe dê a sua paz e a capacidade de dar àqueles que estão cansados uma palavra de encorajamento", escreveu o cardeal.
Na carta, Blázquez também agradeceu a Francisco por seu “incansável” trabalho pastoral e dedicação ao “ministério que o Senhor confiou a você”.
O cardeal lembrou que “proclamar o Evangelho com fidelidade e liberdade, denunciar com coragem o que Deus reprova, pedir humildemente perdão pelos pecados e erros dos membros da Igreja, clero e leigos, manifesta-se ocasionalmente sob a forma de uma cruz muito pesada para você, unido em comunhão com Jesus Cristo, o Bom Pastor”.
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Norte-americanos divididos, mas bispos de outros lugares apoiam o papa na acusação de encobrimento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU