07 Junho 2018
Em 2 de junho último, o papa promoveu a arcebispo de La Plata - o segunda arquidiocese mais importante de Argentina, depois de Buenos Aires - o seu teólogo pessoal, Victor Manuel Fernandez, de 55 anos. Ele sucede o Arcebispo Héctor Aguer, após sua renúncia devido ao limite de idade.
O comentário é de Antonio Dall’Osto, publicado por Settimana News, 05-06-018.
Fernandez é um personagem que tem uma longa carreira às suas costas. Quando jovem, depois de estudar filosofia e teologia no Seminário Maior de Córdoba, completou sua formação com os estudos teológicos na Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA), em Buenos Aires. Ordenado sacerdote em 15 de agosto de 1986, ele obteve titulação em Teologia Bíblica com especialização na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, em 1988. Em 1990, completou seu doutorado em teologia na Faculdade de Teologia da UCA com uma tese sobre a relação entre saber e vida de São Boaventura.
Foi professor de ética, psicologia, hermenêutica, antropologia, exegese bíblica, Novo Testamento, teologia espiritual e homilética. Atualmente ensinava teologia moral e Evangelhos sinóticos na faculdade de teologia da UCA, onde era um professor titular. Na mesma faculdade ele também foi vice-diretor desde 2002 e diretor de julho de 2008 a dezembro de 2009, quando assumiu o cargo de reitor da Universidade. De setembro de 2007 a dezembro de 2009, foi presidente da Sociedade Argentina de Teologia. Em 13 de maio de 2013, o Papa Francisco nomeou-o arcebispo titular de Tiburnia.
Fernandez também é conhecido por seus escritos de espiritualidade em que alia erudição, senso prático, contribuições da psicologia, exegese bíblica e diálogo com as diversas religiões. Ele também realizou vários cursos e conferências na Argentina e em outros países.
Mas o que o caracteriza é a estreita relação que sempre teve com o atual papa Francisco desde a época em que ele ainda era arcebispo de Buenos Aires. Nos anos 1990 havia sido designado por ele como consultor em numerosos comitês dentro da Conferência episcopal argentina e do Conselho latino-americano dos bispos, o CELAM.
Por sua grande versatilidade em escrever, ele o havia convidado para a 5ª Conferência do Episcopado Latino-Americano, realizada em 2007, no santuário mariano de Aparecida no Brasil. Conta-se que Bergoglio - que era então chefe do Comitê de Redação da Conferência Geral - confiou plenamente na capacidade de Fernandez para apreender e resumir os diferentes pontos de vista que surgiram na Conferência.
Uma vez Papa, Francisco confiou-lhe a tarefa de elaborar sua primeira exortação apostólica Evangelii gaudium. Mais tarde, ele nomeou-o vice-presidente da comissão encarregada de redigir a mensagem do Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a família em outubro de 2014 e da 14ª assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2015. O Papa nomeou-o membro da Comissão de elaboração da mensagem final.
Mas Victor Manuel Fernandez também esteve envolvido na preparação do projeto de Amoris laetitia e recebeu críticas por ter amplamente inserido no documento muitos de seus escritos.
Victor Manuel Fernandez, após a sua nomeação como arcebispo de La Plata, em 2 de junho passado, em uma breve entrevista para José M. Vidal disse que seu programa agora consistirá agora em levar a sério a Evangelii gaudium. Aqui está o texto da entrevista.
Fernandez, o que sentiu quando recebeu essa indicação?
Eu senti duas coisas misturadas entre si. Por um lado, alegria, porque o período mais feliz foram os meus anos como pároco. A atividade acadêmica que exerci na última década me agradava, mas a nomeação como bispo me levou muito a desejar uma noiva, uma igreja local em que encarnar-me.
Por outro lado, no fundo do coração há um pouco de medo. Espero que seja o santo temor de Deus ou um senso de responsabilidade. Peço aos amigos que rezem por mim para que eu possa dar o melhor do que Deus me doou.
Está disposto em traduzir em prática essa Igreja em saída que pede Francisco e seu lema episcopal "No meio do povo"?
Sem dúvida. O programa é o Evangelii gaudium, mas levado a sério, não como um slogan. E estar "no meio do povo" é o que eu desejo. Minha principal atividade será a visita permanente às comunidades e iniciar os processos de reunião e sinodalidade.
Suas três prioridades?
Não quero estabelecer ou impor prioridades agora, sem primeiro ouvir e conhecer. Mas se eu pensar em prioridades pessoais, a coisas que me mobilizam neste momento, eu diria que são as seguintes:
Nenhuma recomendação especial por parte do papa?
Não. Na verdade, ele não costuma pedir coisas. Ele apenas me disse para cuidar de perto o seminário, pedir iluminação ao Espírito Santo e confiar.
Depois de anos dedicados ao mundo intelectual e universitário, sente o desejo de se concentrar na missão e na atividade pastoral?
Sim, embora deva reconhecer que meus anos de atividade acadêmica me ensinaram muitas coisas e espero transmitir o que aprendi na nova missão.
A Igreja hierárquica argentina se encaminha definitivamente no caminho da reforma do Papa?
Está se tornando mais evidente o feeling com Francesco.
Tem medo de encontrar "resistências" por parte do clero ou dos fiéis?
É uma possibilidade que sempre existe. Mas meu estilo é sempre procurar pontos de contato. Espero que ocorra o mesmo também do outro lado.
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Manuel Fernandez, Arcebispo de La Plata - Instituto Humanitas Unisinos - IHU