16 Agosto 2017
Mais um sinal de que não há quem pare o movimento com o Papa Francisco rumo a uma Igreja colaboradora e não clerical. Víctor Manuel Fernández, reitor da Pontifícia Universidade Católica Argentina e uma das pessoas mais próxima ao Pontífice, não só colocou em questão a obrigatoriedade do celibato clerical, como também destacou que “poderia haver outro tipo de estrutura de organização nas paróquias” que a do sacerdote na cabeça.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 15-08-2017. A tradução é do Cepat.
Em uma entrevista com La Voz del Interior de Córdoba, publicada em duas partes, o arcebispo Fernández insistiu, antes de mais nada, em que “o celibato não é uma norma de fé, de maneira que em algum momento é possível discutir se convém ou não convém”. Isso sim, atualmente, “a Igreja acredita que convém”, dado que os religiosos celibatários são livres para dedicar “todas as energias” em suas tarefas, e isso “de uma forma até muito eficiente”. Mas, isso não quer dizer, segundo o argentino, que a Igreja não considere que, em algum momento, a exigência do celibato clerical obrigatório “possa ser modificada”.
As modificações que poderiam sofrer esta disciplina de celibato para os sacerdotes, continuou Fernández, podem ser intuídas da grande contribuição que os diáconos permanentes, que são, em muitos casos, homens casados, têm dado à Igreja.
“Muitas pessoas que têm uma vocação forte ao matrimônio descartam o sacerdócio, mas é necessário levar em consideração que o diaconato é ordem sagrada”, disse o colaborador do Papa. “Na prática”, detalhou, o diácono permanente” pode exercer funções parecidas às de um pároco”, embora lhe são proibidas tanto a celebração da missa, como ouvir uma confissão.
É que, como também apontou Fernández, colocar o debate em termos de se um sacerdote deve ou não viver de forma casta não chega ao miolo da mudança que o Papa Francisco está incentivando na Igreja. Isto é, que a organização da comunidade não seja uma hierarquia na qual o que prima é o poder.
“Às vezes, discute-se muito o celibato porque é compreendido como poder, com o pároco como cabeça da comunidade”, ressaltou, nesta linha, o acadêmico. Mas, pode haver perfeitamente “outro tipo de organização, onde não necessariamente precise contar com um varão”, inclusive.
Se o focamos, declarou Fernández, como “uma questão de distintos ministérios, uma comunidade na qual crescem e amadurecem os diferentes carismas, tanto de varões como de mulheres”, será aí onde estarão os verdadeiros frutos da revolução franciscana. Haverá uma comunidade “plena de riqueza, porque há muitas pessoas que se complementam entre si, com uma multidão de carismas”.
Se não se olha tudo, em outras palavras, como se a paróquia dependesse só dessa pessoa que confessa e celebra a missa, é possível abrir novos horizontes para toda a Igreja.
“Sem a necessidade de eliminar o celibato, poderia haver outro tipo de estrutura de organização nas paróquias, na qual incomode menos que o padre deva ser celibatário e que isso seja menos questionado”, afirmou Fernández, neste sentido. “Pensar mais em uma comunidade que em uma pessoa que mande”, disse o prelado. É disso que, enfim, se trata.
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“Pode haver outro tipo de organização na Igreja, onde não precise contar com um varão”, diz Víctor Manuel Fernández - Instituto Humanitas Unisinos - IHU