02 Junho 2018
"Perdoe-me se escrevo esses meus pensamentos, porque não o conheço e não gostaria absolutamente de ofendê-lo, mas a sensibilidade feminina, às vezes, poderia ajudar a ir mais longe, a refletir e ousar"
A Carta é da Irmã Stefania Baldini, das Irmãs Dominicanas da União de São Tomé de Florença, publicada por Gionata, 29-05-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Excelência, recebi o convite de escrever-lhe para expressar a minha opinião sobre a vigília convocada em sua diocese, e sobre as pressões que gostariam de induzi-la a proibir o evento.
Eu sou uma freira dominicana e completei 86 anos. Vivo em Florença e há apenas alguns anos, por uma série de circunstâncias, conheci grupos de católicos homossexuais com os quais mantenho amizade. Li livros, participei de encontros até em nível nacional, para compreender, ouvir e assumir pelo menos um pouco das suas dificuldades. Que descobri serem, por vezes, insustentáveis.
Quando aconteceu a Parada do Orgulho Gay em Florença eu participei. Queria estar com eles, ser uma deles. Nem foi tão difícil vencer o desconforto, porque o Senhor estava satisfeito. Eu li isso nos sorrisos e abraços de muitas garotas que estavam lindas com seus penteados e que ficaram agradecidas quando algum de seus amigos dizia a elas que eu era uma freira.
Parece uma grande verdade o que Oscar Wilde escreveu "as coisas mais importantes da vida não se estudam e nem se aprendem, encontram-se." E quanto mais penso, mais me parece que o Homem Jesus tenha vivido e tenha nos ensinado justamente isso.
Perdoe-me se escrevo esses meus pensamentos, porque não o conheço e não gostaria absolutamente de ofendê-lo, mas a sensibilidade feminina, às vezes, poderia ajudar a ir mais longe, a refletir e ousar.
Nos primeiros tempos, quando comecei a lidar com essa marginalização - uma das tantas que todos nós, em alguma medida, ajudamos a manter, mesmo sem perceber - um amigo de 22 anos, depois de ler uma fria declaração de uma autoridade eclesiástica, ficou alguns minutos em silêncio, depois me disse "... mas eles percebem, essas pessoas, de quantos suicídios são pelo menos parcialmente responsáveis? ... Eu conheci tantos jovens que...". Eu, aquele momento, aquele olhar, aquela voz, jamais os esqueci. Não tenho mais opções. Escolhi aquele lado sempre e em todas as situações.
Obrigada pela atenção. Rezo para que o Senhor o ajude na tarefa de semear esperança e alegria de comunhão. Sinceros votos, Irmã Stefania Baldini, Casa do SS. Rosario de Florença.
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Excelência, como freira gostaria de contar-lhe por que farei a vigília pela superação da homotransfobia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU