30 Abril 2018
Das três "vítimas Karadima" hóspedes do Papa Francisco no Vaticano, desde quinta-feira passada, James Hamilton Sanchez (54 anos) é a segunda que se reuniu no último sábado com o Santo Padre na Domus Santa Marta, de acordo com o canal Tv13 de Santiago. Em um primeiro momento, tinha sido divulgado que seria recebido Juan Carlos Cruz – mas, de acordo com as últimas informações, ele será recebido no domingo.
A informação é publicada por Il Sismografo, 28-04-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na sexta-feira, 27 de abril o Papa Bergoglio reuniu-se por mais de duas horas com José Andrés Murillo Urrutia (43 anos) e, no sábado, foi a vez de Juan Carlos Cruz Chellew (54 anos).
James Hamilton, nascido em 18 de outubro de 1965, foi considerado o "mais severo e intransigente acusador de Karadima" e a julgar pelo que ele disse nos últimos oito anos, é justamente isso. Aliás, Hamilton, agora famoso cirurgião gastroenterologista no Chile, foi igualmente severo e definitivo com o cardeal Ricardo Ezzati e Francisco Javier Errázuriz, arcebispo de Santiago e emérito da mesma arquidiocese.
Para o dr. Hamilton esses dois cardeais "são culpados de numerosas condutas intoleráveis e contrárias à fé cristã", assim como Eugenio Zúñiga, juiz do tribunal eclesiástico chileno que analisou a anulação do primeiro casamento de James Hamilton com Verônica Miranda. Este juiz tentou fazê-lo assinar uma declaração na qual reconhecia ter grandes dúvidas sobre a sua heterossexualidade, e ser maior de idade quando teria sido abusado por Karadima. "Se assinar", disse o juiz, "terá a anulação em pouco tempo."
O episódio Hamilton-Karadima está fortemente entrelaçado com a crise do primeiro casamento do médico gastroenterologista a tal ponto que no processo civil, encerrado por prescrição, o padre teria planejado usar a união nupcial (1992) como uma arma de chantagem.
De fato, o próprio Hamilton reconheceu que foi Karadima a empurrá-lo para o casamento com Verônica, para depois, a cada pedido de relações sexuais, dar-lhe a entender que se ele se recusasse, iria contar tudo para a esposa.
James Hamilton entrou na Paróquia Sagrado Coração de "El Bosque", dirigida por Karadima, em 1983. Ele tinha 17 anos. Os abusos começaram imediatamente e foram contínuos e insistentes por um longo período, 20 anos, até 2003, quando James Hamilton já estava casado e tinha os primeiros filhos. No processo da justiça chilena, Hamilton é o acusador que relata as coisas mais arrepiantes e cruas de Karadima, todas confirmadas também no processo canônico que terminou com a condenação do sacerdote (18 de março de 2011). [1]
Hamilton, em várias entrevistas concedidas a jornais chilenos, reconheceu que sua vida havia sido completamente dominada e, na prática, ele tinha a sensação de não ter sobre ela qualquer controle, "de ser um refém total e absoluto nas mãos desse padre pervertido, megalomaníaco, possuído e diabólico". "Por muitos anos, mesmo quando eu já estava em terapia, muitas vezes me perguntava onde estava o centro da minha vida, quem eu era e como era possível estar dentro de uma experiência tão devastadora para a minha personalidade. Eu me vi cair em um precipício sem qualquer possibilidade de salvação. Atormentava-me uma pergunta: não tanto o que vivia e experimentava com Karadima, mas o que eu havia me tornado naquele inferno".
“Karadima era muito hábil em manter sob o seu controle absoluto os relacionamentos e as dinâmicas interpessoais, porque, como toda pessoa perversa, sabia usar a moral e o discurso ético a seu favor, a ponto de criar uma espécie de nova moral e uma nova ética, toda particular, mas onde o seu deus justificava tudo, até mesmo as coisas mais abomináveis”.
No caso trágico de Hamilton existe o relato também de sua mãe, a Sra. Consuelo Sánchez, que em 15 de maio de 2014, enviou uma carta ao arcebispo de Santiago, o Cardeal Ricardo Ezzati, no qual relatava o imenso sofrimento de seu filho James, os fracassos de sua vida, o desespero de sua busca e, ao mesmo tempo evocava com muitos detalhes as ações de Karadima, em especial as grandes quantias de dinheiro que o padre costumava usar para ter à sua volta, de forma permanente, garotos jovens ou adolescentes menores de idade. A esse respeito relatava um episódio em que Karadima e outros jovens, incluindo seu filho James, tinham feito uma viagem de lazer para New York. Na ocasião, lembra a mãe de Hamilton, o padre alugou um helicóptero muito caro para sobrevoar a cidade. A sra. Sánchez também lembra que o padre tinha na mais famosa cidade de praia do Chile, Viña del Mar, um apartamento onde muitas vezes ia junto com jovens e garotos para passar o fim de semana juntos.
A mãe Consuelo concluía sua carta dizendo: Karadima exerceu sobre meu filho durante anos tamanho poder que não só o manipulava como queria e por todos os meios, mas finalmente conseguiu arrasar completamente a sua personalidade a ponto de suspender a sua existência como pessoa.
Nota:
[1] Processo canônico contra Karadima:
"Contra Karadima o Vaticano decidiu conduzir um processo administrativo por duas razões: as claras evidências de culpa e a idade do réu (80 anos) O sacerdote recebeu um tratamento semelhante ao de Marcial Maciel Degollado, fundador dos Legionários de Cristo acusados de abusos contra menores. Em ambos os casos não houve um julgamento eclesiástico para evitar a morte dos acusados antes de chegar a uma condenação, porque um processo criminal, com as várias instâncias, duraria muito a longo prazo. No caso do chileno, a Congregação para a Doutrina da Fé obteve mais resultados e nomeou uma comissão de três delegados para estudá-la, ao contrário do costume de nomear um único, responsáveis de consultar os especialistas antes de propor uma sentença. Isso não impediu o recurso apresentado pelos defensores de Karadima diante da "quarta corte", a plenária da Congregação que o rejeitou reiterando a culpa do acusado.
Outro dos resultados da intervenção do Vaticano foi o arrependimento público do arcebispo emérito de Santiago do Chile, Francisco Javier Errázuriz, que pediu desculpas às vítimas por não ter acreditado às acusações contra Fernando Karadima em 2004. "Agora eu entendo que, principalmente as duas primeiras pessoas que o acusaram, vendo que tudo permanecia suspenso, padeceram um grande sofrimento. Uma dor que eu jamais teria desejado causar e para a qual peço perdão", afirmou ele. Enquanto isso, a justiça civil segue o seu curso.
Em 22 de junho de 2011, o atual bispo de Santiago, Ricardo Ezzati Andrello informou Fernando Karadima que a Santa Sé havia decidido rejeitar o apelo contra a sentença por abusos sexuais de menores. Em um documento de duas páginas (18 de março), a Congregação para a Doutrina da Fé, ordenou que o sacerdote se retirasse para uma vida de penitência e oração. Foi-lhe proibido exercer publicamente o ministério pelo resto da vida, dirigir espiritualmente, confessar, ter contato com os membros ou ter qualquer tipo de atribuição na Pía Unión Sacerdotal.
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O encontro do Papa Francisco com James Hamilton. "Karadima sabia manipular em nome de Deus a ética e a moral a seu favor" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU