17 Abril 2018
“Aguarda-se para a terceira semana de maio a reunião de todo o episcopado chileno com o Papa Francisco. As cinco semanas que precedem este encontro são uma possibilidade não apenas para estabelecer critérios avaliativos para as anunciadas medidas de curto, médio e longo prazo, mas também para os bispos contarem toda a verdade”. A reflexão é de Juan Carlos Claret Pool, leigo da diocese de Osorno, em artigo publicado por Religión Digital, 15-04-2018. A tradução é de André Langer.
Aguarda-se para a terceira semana de maio a reunião de todo o episcopado chileno com o Papa Francisco. As cinco semanas que precedem este encontro são uma possibilidade não apenas para estabelecer critérios avaliativos para as anunciadas medidas de curto, médio e longo prazo, mas também para os bispos contarem toda a verdade.
Não seria desejável que persistam na típica postura de agir colegialmente, quando entre eles não há unidade. O teor das palavras usadas por Francisco desmente qualquer tentativa de fingir, mas também há outros fatos que mostram isso.
Após ler a carta do Papa na quarta-feira passada, o presidente da Conferência Episcopal, Santiago Silva, não moveu um músculo para dizer que “a contribuição da nossa informação está correta”. Ele é capaz de sustentar isso?
Em 2 de maio de 2017, uma delegação da comunidade foi convidada para dialogar com a Comissão Permanente do Episcopado. Nessa reunião, ele e o bispo Fernando Ramos afirmaram que a situação do bispo Barros era uma crônica de morte anunciada, porque “vocês o julgaram antes de conhecê-lo”. Dessa maneira, eles imputaram a nós informações falsas: “vocês fizeram um churrasco contra o Papa”, para concluir que não fariam nada pelas vítimas “porque somos impedidos pela lei canônica”.
Um tempo depois, para tentar nos enterrar, o bispo Ramos afirmou, em 21 de junho, na Cooperativa, que a questão de Osorno não seria tema na já anunciada visita papal, já que o caso “estava encerrado”. Quando, na sua qualidade de organizador daquela visita, pedimos uma audiência com o Papa, ele mesmo nos indicou que era impossível, porque a agenda estava tão cheia que “não havia tempo para mais nada”. Entretanto, houve tempo para receber Mariano Verona.
Por outro lado, o ex-bispo de Osorno, cujo nome está sendo cogitado para a sede de Santiago, René Osvaldo Rebolledo Salinas [atual bispo de La Serena], em vez de reconhecer que as pessoas que se manifestavam dentro e fora da catedral de Osorno quando Barros tomou posse eram pessoas da Igreja, preferiu nos ignorar afirmando que não conhecia ninguém de nós.
Seu par de Puerto Montt, Cristián Caro Cordero, o mesmo que nos acusou de aproveitamento político e bateu na mesa quando nos reunimos com ele, afirmou à imprensa que essas eram as palavras textuais de Rebolledo. René, por acaso já não se lembra mais das vezes que visitou nossas comunidades e comeu em nossas casas?
Também são textuais as palavras que ele me disse em maio de 2016 na casa de alguns padres ao lado da Plaza Brasil: “Juan Carlos, fique do nosso lado, você vai ficar sozinho. O que é essa coisa ridícula de cantar e rezar fora da catedral?”
Rebolledo é próximo de Errázuriz, ou seja, do mesmo cardeal que em 2010 disse que “felizmente são poucos” os clérigos abusadores. De acordo com a Bishop Accountability, são 79, número que chega a 120, segundo informações da Congregação para a Doutrina da Fé. A Conferência Episcopal informa apenas 30 casos.
Esse mesmo cardeal também tinha prometido entregar uma carta do clero de Osorno ao Papa Francisco em setembro de 2015, mas depois informou que não a entregou. Se ele se ofereceu como canal de informação, por que, agora que o Papa sabe da verdade, afirma não sê-lo quando justamente a tarefa de um cardeal é essa: informar e apoiar o Papa na tomada de decisões?
Em todo caso, há alguns meses ele fez a mesma coisa: em 2015, demonstrou comoção pelo que estava acontecendo em Osorno; em 18 de janeiro, ao contrário, em Iquique não se comoveu para dizer às câmeras de televisão que a questão Barros “era um problema artificial”.
Por outro lado, o núncio Ivo Scapolo, ameaçou com pecado grave aqueles que insistiam em perguntar sobre esse drama diocesano. O mesmo núncio que disse na minha frente que mandaria as cartas que o clero de Osorno lhe havia confiado, mas “depois não quis fazê-lo”, em abril de 2015 ameaçou os superiores de congregações maiores da Conferre.
Nessa reunião, ele advertiu que a reação de Osorno era de “tolos e esquerdistas”. Um mês depois, na Praça São Pedro, o Papa Francisco repetiu essas palavras para Jaime Coiro, porta-voz da Conferência Episcopal.
Portanto, embora seja verdade que houve bispos (e não poucos leigos inclusive de Osorno) que se dedicaram a deturpar informações e mentir, também é verdade que o Papa recebeu simultaneamente informações verdadeiras e atualizadas.
Assim, cardeais, bispos, sacerdotes e amigos íntimos de Francisco não apenas lhe enviaram cartas, mas também viajaram para tratar pessoalmente com ele a questão de Osorno. Eu sei muito bem disso e agradeço por isso, porque fiz parte desse processo. Diante disso, caso se queira questionar essas palavras, ainda há mais dois elementos: a carta vazada pela Associated Press e reconhecida como autêntica pela Igreja, onde se mostra que já em 2014 Francisco estava ciente das acusações contra Juan Barros; também se desculpa junto aos bispos do Chile por não poder cumprir o acordo que tinham... de remover Barros. Quais os bispos que decidiram isso com o Papa e que informações tão graves lhe apresentaram? Além disso, foi entregue nas mãos do Papa a carta com o testemunho de Juan Carlos Cruz que o próprio cardeal de Boston, Sean O'Malley, entregou pessoalmente em 2015.
Por que o Papa decidiu acreditar naqueles que estavam mentindo em vez de acreditar naqueles que diziam a verdade, quando também são pessoas de sua confiança? Como os bispos podem sustentar não saber quem e como eles desinformaram? Essas pessoas se atreverão a reconhecer sua participação nesta maquinação? Em que Deus creem esses bispos? No Deus da verdade e da justiça ou eles se apegam a um Deus, como disse Gatti, que eles modelam e destroem e conforme a isso ordenam suas vidas?
Nessas cinco semanas, portanto, é de se esperar que a verdade seja conhecida não apenas sobre aqueles que mentiram, mas também sobre aqueles que, tendo-a, preferiram participar por ação ou omissão da defesa corporativa do bispo Barros por ordem do Papa. Que nestas cinco semanas o calibre da raiva e das anunciadas punições não diminua, ou, pelo menos, não tentem diminuí-lo.
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"Digam a verdade, senhores bispos do Chile", pede leigo da diocese de Osorno - Instituto Humanitas Unisinos - IHU