Cartas de Irmã Dorothy - 11. Artigo de Felício Pontes Jr

Ir. Dorothy Stang, mártir da terra

Mais Lidos

  • Diaconato feminino: uma questão de gênero? Artigo de Giuseppe Lorizio

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS
  • Venezuela: Trump desferiu mais um xeque, mas não haverá xeque-mate. Artigo de Victor Alvarez

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

06 Dezembro 2025

"O discurso mostra, de imediato, a determinação de não fugir, mesmo diante da explícita ameaça de morte. O discurso também revela que tanta determinação tem por base a amizade para com “os mais pobres entre os pobres". Ela não deixará seus amigos e amigas em posição de maior vulnerabilidade. Sabe que confiam nela. Fazer o que seus algozes querem é trair a confiança do povo", recorda Felício Pontes Jr., em sua décima primeira carta de memória aos vinte anos do martírio de Irmã Dorothy Stang, que foi celebrado no dia 12-02-2025.

martírio da Irmã Dorothy Stang será lembrado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU durante os doze meses de 2025. Em cada mês, Felício Pontes Jr., procurador da República junto ao Ministério Público Federal, em Belém, e assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica – Repam, publicará uma carta em memória à religiosa.

Felício Pontes Jr. era amigo da Irmã Dorothy e como procurador segue os seus passos, atuando nas causas defendidas pela missionária. Em entrevista à IHU On-Line, em 2009, ao lembrar do trabalho da missionária, ele a classificou como “o Anjo da Amazônia”. “Tudo que ela tentou estabelecer foi o desenvolvimento integral dos povos da floresta. Isso implica também na relação do homem com a natureza”, disse na ocasião.

Eis o artigo.

No final de 2004, dois meses antes de seu martírio, Irmã Dorothy foi condecorada com a “Medalha Chico Mendes” pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará; com o título de “Cidadã do Pará”, pela Assembleia Legislativa e “Mulher do Ano”, pelo Partido dos Trabalhadores.

Ironicamente, a Câmara Municipal de Anapu a declara persona non grata, deixando claro que o poder político do Município coincidia com seu poder econômico – que é, aliás, uma das características dos pequenos municípios da Amazônia.

Esses fatos mostravam muito bem a tensão existente entre quem defendia “os mais pobres entre os pobres” – expressão de Irmã Dorothy ao Bispo do Xingu, D. Erwin Krautler, quando se apresentou para trabalhar na região – e os detentores do poder político e econômico.

Uma das biografias mais famosas de Irmã Dorothy Stang foi escrita por Roseanne Murphy, também religiosa da Congregação Notre Dame de Namur. O livro foi intitulado “Mártir da Amazônia” (editora Paulus). Nos capítulos finais, o livro mostra que as ameaças se tornaram mais explícitas e mostra também que Irmã Dorothy tinha a consciência da situação. É a biógrafa quem revela o discurso de Irmã Dorothy sobre as ameaças que vinha sofrendo há um mês de seu martírio:

"Hoje, eu recebi ameaças diretas de fazendeiros e grileiros de terras públicas. Eles tiveram a ousadia de me ameaçar e exigiram minha saída de Anapu por causa de minha luta por justiça e amizade com o povo, de quem prezo a sinceridade, a disposição para compartilhar, a hospitalidade, a perseverança, a determinação e a prontidão. Tudo o que peço a Deus é a Sua graça para me ajudar a continuar nesta jornada, lutando para que as pessoas tenham uma vida mais igualitária em todos os momentos e que aprendamos a respeitar a Criação de Deus".

O discurso mostra, de imediato, a determinação de não fugir, mesmo diante da explícita ameaça de morte. O discurso também revela que tanta determinação tem por base a amizade para com “os mais pobres entre os pobres". Ela não deixará seus amigos e amigas em posição de maior vulnerabilidade. Sabe que confiam nela. Fazer o que seus algozes querem é trair a confiança do povo.

Com efeito, ao se referir ao povo – ou melhor “ao nosso povo”, como costumava dizer – Irmã Dorothy menciona algumas das qualidades dessas pessoas que defendia como uma questão de justiça: a sinceridade; a generosidade; a hospitalidade; a perseverança; a determinação e a prontidão.

Ao final, faz a ligação da justiça por terra, chamada de “uma vida mais igualitária” com o respeito à criação de Deus. Em suma, Irmã Dorothy faz a conexão entre justiça social e Direitos da Natureza – algo muito vanguardista no início deste século, mas que hoje é perfeitamente compreensível diante da crise climática.

 

 

Leia mais