24 Abril 2017
Dois líderes sociais foram baleados esta semana na Colômbia, assim como um membro das FARC. A Defensoria Pública mostrou-se preocupada porque continua jorrando o sangue daqueles que defendem o acordo de paz.
A reportagem é de Katalina Vásquez Guzmán, publicada por Página/12, 23-04-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Esta semana as mortes por causa da implementação do Acordo de Paz na Colômbia não deram trégua. Dois líderes sociais foram baleados, assim como um membro das FARC. A Defensoria Pública mostrou-se preocupada porque continua jorrando o sangue daqueles que defendem o acordo de paz que encerrará a guerrilha mais antiga do continente. E embora os assassinatos pelas mãos da guerrilha tenham cessado, o que causou baixas nas estatísticas, está aumentando a violência contra os pacifistas que lideram processos de camponeses, indígenas, mulheres ou negros, populações mais vulneráveis ao longo de décadas de conflito armado interno e séculos de contínua violência, mas mostra números esperançosos e contraditórios ao mesmo tempo.
Graças ao cessar fogo unilateral e logo bilateral entre o governo e as FARC, a taxa de homicídios na Colômbia em 2016 foi a mais baixa desde 1974. No entanto, aumentaram os homicídios a líderes sociais em 22%. Foram cerca de 12 mil assassinatos em toda a Colômbia no ano passado, cerca de 130 a líderes e 33 desde o início da implementação da paz, em 1º de dezembro, também chamado de Dia D.
No tratado assinado no Teatro Colón em Bogotá em novembro passado pelo presidente Juan Manuel Santos e Rodrigo Londoño "Timoshenko", líder máximo das FARC, foram contempladas medidas de proteção, dentre as muitas delas uma Comissão de Garantias para o exercício da política de todas as frentes de pensamento sem medo de assassinato. Os casos que somam-se nesta semana, de Gerson Acosta, indígena do Cauca, e Rubiela Sánchez, em Antioquia, engrossam a lista dolorosa daqueles que, desarmados, resistiram a ciclos de violência, expulsão de seus territórios, morte de entes queridos e ameaças e que foram atingidos pelas balas sem a proteção do Estado. O Acordo de Paz também inclui segurança para os membros da FARC que estão saindo das prisões e todos aqueles que estão em áreas veredales e pontos de normalização (zonas de paz) e em breve voltarão à vida civil. Nem uma coisa nem outra foi implementada e a Unidade que deveria desarticular o paramilitarismo, criada pela Procuradoria, não mostra resultados depois que sua primeira diretora, Alexandra Valencia, foi demitida do cargo.
Organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas vêm alertando sobre os grandes riscos que corre a Colômbia pela falta de cumprimento do governo na implementação do tratado de paz já assinado e aprovado."O descumprimento do governo no contexto do diálogo social levou à perda de confiança, credibilidade e de oportunidades valiosas para o progresso", disse Tod Howlando, do Instituto de Direitos Humanos das Nações Unidas na Colômbia, levantando controvérsias, recentemente. Em tais violações também está a construção de acampamentos e adaptações das zonas de paz que deveriam estar prontos no Dia D e ainda estão no meio do caminho. Além disso, devido a anistias e perdões pelos quais mais de mil estavam esperando para esta data, mas que apenas cerca de uma centena conseguiu, pois os juízes começaram a negá-las, logo começaram as greves e agora o alto governo certifica que aqueles que serão liberados da prisão são guerrilheiros de pouco tempo atrás.
Esse foi o caso de Luis Alberto Ortiz Cabezas, conhecido como Pepe, que estava em casa havia apenas algumas semanas quando homens armados chegaram e dispararam três tiros. O primeiro ex-guerrilheiro das FARC foi assassinado na cidade de Tumaco, Narino, no sul do país. O secretariado das Farc expressou preocupação, mas a Procuradoria disse que vai investigar este homicídio prioritariamente e enviou uma equipe especial para o território, sempre complexo em matéria de Direitos Humanos e povoado principalmente por negros e índios.
Da região de paz onde se localizam as FARC, foi emitido um comunicado questionando as ações do Estado. "O que as autoridades estão fazendo para cumprir os compromissos assumidos, no sentido de combater os grupos paramilitares a serviço das máfias que são uma ameaça real para os cidadãos, os guerrilheiros e os militantes liberados, que não contam com proteção alguma; não considerando que a proteção dos cidadãos e ex-prisioneiros é uma condição para assegurar uma paz estável e duradoura no que diz respeito à proteção da nossa transição a um partido político civil?
Em Tumaco, nas últimas semanas, estouraram protestos de camponeses de coca em vias públicas, alegando que, embora tenham assinado um acordo resultante dos Diálogos de Havana para substituir voluntariamente a folha da coca, o Exército esteja compelindo-os a fazê-lo. Os abusos da polícia ficaram evidentes em vídeos que circulam na web em que os agentes aparecem disparando contra a população civil e campesinos em vários lugares.
A preocupação se estende a Chocó e Urabá, onde tropas paramilitares continuam a mover-se em direção a aldeias distantes sem que as forças de segurança chegue a esses lugares para agir contra eles. Foi esta a denúncia da Comissão Intereclesial de Justiça e Paz e da Comunidade de Paz de San José de Apartadó. A Anistia Internacional, por sua vez, gerou alertas esta semana que acabam ecoando as denúncias e apelando para as forças de segurança e ao presidente Juan Manuel Santos para cumprir seu compromisso de proteger os seus cidadãos.
Segundo a Comissão Intereclesial, também em Buenaventura, Valle del Cauca, os "paramilitares" estão ocupando abertamente os territórios deixados pelas FARC. "Na sexta-feira, dia 21 de abril, às 10 horas, no assentamento indígena Woaunaan Phobor, distrito de Córdoba, quilômetro 20 da estrada Buenaventura, Cali, cinco homens, supostamente da estrutura paramilitar dos Urabeños, armados com pistolas, vestidos com roupas escuras e portando lanternas, entraram na comunidade da aldeia e rondaram as casas até o amanhecer", diz a declaração pública da Comissão.
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Colômbia: aumentam as mortes de líderes sociais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU