18 Novembro 2016
Santos viajou para os Estados Unidos para se submeter a exames médicos. O estado de saúde do presidente acrescenta um elemento de inquietação no momento em que está em análise um novo pacto de paz com as FARC e se tenta negociar com a outra guerrilha, o ELN.
A reportagem é publicada por Página/12, 17-11-2016. A tradução é de André Langer.
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, viajou na quarta-feira para os Estados Unidos onde ontem se submeteu a exames médicos para descartar uma possível recaída de um câncer de próstata, informou a Casa de Nariño. A saúde do presidente acrescenta um elemento de inquietação no momento em que estão sendo analisadas as mudanças no novo acordo de paz e a fragilidade do cessar-fogo se manifesta nas escaramuças que acontecem em vários pontos do país entre os membros das FARC e do ELN e as forças de segurança.
O chefe de Estado será atendido no Centro de Oncologia do Hospital Johns Hopkins em Baltimore (Estados Unidos), depois que os médicos da Fundação Santa Fé de Bogotá lhe sugeriram fazer novos exames, após notificar na terça-feira que detectaram um aumento do antígeno prostático.
Antes da sua viagem, o presidente passou o comando à ministra da Educação, Yaneth Giha Tovar, que sucede no cargo Gina Parody. Santos fez exames médicos que mostraram uma alteração nos antígenos prostáticos que, segundo disse, “o pegaram de surpresa”. O presidente tinha sido submetido com êxito, em outubro de 2012, a uma cirurgia para extrair um tumor na próstata e dias depois garantiu que sua saúde estava em ótimo estado. Em julho de 2014, o presidente foi submetido novamente a exames de rotina por recomendação médica, e, como sempre, assegurou que sua história clínica está aberta para o conhecimento da opinião pública.
Santos disse também que aproveitará a viagem aos Estados Unidos para participar de um jantar em honra ao vice-presidente desse país, Joe Biden, “que foi um grande aliado da Colômbia”. O presidente assinalou que inicialmente havia se desculpado, mas dada que a coincidência de datas, procurará participar. Além disso, se reunirá com senadores democratas e republicanos, “seguindo a nossa tradicional política bipartidarista, com a finalidade de informá-los sobre o novo acordo de paz e discutir com eles os passos a seguir com a paz na Colômbia e o pós-conflito”, disse. O presidente anunciou, além disso, que voltará nesta sexta-feira ao seu país.
Simultaneamente, o chefe da equipe negociadora do governo colombiano, Humberto de la Calle, informou na quarta-feira que dois guerrilheiros das FARC morreram em combates no sul do Departamento caribenho de Bolívar, apenas quatro dias depois que as duas partes assinaram um novo acordo de paz.
“Houve combates no sul de Bolívar e morreram alguns guerrilheiros, que, conforme se diz, pertencem às FARC. Há, como dissemos, uma versão do Ministério da Defesa em função da qual estes guerrilheiros estavam bem afastados da zona de pré-agrupamento (...) e ali havia uma operação de caráter criminosa”, disse De la Calle em uma entrevista à Caracol Televisión.
O governo colombiano e as FARC iniciaram um cessar-fogo em 29 de agosto passado, após chegar a um primeiro acordo de paz que foi assinado no dia 26 de setembro e rejeitado no plebiscito uma semana depois.
Os guerrilheiros das FARC em todo o país já se encontram em zonas de pré-agrupamento para irem depois às zonas onde se concentrarão em uma etapa prévia ao abandono das armas e à desmobilização. De la Calle comentou que já teve oportunidade de falar com o chefe negociador dessa guerrilha, Luciano Marín Arango, cujo apelido é Iván Márquez, que lhe disse que os guerrilheiros mortos “estavam a caminho da zona de pré-agrupamento”. Em todo caso, o funcionário disse que “há uma discordância nas narrativas”, mas o combate dá uma lição: o cessar-fogo “é frágil”.
“Não podemos nos demorar; se houver um novo acordo, temos uma nova oportunidade de acabar com o conflito na Colômbia. Não podemos perder essa oportunidade”, concluiu.
As delegações do governo da Colômbia e as FARC chegaram a um acordo de paz após quase quatro anos de negociações em Havana, que foi assinado pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos e o líder máximo da guerrilha, Rodrigo Londoño, cujo apelido é Timochenko, no dia 26 de setembro. No entanto, os colombianos rejeitaram por uma pequena margem de diferença o documento no plebiscito de 02 de outubro, e a partir de então as partes trabalharam para desbloquear o processo de paz.
Entretanto, o Exército de Libertação Nacional (ELN), que busca entabular uma negociação formal de paz com o governo, é o “mais provável” responsável por um ataque com explosivos que deixou 17 policiais feridos, informou na quarta-feira o ministro da Defesa, Luis Carlos Villegas.
O ataque ocorreu na cidade de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela, e atingiu 17 militares “de maneira leve, com estilhaços e deixando atordoados alguns deles”, disse Villegas em declarações a jornalistas. A unidade atacada, que pertence ao esquadrão antidistúrbios, deslocava-se em um ônibus quando este foi atingido por um artefato explosivo, detalhou.
“Eles estavam se deslocando para cumprir a missão de continuar a luta contra o contrabando (...) maior fonte de lucros do Exército de Libertação Nacional (guevarista), de maneira que é bastante provável que este ato contra a nossa polícia seja de autoria do Exército de Libertação Nacional”, explicou o ministro.
O governo e o ELN, segunda maior guerrilha do país, tinham a previsão de instalar uma mesa pública de conversações de paz em 27 de outubro passado em Quito, no Equador, mas a cerimônia foi cancelada porque o presidente Juan Manuel Santos exige que o grupo rebelde liberte primeiro o ex-deputado sequestrado Odín Sánchez.
No último final de semana, o chefe negociador do governo com o ELN, Juan Camilo Restrepo, chegou a colocar em dúvida as intenções de paz dessa guerrilha após atribuir a ela o atentado contra um oleoduto no sul do país.
Além disso, nos últimos dias, as autoridades estão investigando se nas últimas semanas o ELN não sequestrou um cidadão russo no Departamento de Chocó, na fronteira com o Panamá.
A Colômbia registra mais de 260 mil mortos em meio século de violência fratricida, que envolveu guerrilhas, paramilitares e militares.
Os colombianos saíram às ruas para apoiar a nova negociação entre o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que inclui modificações propostas por partidários do “Não”. A mobilização, organizada assim como as anteriores por estudantes universitários depois da inesperada rejeição do acordo de Havana no referendo de 02 de outubro, começou no Planetário Distrital e concentrou-se na praça central de Bolívar com discursos a favor do pacto e com bandeiras brancas como símbolo de paz.
“Esta é a quarta mobilização de estudantes e de jovens que fazemos. Ao contrário das outras, estamos aqui comemorando que temos um acordo”, assinalou Alejandro Franco, um dos promotores da marcha. O líder estudantil defendeu que, com a mobilização, pretendiam transmitir duas mensagens: uma sobre o novo acordo e a outra sobre a importância de que os cidadãos se manifestem nas ruas.
“Por um lado, esse gesto de alegria de ter um novo acordo, mais includente, mais claro e melhor que o anterior. E, segundo, e eu creio que mais importante, é fazer a opinião pública entender que a população que marchou e se manifestou em três ocasiões está aqui para ficar”, afirmou.
Participaram da manifestação também membros do Acampamento pela Paz, instalado há mais de um mês na Praça de Bolívar, e que permanecerão ali até que o novo acordo seja referendado. Giovanni Martínez, que já está 21 dos 42 dias no acampamento, afirmou que o novo acordo deve oferecer à guerrilha garantias de que poderão exercer a política sem problemas.
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A fragilidade do cessar-fogo na Colômbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU