Agrizone da Embrapa servirá como base para “disputa de narrativa” do agro durante a COP30

Foto: Melissa Mayes | Pexels

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21 Outubro 2025

Para trazer o agronegócio para “conversar” na COP30, a Embrapa, órgão vinculado ao governo federal, criou a Agrizone. A Agrizone ficará a menos de 2 km do pavilhão oficial do evento e funcionará como feira de exposição, promovendo debates e abrigando salas de negócios. A área será, inclusive, sede provisória do Ministério da Agricultura durante a conferência do clima.

A reportagem é publicada por ClimaInfo, 20-10-2025.

O espaço terá investimento milionário. Sua “patrocinadora master”, ninguém menos que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), pagará cerca de R$ 2,5 milhões. Nestlé e Bayer também apoiam em nível “diamante”, cada uma com R$ 1 milhão.

Segundo a Repórter Brasil, a CNA defende o conceito de “agricultura tropical”, sistema de plantio que inclui práticas como integração lavoura-pecuária-floresta como solução climática. Além da Agrizone, a entidade terá estande próprio na COP30 e pretende organizar visitas a fazendas da Amazônia para diplomatas, jornalistas e parlamentares.

Tem mais agro a caminho de Belém. No Estadão, a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS) afirma que será a “a voz da pecuária sustentável do Brasil para o mundo”. A associação quer posicionar a pecuária brasileira como componente estratégico para a segurança alimentar mundial. Já as emissões de metano do rebanho bovino brasileiro não foram mencionadas.

Além disso, é curioso, para dizer o mínimo, tendo em vista que mais de 60% da área ocupada pela pecuária no Brasil – cerca de 179 milhões de hectares – é composta por pastagens degradadas ou em processo de degradação. Estima-se que a produtividade das pastagens brasileiras atinja apenas 34% do seu potencial.

O fato é que o lobby agropecuário tem se intensificado às vésperas da COP30 por causa da crescente pressão internacional, que ameaça as exportações do país. A União Europeia, por exemplo, aprovou uma lei que exige comprovação de que as safras brasileiras importadas não foram cultivadas em terras desmatadas, lembra a Bloomberg.

Para os críticos, a narrativa do setor é enganosa, tendo em vista sua indiscutível associação com a expansão do desmatamento, uso intensivo de agrotóxicos e emissão de metano. O que mostra o risco da Agrizone para a Embrapa, que tem histórico de excelência em pesquisas agropecuárias no Brasil.

“O que não pode é a Agrizone virar uma plataforma para o setor dizer que não desmata ou que só precisa de dinheiro para adaptação, porque [produtores rurais] estão sendo prejudicados pelo aquecimento global que não causam. Isso não é verdade: o agro contribui para o aquecimento global”, avalia Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima.

Com o recente ataque à Moratória da Soja, cresce a ameaça de avanço do agronegócio sobre as florestas. “Sabemos que a moratória combateu o avanço da soja na floresta e nos territórios, então não parece ser uma decisão que ajude em proteção e conservação [da Amazônia]”, afirmou o secretário nacional de Direitos Territoriais Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Marcos Kaingang, na Agência Pública. O acordo deve se encerrar a partir de 1º de janeiro de 2026.

A Repórter Brasil publicou na íntegra as respostas da Embrapa acerca da Agrizone.

Em tempo

Nem a inflação na hospedagem nem a dificuldade de obter apoio dos governos federal e do Pará serão obstáculos à realização da Cúpula dos Povos por Justiça Climática. O Joio e o Trigo conta que a COP30 deve reunir em paralelo às negociações oficiais entre 15 e 20 mil pessoas ligadas a coletivos de mulheres, jovens, Povos Indígenas, camponeses, defensores de Direitos Humanos e ativistas socioambientais. “O que a gente tem dito para todo mundo do governo é: 'Querendo vocês ou não, financiando vocês ou não, nós vamos estar em Belém. Ponto. Vocês decidem se com mais diálogo ou menos diálogo'”, disse Ayala Ferreira, da direção nacional do Movimento Sem Terra (MST).

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