03 Outubro 2024
Países trocaram ameaças de retaliação e cobraram posicionamento do Conselho sobre crimes de guerra e Resolução 1701.
A reportagem é de Cintia Alves, publicada por Jornal GGN, 02-10-2024.
Um dia após o Irã lançar um ataque com mais de 200 mísseis sobre Israel, em resposta ao assassinato de lideranças do Hezbollah e de diplomatas em missões oficiais, os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU se reuniram em Nova York nesta quarta (2) para debater a escalada do conflito no Oriente Médio.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarado persona non grata por Israel, abriu os trabalhos declarando que é preciso articular o cessar-fogo imediatamente pelas vias diplomáticas, a única forma de evitar uma “guerra total” na região.
Aqui está como os principais protagonistas dessa crise – Israel, EUA, Irã e Líbano – se manifestaram.
Israel, com Danny Danon, embaixador israelense na ONU
Danon dobrou a aposta após o ataque do Irã e prometeu que Israel dará uma resposta “precisa e dolorosa”. Ele disse que o mundo precisa dar um passo atrás e ficar fora disso, pois o Irã vai pagar caro pelo ataque de mísseis desferido contra Israel na noite do dia 30 de setembro. O embaixador diz que o governo iraniano parou de se esconder e colocou o rosto sob a luz e agora todos podem ver sua face monstruosa.
O embaixador israelense lembrou uma série de ataques terroristas que, segundo ele, teriam sido patrocinados pelo Irã em outros países. “Por trás de cada bomba está o regime iraniano”.
Ele ainda perguntou o que outros países fariam se centenas de bomba – “um ataque inimaginável” – fosse desferido contra seus povos. “Nos vamos nos defender. Aqueles que nos atacarem sofrerão severas consequências. (…) O tempo para complacência acabou. (…) O tempo para simpatia e para desescalar a guerra passou”.
Em nome de Israel, ele apelou para que Irã seja punido pela comunidade internacional.
Irã, com Amyr Said, embaixador iraniano na ONU
Said acusou Israel de praticar genocídio e ilegalidades no Líbano. Afirmou que as forças israelenses violam direitos dos libaneses e assassinaram líderes do Hezbollah, além de um conselheiro do Irã em Beirute. Lembrou que, em abril de 2024, uma missão diplomática do Irã na Síria foi atacada e o Conselho de Segurança da ONU não tomou nenhuma medida. Em setembro passado, um líder do Hamas e ministro palestino foram atacados em agenda oficial. São violações ao direito internacional e à Resolução 1701, mas o Conselho da ONU não faz nada disse ele.
“Irã pede paz e fim dos ataques a civis na região, mas Israel só entende a linguagem da força. Israel cometeu atos atrozes e a resposta do Irã foi necessária. E cada novo ato de agressão terá consequências e não será esquecido.”
“A comunidade internacional não pode se manter em silêncio. Conselho de Segurança da ONU precisa intervir para evitar que a situação fique ainda mais acirrada e se torne uma guerra regional”, defendeu o embaixador iraniano.
Estados Unidos, com Linda Thomas-Greenfield, embaixadora americana na ONU
Ela disse que Israel defende a aplicação completa da Resolução 1701 da ONU mesmo estando em guerra com Hamas e Hezbollah. Para os EUA, a diplomacia permanece sendo a prioridade para o fim dos conflitos, por meio da Resolução 1701.
Porém, os EUA vão continuar respeitando o “direito de Israel de se defender do Hamas, Hezbollah ou houthis” (grupo do Iemen que faz ataques a Israel). “Mas como ele se defende importa. É preciso poupar os civis. Como disse o presidente Biden, os EUA apoiam Israel, mas suas ações precisam ser defensivas e Irã precisa ser responsabilizado por suas ações.”
Líbano, com Nuhad Mahmud, embaixador libanês na ONU
O embaixador prestou solidariedade a António Guterres, que esta impedido de entrar em Israel, e acusou o pais comandado por Netanyahu de promover quase 12 meses de barbaridades aos civis em sua guerra contra o Hamas, praticando crimes de guerra.
Afirmou que Israel distorce a narrativa da guerra local, atacando deliberadamente e fazendo parecer que é apenas defesa. Clamou pela implementação completa da Resolução 1701, com a saída imediata das forças israelenses do território libanês. Só assim, disse ele, essa guerra cega e bárbara poderá ter um cessar-fogo.
Ele também defendeu o caminho diplomático como solução para o massacre de Israel contra os palestinos. O embaixador falou que e obrigação do Conselho de Segurança da ONU evitar a implosão do Oriente Médio, e pediu ajuda dos demais países com doações para fazer frente à crise humanitária.
Mahmud ainda lembrou que Israel já invadiu o Líbano três vezes, e sempre terminou com morte de milhares de civis, seguido da derrota e recuo das tropas israelenses. “Está última tentativa não será diferente”, disse.
ONU, o secretário-geral António Guterres
“A linha azul sofre tensões há anos, mas desde outubro a troca de tiros se expandiu em profundidade e quantidade. A guerra entre Hezbollah, Hamas e outros grupos armados não-estatais e as tropas de Israel são uma violação à Resolução 1701 da ONU. A soberania do Líbano precisa ser respeitada em todo seu território.”
“Com a escalada dos últimos dias, eu me pergunto o que resta da estrutura que este Conselho estabeleceu com a Resolução 1701.”
Segundo Guterres, os civis estão “pagando as contas. “Mais de 1700 morreram no Líbano e 300 mil estão desalojados. Cerca de 128 mil pessoas, tanto sírias quanto libanesas, deslocaram-se para a Síria.”
“É essencial evitar uma guerra total no Líbano, que teria consequências profundas e destruidoras.”
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