Biomas em chamas, extrema-direita, Trump e outros Destaques da semana

Destaques de 22 a 28 de junho

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

29 Junho 2024

O inverno chegou no Hemisfério Sul, mas o aquecimento global não dá trégua. O Rio Grande do Sul ainda nem terminou de contar os prejuízos das enchentes de maio e o Pantanal, assim como outros quatro biomas, arde em chamas. A extrema-direita global continua avançando e as eleições no EUA colocam mais uma faísca sobre o fim das democracias. A insurreição militar fracassada na Bolívia. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana aqui no IHU.

Confira os destaques na versão em áudio.

Pantanal em chamas

Por conta da estiagem severa e precoce, as queimadas chegaram antes da estação seca no Pantanal. Os focos de calor em 2024 já superam a marca de 2020, quando o bioma perdeu 30% da sua vegetação. Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Amazônia também tiveram aumento dos focos, com registros de alta de 93%, 38%, 23% e 11%, respectivamente. Estamos no topo do ranking dos incêndios na América do Sul.

 

Queimadas criminosas

Levantamento do BDQueimadas, do INPE, e do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA/UFRJ) indica que 95% das queimadas são oriundas de ação humana e vindas de propriedades privadas. Dado que corrobora com o que a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ressalta: “Nesse momento, não temos incêndios em função de ignição natural. Os climatologistas dizem que o período não propicia essa forma de incêndio. Todos eles são por ação humana, seja por desmatamento, seja por queimada.”

Tchau, água!

Os corpos hídricos naturais no Brasil encolheram 30,8% em relação a 1985, é o que revela o novo relatório do MapBiomas Água. O dado coloca em xeque mais um ataque à legislação ambiental que está prosperando na Assembleia Gaúcha. O projeto de lei estadual (PL 97/2018) que dispensa a outorga de água para atividades agropecuárias avançou na Comissão de Constituição e Justiça em mais um ataque que atende aos interesses privados do agronegócio no estado. Agapan, ambientalistas e os Comitês das Bacias Hidrográficas se manifestaram contra o projeto.
O desassoreamento dos rios é outra medida controversa do governo do Rio Grande do Sul. O IPH também falou sobre o assunto. O desmonte da proteção ambiental também foi denunciada por servidores da área ambiental.

 

Dobrando a aposta

Enquanto o Brasil vive o caos climático de Norte a Sul, o governo, em sua cegueira, continua insistindo em explorar petróleo na Foz do Rio Amazonas. O Ministro de Minas e Energia tem como certa a licença ambiental do Ibama. O Observatório do Clima foi certeiro e direto: Brasil dobra aposta em fósseis e põe plano de transição no gerúndio.

Canga neoliberal

Por falar em governo, Juarez Guimarães e Marilane Teixeira dissecaram os problemas na agenda da presidência e fizeram uma série de propostas para derrotarmos a extrema-direita neoliberal nas próximas eleições.

Ideologia versus Oportunismo

Milei é mais claramente um ideólogo. Penso que de todos os líderes da nova direita, Milei está mais próximo de Thatcher em termos de fervor ideológico. Bolsonaro é muito mais um oportunista político, por muito tempo foi um protecionista e estadocêntrico, que se tornou ultraliberal”, assinala Rodrigo Nunes, que acaba de lançar Bolsonarismo y extrema derecha global (Tinta Limón).
O professor ainda analisou as condições sociais que deram origem à extrema-direita no Brasil e o papel do “batalhas culturais” no cenário político atual. Ao final, fez uma síntese do último pleito no país: “resumo as últimas eleições no Brasil dizendo que o melhor presidente da história do Brasil concorreu contra o pior e venceu por uma margem muito pequena e possivelmente ninguém mais teria vencido. Lula é um líder único, mas não está claro se sairá fortalecido deste governo”. A ver.

Outsiders

A extrema-direita segue solapando corações em todas as partes do planeta. Saíram vitoriosos nas recentes eleições para o Parlamento Europeu, contando com uma adesão considerável dos jovens. São atores políticos que fazem uma reinterpretação da realidade, disputando o imaginário. E agora, já não é mais necessário o líder, porque já existe um campo aberto. Por isso, “mileísmo começou com Milei, mas não vai acabar com Milei”, sustenta Esther Solano. Além do mais, a ultradireitaaprendeu a capturar a insatisfação com o sistema político”.

Déjà vu Trumpista

Uma vitória de Donald Trump será um triste déjà vu para o Estados Unidos, que nem de longe pode ser considerado um modelo de democracia. A América Latina também vai sentir os impactos dessa disputa e vai insuflar ainda mais os ultradireitistas globais.

Golpe fracassado

A insurreição militar foi desmantelada pelo presidente boliviano Luis Arce e as imagens do general, na condição de presidiário correram o mundo. A América Latina continua mostrando quão frágil suas democracias são. Todos os anos, surge da caserna, um aventureiro. Desta vez o tiro saiu pela culatra. Mas, as repercussões políticas ainda estão por vir.

Desumanização profunda

Ao que tudo indica, aos líderes do governo de Israel e aos soldados israelenses não sobrou nenhum pingo de humanidade. Tornaram-se apenas partícula, pois já não cabe mais a eles o título de civilizados. A imagem de um palestino ferido preso ao capô de um carro do exército israelense essa semana, as crianças mutiladas e sem acesso à educação e as práticas cruéis são os símbolos do cenário dantesco vivido na Faixa de Gaza.

 

Guerras sem fim

O papa Francisco mais uma vez lembrou a dor e o sofrimento do povo ucraniano com a guerra entre a Rússia ao enviar o “cardeal esmoleiro” à Ucrânia. As palavras do Cardeal Konrad Krajewski, após visitar o cemitério de Ternopil, são contundentes: “Eu sei que a misericórdia é um escândalo, que ultrapassa a justiça, que é o segundo nome de Deus, mas hoje foi difícil para mim aplicar esta palavra no cemitério da Ucrânia”.

São outros tantos conflitos no mundo. Mas a guerra civil no Sudão e a maior crise humanitária do planeta parecem esquecidas. A ONU informa que 2,5 milhões de civis correm o risco de morrer.

Planos de saúde

Se valendo de uma tática perversa, as operadoras rescindiram unilateralmente milhares de planos de saúde. Mais um jogo político para tentar aprovar os planos segmentados e sobrecarregar ainda mais o SUS, que é o garantidor da saúde da população. O professor Mário Scheffer falou do abuso do setor, mesmo com o lucro bilionário apresentado nos três primeiros meses do ano.

Dia de se orgulhar

Para fazer memória ao Dia do Orgulho LGBTQIA+ o IHU promoveu o debate A tarefa de desmasculinizar a Igreja: um olhar a partir das comunidades LGBTQIA+, com Maria Cristina Furtado, Suzana Moreira e Lula Ramires, que discutiram a necessidade de se ampliar a participação de diferentes gêneros no mundo eclesial. No artigo “Sobre a masculinidade de Jesus de Nazaré”, Selene Zorzi nos traz importantes chaves para compreendermos mais sobre o tema.

Cabe lembrar que, no último ano, o Grupo Gay da Bahia contabilizou 257 mortes violentas de pessoas LGBT. O dado evidencia que a transhomofobia continua vertente na sociedade brasileira e que precisamos dar um basta nesta discriminação. Essa matéria conta um pouco mais sobre a resistência da comunidade LGBTQIA+ frente ao agro no Centro-Oeste do país.

Racismo à brasileira

Essa semana o IHU também conversou com a professora Berenice Bento, que contou mais sobre a pesquisa que culminou no seu livro recém-lançado, Abjeção: a construção histórica do racismo, como a herança colonial e escravocrata constitui o racismo no Brasil.

Espera e age com a criação

A mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação foi categórico:

“Na esperançosa e perseverante espera do regresso glorioso de Jesus, o Espírito Santo mantém vigilante a comunidade dos fiéis e instrui-a continuamente, chamando-a à conversão dos estilos de vida, a resistir à degradação humana do meio ambiente e a manifestar aquela crítica social que é, em primeiro lugar, testemunho da possibilidade de mudança. Esta conversão consiste em passar da arrogância de quem quer dominar os outros e a natureza – reduzida a um mero objeto manipulável – à humildade de quem cuida dos outros e da criação”.

Que assim como propõe Francisco, possamos “viver uma fé encarnada, que sabe entrar na carne sofredora e esperançosa das pessoas, partilhando a expectativa da ressurreição corporal a que os fiéis estão predestinados em Cristo Senhor”.

Desejamos uma boa semana a todas e todos!