18 Janeiro 2024
Conforme o FMI, a IA afetará de 40% a 60% dos empregos e exigirá dos países forte regulação para que o uso seja ético e inclusivo.
A reportagem é de César Fraga, publicada por Extra Classe, 15-01-2024.
Estamos à beira de uma revolução tecnológica que poderá alavancar a produtividade, impulsionar o crescimento global e aumentar os rendimentos em todo o mundo. Só que também substituirá empregos aprofundará a desigualdade. O rápido avanço da inteligência artificial cativou o mundo, causando tanta excitação quanto alarme. E, provoca questões relevantes sobre o seu eventual impacto na economia global. O efeito líquido é difícil de prever, uma vez que a IA irá repercutir nas economias de formas complexas. O que se pode dizer com alguma confiança é que será necessário elaborar um conjunto de políticas para aproveitar com segurança o vasto potencial da IA em benefício da humanidade. É o que pondera, de forma otimista, Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional em artigo publicado por ocasião da divulgação de estudo do FMI divulgado no último domingo, 14, no site do FMI.
O corpo técnico do FMI examinou o impacto potencial da IA no mercado de trabalho global motivado por estudos estudos que previram a probabilidade de os empregos serem substituídos pela IA. Conforme Georgieva, porém, “em muitos casos, a IA é suscetível de complementar o trabalho humano”.
Já a análise do FMI procura capturar os dois fenômenos. Em resumo, a principal conclusão é que cerca de 40% do emprego global está exposto à IA.
Historicamente, a automação e a tecnologia da informação tendem a afetar as tarefas rotineiras, mas uma das coisas que diferencia a IA é a sua capacidade de impactar empregos altamente qualificados. Como resultado, as economias avançadas enfrentam maiores riscos decorrentes da IA — mas também mais oportunidades para aproveitar os seus benefícios — em comparação com os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento.
Nas economias avançadas, cerca de 60% dos empregos podem ser afetados pela IA. Aproximadamente metade dos empregos expostos podem se beneficiar da integração da IA, aumentando a produtividade. Por outro lado, as aplicações de IA poderão executar tarefas essenciais atualmente desempenhadas por seres humanos, o que poderá reduzir a procura de mão de obra, conduzindo a salários mais baixos e a uma redução das contratações. Nos casos mais extremos, alguns destes empregos podem desaparecer.
A diretora do FMI também explica que nos mercados emergentes e nos países de baixo rendimento, espera-se que a exposição à IA seja de 40% e 26%, respetivamente. Estas descobertas sugerem que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento enfrentam menos perturbações imediatas causadas pela IA. “Ao mesmo tempo, muitos destes países não têm infraestruturas ou mão de obra qualificada para aproveitar os benefícios da IA, aumentando o risco de que, com o tempo, a tecnologia possa agravar a desigualdade entre as nações”, diz.
Conforme o FMI, a A IA também poderá afetar a desigualdade de rendimentos e de riqueza dentro dos países. A previsão é de uma maior polarização dentro dos escalões de rendimento, com os trabalhadores que podem aproveitar a IA para ter um aumento na sua produtividade e nos seus salários – e aqueles que não podem ficar para trás. O estudo aponta que a IA pode ajudar os trabalhadores menos experientes a aumentar a sua produtividade mais rapidamente. Os trabalhadores mais jovens poderão ter mais facilidade em explorar as oportunidades, enquanto os trabalhadores mais velhos poderão ter dificuldades em adaptar-se.
O efeito sobre o rendimento do trabalho dependerá em grande medida da medida em que a IA complementará os trabalhadores com rendimentos elevados. Se a IA complementar significativamente os trabalhadores com rendimentos mais elevados, poderá levar a um aumento desproporcional do seu rendimento do trabalho. Além disso, os ganhos de produtividade das empresas que adotam a IA provavelmente aumentarão os retornos de capital, o que também poderá favorecer os trabalhadores com rendimentos mais elevados. Ambos os fenómenos poderão exacerbar a desigualdade.
Na maioria dos cenários, a IA irá provavelmente agravar a desigualdade geral, uma tendência preocupante que os políticos devem abordar de forma proativa para evitar que a tecnologia alimente ainda mais as tensões sociais. É crucial que os países estabeleçam redes de segurança social abrangentes e ofereçam programas de reconversão profissional para trabalhadores vulneráveis. Ao fazê-lo, podemos tornar a transição para a IA mais inclusiva, protegendo os meios de subsistência e reduzindo a desigualdade.
Outro ponto destacado no artigo de Kristalima é que a IA será integrada nas empresas de todo o mundo a uma velocidade absurda, sublinhando a necessidade de os políticos agirem.
“Para ajudar os países a elaborar as políticas certas, o FMI desenvolveu um Índice de Preparação para a IA que mede a preparação em áreas como infraestruturas digitais, políticas de capital humano e de mercado de trabalho, inovação e integração econômica, e regulação e ética”, expõe.
Quanto ao componente de políticas de capital humano e de mercado de trabalho, por exemplo, a pesquisa do FMI avaliou elementos como os anos de escolaridade e a mobilidade no mercado de trabalho, bem como a proporção da população coberta por redes de segurança social. A componente de regulação e ética avalia a adaptabilidade aos modelos de negócios digitais do quadro jurídico de um país e a presença de uma governação forte para uma aplicação eficaz.
Utilizando o índice, o corpo técnico do FMI avaliou a preparação de 125 países. As conclusões revelam que as economias mais ricas, incluindo as economias avançadas e algumas economias de mercado emergentes, tendem a estar mais bem equipadas para a adopção da IA do que os países de baixo rendimento, embora haja uma variação considerável entre países. Singapura, os Estados Unidos e a Dinamarca registaram as pontuações mais elevadas no índice, com base nos seus fortes resultados em todas as quatro categorias monitorizadas.
Guiadas pelas informações do Índice de Preparação para a IA, as economias avançadas devem dar prioridade à inovação e à integração da IA, ao mesmo tempo que desenvolvem quadros regulamentares robustos. Esta abordagem irá cultivar um ambiente de IA seguro e responsável, ajudando a manter a confiança do público. Para as economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, a prioridade deve ser estabelecer uma base sólida através de investimentos em infraestruturas digitais e numa força de trabalho digitalmente competente.
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A inteligência artificial afetará 40% dos empregos no mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU