Os riscos de uma deriva sectária. Artigo de Franco Giulio Brambilla

Imagem: Reprodução | Il Regno

02 Outubro 2023

A novidade eclesial dos novos movimentos religiosos, “um dos frutos mais significativos – como disse João Paulo II – daquela primavera da Igreja, já preanunciada pelo Concílio Vaticano II”, depois do aparecimento dos abusos na Igreja, que em certa medida envolveu-os por razões estruturais, eclesiológicas e teológicas, corre o risco de se voltar para derivas sectárias. O fruto poderia apodrecer antes de amadurecer. Não basta a boa intenção do carisma originário, é necessário o tempo histórico do crescimento. Assim como não basta a mera referência a Pedro como garantia.

O texto do bispo Franco Giulio Brambilla ilustra bem a necessidade de uma eclesiologia de comunhão mais completa, que combine a participação na vida de toda a Igreja e da Igreja de todos com a pertença ao grupo eletivo. Bem como uma teologia que componha e distinga a relação entre encarnação e transcendência. Porque é necessária uma relação mais completa entre carisma, instituição e liderança.

O artigo foi publicado por Il Regno, 19-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo. 

Nos últimos anos, apareceram diversas intervenções para monitorar, descrever e tratar os sintomas de derivas sectárias na Igreja e dos repetidos abusos espirituais, perpetrados por alguns líderes de agregações, associações e movimentos, mas não só, para com os seus membros. As histórias são chocantes e abrangem várias décadas, algumas anteriores ao Concílio, nem sempre acompanhadas, porém, por um sentido histórico rigoroso na avaliação dos comportamentos e dos respetivos mecanismos de justificação.

Dois fenômenos são visíveis a olho nu e exigem uma tomada de posição decisiva.

O primeiro é o escândalo entre amplas camadas de crentes sensíveis e de pessoas atentas à missão da Igreja, que provocou como reflexo analgésico a "tolerância zero", compreensível e até necessária para garantir a segurança de espaços educativos e operacionais, mas menos eficaz para propiciar uma reforma das novas formas de agregação eclesial, tanto do lado dos fundadores como do lado dos membros dos movimentos. No caso dos abusos espirituais e das suas consequências, a remoção do tumor da violência infligida no segredo das consciências e na intimidade dos corpos (com gravíssimas feridas relacionais, sexuais e econômicas) revela-se cada vez mais insuficiente para a recuperação de um caminho sereno, fecundo e transparente das novas formas de vida cristã.

O segundo é a surpresa atônita de muitas pessoas que se entregaram de boa fé a tais caminhos de vida cristã e de empenho missionário e que se veem traídas na sua confiança e esvaziadas dos seus ideais. O número de membros das novas agregações é muitas vezes muito alto, registando a presença de muitos jovens e, de qualquer forma, de pessoas em busca de autenticidade e dotadas de uma extraordinária generosidade. Vê-los hoje quase expropriados da intuição do “carismaoriginário, porque seus fundadores se revelaram personalidades sedutoras e por vezes até desviantes, requer insistentemente um trabalho de esclarecimento para distinguir o joio do trigo bom e uma ação de limpeza que alerte contra um uso inescrupuloso do argumento de que “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7,29).

Os bons frutos não são uma prova da autenticidade de um carisma, mas apenas um sinal, porque estão sujeitos à verificação do tempo. A situação crucial é o aparecimento da segunda geração, após a morte dos fundadores. Em tal conjuntura ocorre a passagem do momento “oracular” do carisma para o momento “institucional”, onde os novos chegados, desconhecendo como era na origem, devem sempre fazer a partir do zero o ousado caminho entre as palavras do fundador e o espírito que o animava.

Três textos recentes de natureza diferente se acrescentaram ao mal-estar generalizado e chamaram em causa a responsabilidade do ministério dos pastores, muitas vezes censurados por seu silêncio e por sua ignávia. Senti-me desafiado a intervir de forma concisa. Deixo de bom grado para os ensaios que forem citados o ônus da documentação analítica e o encargo da reflexão crítica.

Três provocações

O primeiro texto é de uma jornalista, Céline Hoyeau, e refere-se quase exclusivamente à área francesa.[1] A autora se dá ao trabalho de reconstruir a trama e a narrativa de movimentos e associações que atravessaram a França como um tornado nos últimos 70 anos, fincando suas raízes antes mesmo do Concílio Vaticano II. É surpreendente acompanhar a narrativa chocante de quem, tendo sido membro da comunidade talvez mais problemática, se liberta para um caminho de esclarecimento, pela pesquisa paciente, objetiva e sem preconceitos sobre as causas, circunstâncias históricas, reticências e aquiescências do mundo eclesiástico e da “opinião pública”.

Olhando de fora, causa não pouco assombro o sucesso deslumbrante desses líderes sedutores, inteligentes, superdotados e inspiradores, seguido por números de três dígitos de vocações masculinas e femininas, e por um vasto número de leigos, postos diante de uma Igreja, aquela francesa, que ao mesmo tempo registava seminários vazios, uma prática que estava perdendo o contato com as pessoas e se tornando cada vez mais elitista. A “traição dos pais” – esse é o título do livro – é publicado em plena pandemia no originária francês e acaba de ser traduzida para o italiano. É um testemunho sincero, impregnado de pathos, que não poupa nada, elaboração de um luto sofrido e superado a partir de dentro, instrutivo também para a situação italiana.

Sobre os manipuladores

O segundo texto é assinado por um padre, Pascal Ide, formado em Medicina, Filosofia e Teologia, por 13 anos oficial da Congregação para a Educação Católica, com uma bibliografia atenta às doenças e aos caminhos de cura da experiência crente de padres e leigos. A sua obra é científica e está escrita pelo método de perguntas e respostas, com um vasto aparato de notas e uma ampla bibliografia, em francês e infelizmente não traduzida.

Leva o significativo título de Manipuladores. As personalidades narcisistas. Reconhecer, compreender, agir.[2] Foi publicado em 2016 e alerta com bastante antecedência contra guias, fundadores, mestres, mas também pessoas que, na relação cotidiana, familiar e profissional, manifestam um traço altamente narcisista e por vezes até com derivas perversas. Um longo tratado lista até 30 critérios para reconhecê-los (detectar), reconstrói sua gênese listando (compreender) fatores pessoais, sociais, relacionais (também do lado das vítimas), ilustrando a “teia de aranha” narcisista de quem está ao redor.

Na segunda parte da obra o autor busca uma perspectiva cristã e eclesial, para finalizar com um capítulo (agir) sobre as estratégias de intervenção ao lidar com tais personalidades, com uma humilde percepção das possibilidades e dos limites de uma ação terapêutica.

As seitas "irmãs"

Por fim, o terceiro texto é composto por dois pequenos volumes, complementares entre si, sobre as modalidades sectários de pertencimento a comunidades e movimentos eclesiais na Itália (as seitas "irmãs") e sobre o reconhecimento de figuras manipuladoras para preveni-las (o abuso espiritual).[3] O autor, Giorgio Ronzoni, é um pastoralista atento e muito informado, que corajosamente se encarrega de traçar a situação italiana, descrevendo as "características sectárias" dos movimentos eclesiais que, a partir do pontificado de João Paulo II, teriam sido considerados como os protagonistas da reconquista católica da sociedade. Tal traço, porém, é demasido genérico para incluí-los todos sob o mesmo denominador, identificando um perfil comum.

O autor fala de forma mais objetiva de “novos movimentos religiosos” (NMR) com o objetivo de fornecer alguns indicadores objetivos, cuja presença ou ausência, não necessariamente a totalidade deles, fornece um mapa de comportamentos, ações e convicções, que orientam no diagnóstico de uma deriva mais ou menos “sectária” do grupo. Os indicadores são delineados a serviço da reflexão de caráter predominantemente pastoral, para testar a eclesialidade de tais grupos. Mais focalizado no tema do abuso espiritual é o segundo volume, que é enriquecido pela presença de muitos estudos dedicados ao tema já há tempo nas áreas anglo-saxônica, francesa e alemã, onde a concorrência de agregações carismáticas de outro tipo é muito forte.

Aproveitando esses três textos, e a vasta bibliografia neles contida, o objetivo da minha breve reflexão é mais limitado. Pretende fornecer cinco critérios a serem assumidos como indicadores, não apenas para “testar” e compreender modalidades sectárias que podem afetar a prática cristã e pastoral dos NMR e seus líderes, mas também como indícios de atitudes que podem infiltrar-se até nas comunidades cristãs (paroquiais e juvenis). As dinâmicas presentes de forma aguda nas novas formas de comunidade também atravessam os modos de agregação da sociedade, por vezes fortemente dependentes de líderes manipuladores.

Primeiro critério: a relação entre carisma, instituição e liderança

A novidade dos NMR explodiu depois do Vaticano II, recebendo a sua consagração no Pentecostes de 1998, quando João Paulo II falou de “um dos frutos mais significativos daquela primavera da Igreja já preanunciada pelo Concílio Vaticano II”.[4] O card. Joseph Ratzinger desenhou sua estrutura teológica, [5] afirmando que a natureza e a função dos movimentos era compreender-se diretamente em referência ao “detentor de um ministério eclesial universal, no Papa, como garante do envio missionário e da construção da única Igreja”.[6] Consequentemente, “o primado do sucessor de Pedro existe para garantir esses componentes essenciais da vida eclesial e conectá-los ordenadamente às estruturas das Igrejas locais”.

Os movimentos eclesiais pós-conciliares são enquadrados nesses serviços e missões, em função da dimensão universal da sucessão apostólica: “O Papa precisa desses serviços, e estes precisam dele, e na reciprocidade dos dois tipos de missão cumpre-se a sinfonia da vida eclesial".[7]

Colocados nesse cenário suntuoso, os movimentos receberam uma legitimação de alto nível, enquadrando-os como "funcionais para o ministério petrino", não apenas com o perigo repetidamente registado de entrar em conflito com a vida das Igrejas locais, que no período pós-conciliar estavam recuperando a renovada concepção sacramental e evangelizadora da sua missão, mas sobretudo com o risco de obscurecer o momento de nascimento do seu carisma.

Criou-se um curto-circuito entre a “gênese histórica” do carisma originário (os âmbitos da vida humana: trabalho, escola, família, missão, paz, pobres, etc.) e a “função universal” dos movimentos, talvez atribuída demasiado precipitadamente ao seu ímpeto que parecia apresentar-se como missionário, enquanto às vezes ocultava também uma tentativa de independência em relação às Igrejas locais.

Na dialética entre carisma e instituição, era arriscado colocar o elemento carismático apenas em vantagem dos movimentos e o elemento institucional apenas a cargo das formas tradicionais de comunidade. Acima de tudo, foi fácil perceber que, num curto espaço de tempo, a deriva levava os NMR a transformarem-se em experiências totalizadoras de Igreja, com características vistosas de “Igreja paralela”. É nesse meio de cultura que, felizmente não em todos, mas em vários grupos e movimentos, a figura do líder carismático favoreceu o desenvolvimento de algumas patologias que, passadas apenas cinco décadas daquela data emblemática, cobraram o seu preço.

O líder seduzente (atrai como modelo de vida), sedutivo (seduz para seu proveito), sedutor

Na atual crise do elemento carismático na Igreja, se destaca a figura do líder que de seduzente corre o sério risco de se tornar sedutivo e até sedutor. A diferença não reside tanto nas nuances da linguagem, mas no exercício concreto de liderança por parte dos fundadores de comunidades. Para esclarecer desde o início a diferença entre os dois tipos de fundadores, tentarei descrever as diferentes figuras e a dinâmica de transmissão da intuição originária do carisma.

A primeira figura de fundador (seduzente) atrai os seus membros para um caminho de vida cristã, muitas vezes a partir da prática de um âmbito da vida (pense-se em escola, profissão, família), mas prefigura o objetivo de torná-lo autônomo, para libertá-lo do vínculo exclusivo da dependência e colocá-lo no mar aberto do testemunho. O objetivo do percurso de vida proposto no movimento é construir um crente cristão que possa exportar a sua fé também nos contextos distintos em que será chamado a viver, na família e na sociedade.

O testemunho cristão maduro mantém ainda bons laços (eclesiais precisamente), mas não os liga a um vínculo unilateral com o fundador e seu círculo. A fé dos membros permanecerá grata pelo caminho que a gerou, mas não ficará dependente das condições práticas que a viram surgir. Nessa figura, a relação com o fundador e o pertencimento ao grupo ou movimento serão secundários, no sentido literal de que vêm em “segundo lugar” diante da relação com o Senhor: a primeira conduz à segunda, mas nunca se confunde com ela, pelo contrário, pode ser vivida também em outro contexto.

A segunda figura do fundador (sedutivo) atrai os membros do movimento e do grupo para a sua órbita, criando um vínculo pegajoso e personalista, tornando-se o diretor indiscutível de todas as ações e experiências da comunidade, forjando uma linguagem verbal e gestual de reconhecimento mútuo, estabelecendo distâncias e proximidades de aprovação e de acolhimento com base na relação com ele. O elemento característico consiste em vincular-se a uma experiência total e totalizante, insinuando a ideia, e frisando continuamente com inclusões e exclusões, que aquela forma de vida é a melhor maneira de viver o testemunho cristão.

Tal figura de fundador colocará, de fato, em primeiro lugar a pertença ao movimento sobre a relação pessoal e personalizante com o Senhor, sublinhando que as duas relações se fundem até se confundirem. A experiência do grupo ou movimento é apresentada como singular, mas no final insinua-se a ideia de que é também a única, a ponto de expô-lo ao risco de que abandoná-lo significaria enfraquecer o próprio testemunho cristão e correr o risco de se perder.

Do narcisismo às derivas

Esses dois tipos ideais de líderes fundadores são hoje postos em crise por muitas experiências dramáticas, a ponto de delinearem figuras de fundadores sedutores e narcisistas, autores de “abusos espirituais” (mais que relacionais, sexuais, familiares e econômicos) até à perversão.

Na sua diversidade, os estudos citados no início procuram reconstruir as ferramentas para investigar as causas, as características e as modalidades que permitem identificar essas figuras: com a intenção de reconhecê-las para as prevenir. Disso resulta que a fenomenologia do desconforto e até do desvio não quer generalizar, mas pelo contrário pretende colocar a salvo as “figuras dos fundadores” que continuam sendo um grande dom para a vida cristã e eclesial, quando não se apoderam do carisma, nem o encarnam apresentando-se como os únicos intérpretes in corpore vivo. Em todo caso, três aspectos são decisivos para descobrir um líder sedutivo: as características identificadoras do fundador narcisista, os mecanismos de manipulação e de abuso e os remédios para sua contenção.

Em primeiro lugar, a fenomenologia dos caracteres identificadores dos fundadores sedutivos é muito variada. Os autores citados, que por sua vez retomam a bibliografia credenciada sobre o tema, ilustram algumas constantes. A atenção fundamental é não sobrepor fundador atraente, líder sedutivo, personalidade narcisista, abusador espiritual com derivas perversas. É fácil compreender que o leque de características positivas do fundador de novas comunidades pode ser exercido de modo a deslizar para uma relação sedutiva, caracterizada por traços narcisistas, por vezes perversos, até cair no abuso espiritual de autoridade, do qual decorrem sintomaticamente os outros abusos sexuais, relacionais e familiares.

O “fundador carismático” revela-se uma personalidade seduzente, iluminada, de autoridade, forte, dinâmica, muito dotada intelectualmente e com intensa habilidade relacional, capaz de escuta, intuitiva, sensível e afetiva, misericordiosa, enfim, uma pessoa luminosa e atraente.[8] Essa forte dotação pessoal, no entanto, pode utilizar os talentos como “estrutura de poder”, revelando certos aspectos narcisistas e manipulando as relações em seu benefício, às vezes até de boa-fé.

O início promissor do fundador passa lentamente por uma transformação testada pelos fatos e pressionado pelo consenso e pela narrativa dos membros do grupo (“círculo mágico”). Isso acontece quando não consegue aceitar seu próprio limite, instrumentaliza os outros, tem dificuldade para sair do espelho do próprio ego e usa os seguidores como confirmação de sua autoestima.

O momento genético de um movimento carismático deveria ser melhor investigado, até mesmo para identificar as dinâmicas de reforço dos adeptos, a sua tipologia psicológica predominante. Além disso, a superestrutura ideológica mediada por linguagens identitárias e fórmulas repetitivas, o sucesso por vezes clamoroso do número das vocações, o crescimento dos simpatizantes, acompanhado pela pressão do argumento dos “bons frutos”, constroem em torno do líder uma aura sagrada que insensivelmente o transforma em chefe sedutivo.

Um ego superdimensionado, um eu subdesenvolvido

Os traços de uma "personalidade narcisista" além disso podem agravar a figura do fundador sedutivo, reforçando silenciosamente seus aspectos desviantes, a ponto de se tornarem até tóxicos e perversos. Os critérios para testar as personalidades narcisistas são múltiplos. Quem se dedicou a enumerá-los lista até 30 e depois lembra os nove relatados pelo Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, [9] para no final se focar em três conotações essenciais.[10]

Essas baseiam-se num núcleo egocêntrico, que nutre de maneira descontrolada o sentimento do próprio valor, tornando-o incomparável com os demais:

1) o narcisista se preocupa em atrair uma atenção igual ao seu valor imaginário;

2) ostenta direitos próprios, torna-se transgressivo, manipula a informação, resulta mentiroso;

3) constrói um mundo ao seu redor sem o outro, carente de compaixão e gratidão, aliás insensível ao sofrimento do outro, a ponto de instrumentalizá-lo para seus projetos e seu ego, que é muito frágil e necessitado de reconhecimento e incenso.[11]

Rodeado por uma numerosa corte de admiradores, incapaz de uma amizade verdadeira, o narcisista tem muitas vezes uma interioridade evanescente, estando por isso habituado à manipulação, com uma linguagem vaga, culpabilizante e alusiva.

Em segundo lugar, é necessário reconhecer os mecanismos de manipulação do fundador sedutivo e ainda mais narcisista, que pode assumir aspectos às vezes perversos. É evidente que nem todo narcisista é assim. Portanto é necessário indicar o aspecto qualificador deste último.

É reconhecido por sua atitude manipuladora, cujos traços significativos podem ser descritos, de acordo com M. Andersen: [12] exclusão, imposição, isolamento, desrespeito do local, recusa do diálogo, reificação, inversão, negação, sujeição, poder de influência.

Não parece um afresco em tintas sobrias, pois as características relatadas não revelam exclusivamente o lado escuro, mas funcionam de modo ambivalente com as qualidades positivas do narcisista: é uma pessoa que faz o bem, tem o dom da palavra, mas às vezes os usa de forma destrutiva; é hábil nos relacionamentos, parece até empático, mas é insensível ao sofrimento alheio; tem um ego hipertrofiado, mas apresenta um Eu muito frágil.

Nele se distingue um Eu (núcleo autêntico) e um ego (a aparência ou a máscara). A conclusão de Ide é lapidar: “A personalidade narcisista constrói um ego superdimensionado sobre um Eu subdesenvolvido" e a ilustra com uma imagem: "A patologia do narcisismo apresenta-se como uma moeda de duas faces: a cara, a mais aparente, o ego hipertrófico que devora tudo mais, até à destruição; a coroa, mais escondida, o Eu atrofiado, até à evanescência".[13]

O abuso espiritual

Justamente esse mecanismo do narcisista (perverso), gerador de instabilidade, é o buraco negro no qual o fundador de comunidade pode despencar com o abuso espiritual ou de autoridade. A oscilação descrita na personalidade narcisista é o terreno propício para esse tipo de abuso, que se revela cada vez mais, na literatura dos últimos anos, como a raiz de todos os abusos subsequentes.

A reconstrução de G. Ronzoni evidencia muito bem isso,[14] porque a partir das feridas dos abusos sexuais, familiares, relacionais e até econômicos, remontamos à raiz estragada do abuso (de poder) espiritual. Aqui está a definição heurística de F. Genn: o abuso espiritual consiste em “um abuso de autoridade e/ou de poder em âmbito religioso, a apropriação indébita, pelo perpetrador, da relação de uma pessoa com Deus para satisfazer as suas próprias necessidades e objetivos que prejudicam a relação daquela pessoa com Deus."[15]

A modulação dos abusos tem diferentes graus que vão desde a negligência espiritual da vítima até à manipulação e depois à violência espiritual do superior, que impõe isolamento, rompimento com a família e amigos, práticas ascéticas como o jejum ou um trabalho humilhante, até à administração de falsas terapias médicas e exorcismos. A cena é revoltante e pode ser instalada como um verdadeiro “sistema de abusos”, que dois autores franceses descreveram como uma cebola de múltiplas camadas: a comunidade que acolhe; o estado eufórico do início; o ritmo frenético de vida; a falta de espírito crítico e de respeito pela intimidade; a vigilância e intrusão exagerada; o duplo comportamento do líder e do círculo mágico.[16]

Justamente esse carácter sistêmico recomenda, na minha opinião, não só se concentrar no líder manipulador [17] ou na vítima abusada,[18] mas precisamente no mecanismo "armadilha" já claramente descrito por D. Johnson e J. van Vonderen. [19]

Por fim, uma palavra precisa ser dita sobre os remédios para a contenção dos fundadores sedutivos e do “sistema de abuso”. Dois remédios foram propostos nos últimos anos: a permanência no cargo por tempo determinado dos fundadores (não mais do que dois mandatos consecutivos); [20] a rigorosa distinção entre foro interno e foro externo.[21]

A esses deve-se acrescentar um terceiro, que precisa ser implementado já no período de fundação de um grupo ou movimento, e em qualquer caso deve ser atualizado na passagem para a segunda geração, por meio da aprovação eclesiástica dos Estatutos, atentando para a subdivisão dos poderes e das competências (responsável, ecônomo, conselheiros, etc.) de cada comunidade e promover a objetivação dos processos de tomada de decisão nos órgãos de direção do movimento.

Ora, os dois primeiros remédios foram repetidamente lembrados e codificados pelo Papa Francisco; o terceiro representa um elemento tradicional das antigas ordens religiosas ou das associações eclesiásticas, mas foi desconsiderado no momento de fundação dos movimentos, reivindicando de fato a equivalência entre carismático e espontaneísta.

A história ensina, como aconteceu por exemplo no franciscanismo com a entrada no movimento de ministros ordenados e teólogos e sua disseminação generalizada, que o movimento carismático precisa do elemento instituído, não apenas para canalizar a sua força propulsora, mas para evitar dispersar a sua energia em fragmentos soltos. Mesmo para o fenômeno relativamente novo dos NMR, não se pode esquecer a sabedoria histórica que vem das irmandades e corporações leigas. De resto, os três remédios propostos ainda estão na linha pastoral e canônica e necessitam de uma integração mais profunda em nível teológico e cultural.

Segundo critério: palavras e gestos identitários

O segundo critério diz respeito às palavras e os gestos de fé com que se expressa a prática dos NMR. Antes mesmo de falar dos seus adeptos e do mecanismo de reforço que exercem sobre líderes sedutivos, é necessário ampliar o olhar sobre a prática de vida de novos movimentos e comunidades.

É sintomático que nos estudos citados esse capítulo seja pouco ou nada considerado, seja por eventualmente ser difícil monitorar o comportamento dos membros dos NMR, seja também devido a uma exclusão ideológica que reduz o ser cristão às intenções e às proclamações ideais e que tem uma compreensão sentimental da prática crente. Contudo, basta refletir um pouco sobre o fato de que o cristianismo é prioritariamente uma (boa) prática, que não só traduz no concreto uma verdade conhecida a montante do empenho histórico da fé e da caridade, mas é precisamente o lugar onde se constrói a própria figura cristã.

Durante mais de 15 séculos, antes da separação entre doutrina (e moral) e vida secular, a circularidade entre teoria e práxis era muito estreita. Além disso, as formas práticas não servem apenas para expressar a identidade singular dos NMR, mas também têm a função de incrementar a pertença para o grupo. Expressar-se com tais linguagens, fazer tais gestos devocionais, celebrar daquela forma, cantar aquelas canções, participar naqueles empenhos de caridade, partilhar alianças ou contrapor-se a outros grupos, são todas formas práticas para ressaltar a identidade e a pertença ao movimento.

Por isso é útil debruçar-se sobre as linguagens, sobre as práticas devocionais, sobre a forma de celebrar e sobre as intervenções culturais, caritativas e sociais dos NMR: não nos interessa a completude da documentação, mas sim o carácter sintomático das suas práticas para testar a eventual deriva específica ou, no limite, sectária.

A linguagem verbal é a primeira forma que configura a pertença a um grupo. Isso não se aplica apenas aos movimentos, mas a qualquer forma de agregação que pretenda circunscrever um grupo identitário. Com divertida ironia aconteceu várias vezes descrever amavelmente tais pertenças a movimentos, imitando a linguagem e os gestos utilizados por seus membros. Na terceira palavra fica fácil intuir a quem pertence um adepto de associação, movimento, comunidade, como fala, canta, se veste, age, até com o que tiques se comporta.

Em todos os períodos da história, as novas formações eclesiais sempre tentaram padronizar linguagens e comportamentos. É singular que o Credo, símbolo da fé - desde a antiguidade até os dias de hoje - tenha sido considerado uma carteira de identidade e de pertença, mais que uma profissão de verdade.

Somente aqueles que confessavam o mesmo símbolo de Lyon (Irineu) a Cesareia (Eusébio) podiam se denominar “católicos” e em “comunhão” entre as Igrejas. Embora mantendo a particularidade linguística dos símbolos das diferentes Igrejas, a estrutura básica (trinitária) do Credo era a mesma e suportava variações significativas. Em todo caso, porém, o elemento “católico” das linguagens dizia respeito à doutrina objetiva, até com termos que poderiam se tornar decisivos (homoousia, natureza, pessoa).

As linguagens gestuais

Nos movimentos de reforma, ao contrário, não só nos contemporâneos, mas também naqueles antigos, medievais e modernos, a linguagem verbal ou gestual muitas vezes convinha à escolha (basta pensar na pobreza para São Francisco ou nos exercícios para Santo Inácio) em torno da qual se condensava a forma vitae do grupo. Era um “ponto de síntese” que reconhecia o seu limite e deixava espaço para diferentes acentos para outros grupos.

Isso não excluiu uma espécie de concorrência, nem mesmo tão velada, entre os movimentos religiosos da história, por vezes com pontos de fuga em grupos sectários e heréticos, mas sempre temperada pela complementaridade reconhecida no seio da Igreja, que preservava o elemento "católico". Talvez um aspecto diferencial dos movimentos pós-conciliares tenha sido colocá-los no front da universalidade da Igreja, entrando efetivamente em rota de colisão com as Igrejas locais.

Seria útil realizar pesquisas que investigassem a seguinte questão crítica: as linguagens utilizadas nos NMR colocam a ênfase no elemento singular do carisma (identidade), tornando-o plástico para falar da fé católica (universalidade)?

Talvez, porém, seja sobretudo o vasto campo das linguagens gestuais (práticas devocionais, formas de celebrar, formas de anúncio, etc.) que exerce o maior fascínio tanto para reforçar a identidade como para expressar a pertença a um movimento ou agregação eclesial. Na segunda metade do século XX e neste início do terceiro milênio, vimos todo tipo de coisas.

Para enumerá-las é só escolher: práticas marianas desviadas, orações carismáticas, ritualidades esotéricas, cantos exclusivos do movimento, celebrações dominicais de grupo, adorações com videomaker, missas de cura, vigílias de eventos, exercícios orientados pelo guru, e assim por diante, sem falar de adulterações das orações da tradição (a Ave Maria purificada do “rogai por nós pecadores” com um mais inocente “rogai por nós, filhos teus”; ou a recusa ao Salve rainha, por não ser mais atual dizer “neste vale de lágrimas”); ou, ainda, de posturas corporais (sentados durante a consagração, etc.) e formas de cumprimentos úteis para a certificação do grupo.

As intervenções culturais, de caridade e sociais

Não há como não ver que essa ambivalência invasiva das práticas devocionais e dos ritos sacramentais, cada vez mais privatizados e manipuláveis, tenha rompido a bela e sóbria "gramática da oração litúrgica católica" e conseguiu unir-se com a ação manipuladora de líderes sedutivos e de comunidades ditas criativas, dando origem a uma verdadeira decomposição da prática cristã.

Entre todas as formas rituais, destaco a questão essencial da Missa dominical. Pergunto-me: se a missa festiva é sistematicamente celebrada e vivida apenas com o próprio grupo ou movimento, com uma comunidade de eleição ou de adoção, como se pode pensar a longo prazo em pertencer simplesmente à Igreja católica? É um tema decisivo: ser cristão não significa apenas partilhar um Credo, mas celebrar juntos o santo mistério da Eucaristia, que não é minha, nem nossa, mas do Senhor, e só assim cria a comunidade dos seus discípulos. Actuosa participatio não pode significar particularis manipulatio!

Por fim, um âmbito emblemático de pertencimento identitário encontra-se nas intervenções culturais, de caridade e sociais dos NMR. Em tal contexto, a natureza missionária dos novos movimentos teria que expressar a sua criatividade e complementaridade. Se a origem do movimentismo pós-conciliar se coloca nos âmbitos de vida, precisamente aqueles espaços, muitas vezes abandonados pela pastoral ordinária (escola, universidade, profissão, trabalho, caridade, missão, paz, criação, etc.), pode se tornar o terreno propício para uma ação missionária de âmbito mais amplo do que a praticada pelas Igrejas locais.

Mas não foi a superação desses espaços pelos movimentos e pelas novas comunidades que os levou a imaginar a sua experiência como uma experiência de Igreja e de missão paralela e totalizante? Na verdade, uma consideração adicional e mais importante deveria ser acrescentada: é justamente no espaço cultural, caritativo e civil que é jogada boa parte da diferente visão dos novos movimentos sobre a relação Igreja e mundo, ou Evangelho e história: mais encarnacionista em alguns, com a deriva do presenteísmo e do proselitismo no mundo, mais escatológico em outros, com a deriva de uma alienação apocalíptica e espiritualista do mundo.

A diferença de ênfase (legítima) de uma forma de presença no mundo (encarnada ou escatológica) pode resvalar na contraposição (conflitual) ao mundo (apocalíptica ou negacionista). Aqui acende-se a luz vermelha da deriva sectária!

Terceiro critério: o mecanismo de eleição ou exclusão

O terceiro critério para testar a rampa escorregadia de um deslizamento elitista e separatista dos NMR deve ser buscado no lado dos membros dessas agregações, ou melhor, no mecanismo de recrutamento dos membros. Dois dados são impressionantes e preocupantes: o primeiro diz respeito ao efeito dominó da adesão dos participantes, que assume características de contágio; o outro revela o mecanismo de recrutamento que levanta suspeitas de uma dinâmica de sujeição. Se o primeiro dado impressiona pelos números de vocações sacerdotais, consagrações religiosas e adesões dos simpatizantes, o segundo dado choca pela sua capacidade de enredar na trama de pertença ao grupo. O vínculo tecido em torno do líder seduzente tornou-se tanto mais inextricável quanto mais ele agiu como um guru sedutor. O fenômeno, visto de fora, leva a pensar no grande poeta: “Descalço vai Egídio, vai Silvestre, Porque amam-na, do esposo no carreiro”.[22]

Desde a morte de São Francisco (1226) até ao fim de São Luís IX (1270), o primeiro rei franciscano, na Europa os filhos do poverello de Assis eram cerca de 30.000. O número de membros das novas comunidades também é muito alto, tanto numérica como geograficamente. No entanto, os acontecimentos dessa última década ou, talvez melhor, o que veio à tona nos últimos anos, coloca a questão crucial: os recém-chegados só foram atrás do esposo ou conseguiram amar também a Esposa?

Metáforas à parte: como é possível que muitos seguidores tenham ficado vítimas de abusos espirituais, manipulações, vínculos malsãos, sem que isso signifique necessariamente uma falta de boa-fé por parte dos membros? Aliás, justamente partindo da certeza de que muitos, senão todos, tenham aderido com entusiasmo e generosidade, como se explicam os abusos e como se compreendem as vítimas? Qual é o mecanismo escondido que produz tanto o bom pertencimento quanto a deriva maléfica, que às vezes parece inexorável?

As principais características dos adeptos

Chegamos no ponto central para diagnosticar as derivas sectárias dos NMR, porque muitas vezes é atribuída ao ministério pastoral a responsabilidade de ter subestimado a realidade, ou pior, de ter até promovido conivências cúmplices. Todas as investigações das quais partimos dedicam expressamente um ou mais capítulos à compreensão do fenômeno. [23] O que é importante não é apenas descrever os aspectos de fraqueza e fragilidade de alguns membros das agregações, que favorecem a sua manipulação e transformação em vítimas, mas o mecanismo especificamente sectário de eleição ou exclusão, de predestinação ou reprovação, de salvação ou condenação, em que os seguidores são envolvidos e, no final, subjugados.

De forma forte, a jornalista francesa fala de um ecossistema: “Os fundadores não poderiam ter tido sucesso sem discípulos adoradores e profundamente subjugados, que não viram ou não quiseram ver, deixando-se abusar em todos os sentidos do termo”.[24]

Aqui estão os traços salientes: o apego mórbido a um narcisismo idealista para realizar a si mesmos; a tendência de se tornarem “espelhos cúmplices” pois iludidos de participar de belas histórias; o sonho estimulante de ser admitidos no restrito e privilegiado círculo dos íntimos do líder; a necessidade espasmódica de pontos de referência respeitados, numa época de evanescência do pai; uma certa ingenuidade dos grupos católicos, com a ausência de formação intelectual e espírito crítico; fragilidade afetiva e vulnerabilidade psicológica que acompanham todo período de crescimento e transformação; uma ênfase na experiência emocional que transforma a referência espiritual em vínculo afetivo, submetendo o fundador a um sutil processo de idolatria.[25]

O quadro psíquico da vítima frequentemente manipulada precisa ser melhor focado: trata-se de personalidades generosas e amáveis; espontaneamente confiantes ao limite da ingenuidade; carentes de autoconfiança; em busca de uma relação de apoio; necessitadas de ser socorridas e protegidas; facilmente dispostas a serem criticadas e que renunciar ao seu próprio juízo.

Acima de tudo, porém, diante de comportamentos violentos e sádicos das personalidades narcisistas, a vítima se deixa quase subjugar masoquisticamente, suportando todo tipo de violação, diante da imprevisibilidade do comportamento perverso.

No início ela interpreta a violência como sinal de amor, depois aceita as micro-humilhações cotidianas (silêncio, desprezo, chantagens), depois sofre com vergonha a violência verbal (insultos), até se habituar àquela física, perdendo todo espírito crítico (agressões, feridas, reclusões). Cria-se assim uma espécie de triângulo vitimário, entre carrasco, vítima e salvador. [26] Mas o mais interessante é a constatação de que a relação entre carrasco e vítima não acontece num esplêndido isolamento, mas navega nas águas turvas do que se poderia chamar de “rede narcísica”, com a qual o entourage do manipulador assiste, aprova e favorece as intervenções da pessoa agressiva e perversa.[27]

Técnicas de recrutamento

De natureza diferente, mas não menos relevante em termos de diagnóstico, é a descrição das técnicas de recrutamento e de persuasão dos membros das novas comunidades. Elas se alicerçam nos métodos descritos pela psicologia social, adaptadas ao contato com os movimentos: primeira abordagem do recrutador; convite para um evento especial ou um lugar maravilhoso; primeiro contato com o grupo para fazer com que o recém-chegado se sinta amado e esperado; técnicas de persuasão para prolongar a relação e favorecer o retorno.

Esses métodos envolvem a especialização de pessoas experientes e empáticas, treinadas no mecanismo de recrutamento, que passam insensivelmente a faze parte da rede de aliciamento.[28] Mais interessante ainda é virar a câmara para o lado dos potenciais adeptos dos novos movimentos, especialmente se forem jovens: necessidade de valorização da pessoa porque se sente socialmente inadequada; exigência de um poder carismático; necessidade de aumentar a autoestima; alívio de uma dor devida a uma perda; necessidade de dependência e de apoio; busca por um novo sistema relacional; vulnerabilidade às técnicas de manipulação; família desagregada e problemática. [29]

A deriva vitimária agrava-se depois com características peculiares quando a pessoa se encontra num sistema abusivo: no início a pessoa não se apercebe, na verdade nega estar numa condição de perigo; não percebe a submissão porque o abuso espiritual ocorre progressivamente com o consenso da vítima; a vítima sente-se angustiada por ter que enfrentar uma situação de ruptura e distanciamento do grupo onde inicialmente se sentiu acolhida e valorizada; isso gera uma forte fratura na autoestima, deformada por uma espiritualidade construída sobre o senso de vergonha, de culpa, de negação de seus desejos imediatos; segue-se uma imagem distorcida de Deus, apresentada pelo líder e pelo seu círculo mágico como autoridade caprichosa, arbitrária, exigente e perfeccionista, que estabelece objetivos cada vez mais elevados; isso gera confusão entre instâncias do líder (e da comunidade) e vontade divina, sucumbindo a um Deus do dever que culpabiliza, no lugar da graça que encoraja; escassez e pobreza dos conhecimentos bíblicos e tradicionais, para personalizar um conhecimento cristão; desestruturação relacional tanto em relação ao líder como dos outros membros, com privação da confiança e aumento da vergonha, culpa e ansiedade; por último, dificuldade em admitir o abuso de poder espiritual e condescendência às outras formas de abuso (sexual, relacional, familiar, corporal, econômico).

Felizmente, esses traços não estão todos igualmente presentes, mas resultam num estado de prostração em que o abuso de poder se multiplica de forma viral.[30]

De eleitos a predestinados

A fenomenologia da deriva sectária, da manipulação da vítima e do abuso espiritual não é suficiente se não se chega a indicar a sua raiz mais profunda: é o mecanismo de eleição e exclusão. Muitas vezes paira não só no pano de fundo dos NMR, mas também nas outras formas de agregação social: por isso, todos devem perguntar-se sobre as suas causas, a sua ameaça e as suas soluções. Por ser um “mecanismo”, não funciona apenas de forma binária (líder sedutivo-vítima de abuso), mas de forma ternária (líder, comunidade, membro), com a triste possibilidade de se transformar em sua configuração abusiva (carrasco, círculo mágico, vítima).

A causa remota é propor um percurso de vida (profissional ou religioso) como “singular”, segundo a lógica da eleição ou da exclusão. Em si, cada caminho só pode se apresentar como um caminho pessoal e personalizante, como uma vocação ou um carisma, e por isso também “irrepetível”, mas isso não pode significar que, caso não se realizar, comporte a exclusão ou pior ainda, a perda de si mesmo.

Ao nível da história pessoal isso é bastante compreensível, ainda que hoje a concretização da profecia do “homem sem qualidades” (Robert Musil) nos coloca diante de personalidades líquidas e vulneráveis. No entanto, em nível de associações, grupos, movimentos e comunidades (religiosas e eclesiais), a ideologia da “eleição” recai por vezes numa sutil interpretação “predestinacionista”, porque um percurso de vida comunitária “singular” é entendido e apresentado como “o único". Não realizar tal destino comum de vida corre o risco de criar uma ameaça para o próprio futuro: a dupla eleição-exclusão é corrompida em salvação-reprovação ou, pior, predestinação-condenação.

Nas histórias das vítimas de abusos pode-se notar, por assim dizer, uma trágica cadeia de exclusões, que depois se transforma em desaprovação e até condenação, não só por parte do líder, mas também dos membros do movimento-comunidade. Quem se opõe ou expressa dúvidas, questionamentos, espírito crítico, é submetido primeiro à ameaça e depois ao gotejamento de palavras e gestos de marginalização e desaprovação, que são o terreno propício para a manipulação do líder e para o abuso da vítima: um verdadeiro ostracismo!

Nesse mecanismo a comunidade é muitas vezes organizada em camadas: a “cúpula” que funciona como círculo mágico e reforça os gestos do fundador/abusador; os “assíduos” que mais ou menos inconscientemente transmitem a ambivalência das palavras e gestos do mecanismo de eleição-exclusão (“quem não está conosco está contra nós”); o “pântano” que não percebe o que está acontecendo, mas reforça de forma não culpável o mecanismo, mesmo que mais cedo ou mais tarde será posto diante da escolha de pertença.

Parece-me que seja decisivo esclarecer o mecanismo com uma crítica serena e construtiva de todas as formas de ênfase unilateral nos caminhos de vida cristã. Bastaria dizer: “É lindo reconhecer na tua vocação o que falta na minha!”. Os movimentos e as comunidades devem poder afirmar: “É urgente reconhecer no teu carisma o que não existe no nosso movimento!”.

Como escreveu de forma extremamente lúcida J.A. Mohler: “Não gostaríamos de congelar por um extremo individualismo nem sufocar por um centralismo extremo (…) É necessário, portanto, que nem o indivíduo, nem cada um queira ser tudo; só todos podem ser tudo, e só o conjunto pode ser a unidade de todos. Isso é o eidos da Igreja católica”.[31]

Quarto critério: a visão doutrinária apocalíptica

O quarto critério é o mais difícil de manejar porque requer submeter a análise a visão doutrinária dos NMR. Poderíamos dizer sucintamente que se trata de avaliar a verdade no movimento e verdade do movimento: a primeira diz respeito à possibilidade de apurar a parrésìa nas dinâmicas internas do movimento ou agregação eclesial, especialmente para o seu líder e para o grupo de adeptos, em especial na relação interno-externo; a segunda diz respeito aos parâmetros de avaliação da doutrina proposta pelo fundador, quando ele e os seus seguidores propõem o seu caminho cristão como tendencialmente totalizante e vinculam o seu carisma a uma visão doutrinal parcial.

No primeiro aspecto, a verdade no movimento, as questões são muito delicadas. Por um lado, observa-se uma forma de reticência quando o líder se esconde por trás de uma suposta verdade “mais alta e inacessível” de traços esotéricos. Geralmente a reserva é afirmada sob o pretexto de salvaguardar, com uma espécie de disciplina do arcano, um estado espiritual mais avançado.

Isso pode acontecer diante dos membros da comunidade, que apresentam perguntas críticas sobre a coerência do ethos do grupo, tanto para justificar comportamentos sexuais anormais (próprios ou alheios), como para impor limitações às relações familiares, quanto para intimar comportamentos ascéticos arbitrários e, finalmente, para manter silêncio sobre escolhas econômicas e de estilos de vida luxuosos e refinados (moradia, automóveis, roupas, viagens, férias, etc.) em comparação com os costumes da comunidade.

Por outro lado, especialmente no momento da formação dos novos chegados, é difícil encontrar a harmonia libertadora entre abertura confiante aos formadores e proteção da intimidade das pessoas. É precisamente a falta de separação entre foro interno e foro externo que determina a diferença entre um estilo invasivo e manipulador e um estilo de respeito pela liberdade, que é a fronteira intransponível da verdade espiritual e do comportamento moral de uma comunidade ou movimento. Acima de tudo, a temática do segredo para com os que estão fora (mesmo eclesiásticos) sobre as dinâmicas internas do grupo, que por vezes é codificado num “voto de caridade” ou numa “regra de confidencialidade” relativamente à pertença dos membros, para evitar supostos danos no âmbito profissional ou familiar, revelou-se muitas vezes, diante dos escândalos, como um instrumento diabólico de conivência em relação a abusos e a comportamentos desviantes, ou como meio de poder nas instituições eclesiásticas e de promoção nos âmbitos seculares (escola, universidade , saúde, economia etc.).

Não é raro que se possa tomar conhecimento, mesmo depois de muitos anos, da filiação de um membro a um movimento ou associação, especialmente quando se percebe a forte presença e ocupação de uma instituição pelo movimento, com critérios que não são primordialmente aqueles de mérito, mas muitas vezes apenas - justamente - de pertencimento.

Um juízo histórico comum sobre o mundo e sobre a Igreja

No segundo aspecto, a verdade do movimento, não existem pesquisas direcionadas sobre um tema tão sensível e que necessita de um fino discernimento teológico e espiritual. Geralmente, a proposta do carisma se vale de uma produção muito heterogênea (conferências, palestras, meditações, instruções espirituais, textos, vídeos, percursos teológicos, etc.), nem sempre acessível a todos, e muitas vezes, quando ainda na presença do fundador, com traços fortemente “oraculares”.

Com a passagem da segunda geração surge, além disso, a questão de reavivar, sob as cinzas das linguagens repetidas de forma esquemática, a brasa do espírito carismático da origem. É fácil constatar o perigo de vender fórmulas e do psitacismo dos membros, ou da comunidade em duas velocidades, dividida entre aqueles que conheceram o líder fundador e quem deve herdar o seu legado.

No que diz respeito às visões doutrinais que regem os vários movimentos, é neste momento impossível dar conta delas, senão ao preço de inaceitáveis simplificações.

Ouso propor uma dupla tipologia polarizada entre movimentos de natureza marcadamente escatológica e espiritualista e movimentos mais encarnacionistas e presenteístas.

No entanto, temo que em ambas as visões exista uma orientação “apocalíptica” comum, que delineia a relação entre interior e exterior do movimento/grupo/comunidade com um juízo histórico sobre o mundo (e às vezes também sobre a Igreja) que precisa ser salvo da sua deriva cultural e moral.[32]

O resultado final é o mesmo: o mundo vai mal e está à deriva e a Igreja (ocidental) agora está cansada e estéril, e precisa da linfa vital e da energia do (nosso) movimento para se redimir.

Sobre esse traço comum, que se expressa num anúncio, numa pregação, numa prática cristã e social unidirecional, potencialmente proselitista, destaca-se a polarização acima mencionada, aliás muito tradicional, que se diferencia pelo distinto modo de interpretar a relação Evangelho-história e Igreja-mundo: um basicamente escatológico, que interpreta o mundo como perdido e que só pode ser salvo com um movimento alternativo ("comunidade criativa"), antes talvez minoritário, com a ilusão de que se tornará maioritário; o outro fortemente encarnacionista, que imagina o mundo como uma arena fragmentada e propícia para uma reconquista cristã, obtida com um cristianismo de presença, mesmo ao preço de uma concorrência que contenda espaços, poderes e intervenções com as outras forças culturais e sociais em campo.

O primeiro corre o risco de retirar-se para um espiritismo desencarnado, para recriar a vida cristã desde a raiz; o segundo tenta se embrenhar no espaço mundano, com a pretensão nem sequer tácita de poder salvar não só a identidade cristã, mas de impô-la a outros. Naturalmente, os dois tipos ideais não existem em estado puro, e talvez entre eles existam tantas variações quanto os movimentos carismáticos atuais.

No entanto, permanece o fato do juízo histórico comum e da incapacidade de compreender a relação do Evangelho com o mundo em termos de uma "troca simbólica" entre semente e solo, e fermento e massa, onde ambos contribuem para realizar o admirabile commercium entre os dons que o Senhor nos doa e que nós lhe oferecemos e a sua presença que ele nos dá em troca!

Quinto critério: a proposta moral ambivalente

O último critério é o mais evanescente, porque o tema moral se atém à esfera pessoal e para uma agregação podemos falar no máximo de um ethos comum. E, no entanto, é inevitável observar que também os movimentos têm uma proposta de moral pessoal e de empenho social.

Dois temas me parecem de grande importância: um, interno ao movimento, refere-se à ética da convivência comunitária, na dialética entre indicações e normas do líder (fundador ou atual) e responsabilidades dos membros; o outro, que delineia a figura ética do movimento na sua relação com a consciência, a lei, a vida, a sexualidade, a geração, a sociabilidade e a política.

Por um lado, para evitar a deriva sectária é necessário que os comportamentos internos ao movimento recebam uma configuração ética que não dependa sempre ou exclusivamente da intervenção oral do fundador ou do superior, mas que os processos sejam objetivados nos Estatutos e num Regulamento. Também seriam úteis instruções pastorais que possam transmitir um ethos comunitário confiável, atualizável em intervalos regulares. É também necessário criar um suporte institucional para a forma do movimento, caso contrário cairá no espontaneismo, do qual serão vítimas principalmente os seus membros.

Sempre me impressionou, tanto nos antigos quanto nos modernos fundadores de comunidades e de vida consagrada, a notável distinção entre a pessoa do fundador e a obra por ele criada. Era a obra que precisava ser amada, na qual era preciso investir as forças e era preciso servir, enquanto a pessoa (do fundador e dos associados) devia desaparecer, ou melhor, ser concebida como totalmente relativa à forma prática do carisma (os jovens, os pobres, os sofredores, os últimos).

Um ethos só pode ser convocado em torno de uma paixão espiritual e ética comum, que seja capaz de se tornar vocação pessoal e comunitária. Essa é uma lição inesquecível, que deve concretizar-se também nas novas agregações e nos seus processos de consolidação do carisma. Na ausência disso, o arbítrio espiritual e a ética individualista prevalecerão sobre qualquer referência ao “nós eclesial” do carisma, que assim permanecerá retórico e mera veleidade.

Por outro lado, gosto de pensar que também a proposta ética, pessoal, eclesial e social dos vários movimentos e das novas comunidades segue as orientações que delineamos em nível da doutrina. Se o pano de fundo é aquele apocalíptico que interpreta o tempo presente como uma crise de sistema, temo que a orientação moral possa cair em formas idealizadoras, tanto alternativas (escatologistas) quanto combativas (encarnacionistas), com todas as nuances intermediárias, sem fazer a experiência da realidade e do limite que podemos e devemos compartilhar com os homens de hoje.

Nós não somos os melhores, mas podemos nos tornar não ao lado ou contra os outros, mas sim compartilhando o destino comum na troca virtuosa entre boas experiências de vida, para as quais é uma vantagem ter uma comunidade ou um grupo estimulante, e compartilhamento da vida dos homens do nosso tempo, com os quais podemos tentar falar e doar o cristão, gerando cada vez mais humanidade em nós e com eles. Encarnação e transcendência são dois polos entre os quais não se deve escolher, mas com os quais se pode viver uma ética da partilha e do testemunho. Sem nunca separá-los!

Para prevenir…

O presente texto pode parecer amargo e dramático, mas não é nada – é preciso reconhecê-lo – comparado com as derivas desviantes e os abusos espirituais que colocaram em perigo a nossa fé e a confiança de muitos nos últimos anos. Escrevi estas notas não tanto para denunciar a deriva sectária de grupos e movimentos. Elas também se aplicam a qualquer outra configuração agregativa, incluindo associações, paróquias e escolas dominicais. O medo da deriva é bastante evidente e preocupa a todos, mas fiz isso para reconhecê-la e preveni-la. Se servir como colírio para ver melhor, bisturi para tirar algum abscesso e bálsamo para a curar e prevenir, ficarei feliz.

Para concluir gostaria de transcrever o texto claro e amoroso que o Card. Carlo Maria Martini proferiu na sala do Sínodo sobre os leigos em 13 de outubro de 1987 e que suscitou grande repercussão na imprensa: “Naquilo que hoje, talvez com demasiada facilidade, se chama carisma de um movimento ou de um grupo, é necessário distinguir pelo menos quatro coisas: as pessoas que compõem o grupo, muitas vezes generosas e abnegadas; o germe ideal que sustenta sua ação, em sua maioria válido; a ideologia ou o sistema doutrinário que se desenvolve em torno da intuição subjacente; e finalmente a práxis concreta: pastoral, formativa, litúrgica, às vezes também social, econômica e civil. O discernimento deverá levar em conta todos esses aspectos, e não se limitar às intenções e à bondade subjetivas das pessoas, e verificar, por exemplo, se a práxis dá sinais de exclusivismo, ou está de bom grado aberta as empreitadas comuns; se implementa na prática os valores evangélicos da humildade e da pobreza, ou se deixa tentar por lógicas de poder”.[33] Depois de tantos anos ainda estamos aqui com a esperança de não renunciar a um discernimento, necessário e saudável para toda a Igreja que amamos.

Notas

1 Il tradimento dei padri. Manipolazione e abuso nei fondatori di nuove comunità, Queriniana, Brescia 2023 (ed. or. La trahison des pères. Emprise et abus des fondateurs de communautés nouvelles, Bayard, Montrouge 2021).

2 P. Ide, Manipulateurs. Les personnalités narcissiques. Détecter, comprendre, agir, Éditions Emmanuel, Paris 2016.

3 G. Ronzoni, Le sètte “sorelle”. Modalità settarie di appartenenza a gruppi, comunità e movimenti ecclesiali?, Messaggero, Padova 2016; Id., L’abuso spirituale. Riconoscerlo per prevenirlo, Messaggero, Padova 2023.

4 João Paulo II, Mensagem aos participantes do Congresso mundial dos movimentos eclesiais (Roma, 27-29 de maio de 1998), 27.5.1998, n. 2; Regno-doc. 13,1998,398.

5 J. Ratzinger, “I movimenti ecclesiali e la loro collocazione teológica”, in Pontificium consilium pro laicis, I movimenti nella Chiesa. Ata do Congresso mundial dos movimentos eclesiais (Roma, 27-29 de maio de 1998; Libreria editrice vaticana, Cidade do Vaticano 1999, 23-51; Regno-doc. 13,1998,399.

6 Ibidem, 43; Regno-doc. 13,1998,406.

7 Ibidem, 46. A expressão conclui a argumentação que relato integralmente (45-46): “Nem mesmo o próprio ministério petrino seria corretamente entendido e seria distorcido numa monstruosa figura anômala, se apenas coubesse ao seu detentor a tarefa de realizar a dimensão universal da sucessão apostólica. Na Igreja deve haver sempre serviços e missões que não sejam de natureza puramente local, mas sejam funcionais ao mandato que investe a realidade eclesial global e a propagação do Evangelho”, ou seja, a dimensão universal da Igreja; Reino-doc. 13.1998.405.

8 Hoyeau, l tradimento dei padri, 96-100.

9 Associação Psiquiátrica Americana, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª ed., American Psychiatric Publishing, Arlington (VA) 2013;

10 Ide, Manipulateurs. Les personnalités narcissiques, 23-43.

11 Ibidem, 30-32.

12 Citada ibidem, 32s.

13 Ibidem, 43.

14 Ronzoni, L’abuso spirituale, 21-25.

15 Citado ibidem, 30.

16 B. De Dinechin, X. Léger, Abus spirituels et dérives sectaires dans l’Église: comment s’en prémunir?, Mediaspaul, Paris 2019, citados in Ronzoni, L’abuso spirituale, 34-38.

17 Ronzoni, L’abuso spirituale, 73-88.

18 Ibidm, 61-70..

19 Síntese ibidem, 42-59.

20 Dicastério para os leigos, a família e a vida, As associações de fiéis, decreto que regula o exercício do governo nas associações internacionais de fiéis, privadas e públicas, e em outros entes com personalidade jurídica sujeitos à tutela direta do mesmo dicastério, 11.6.2021, art. 2º, § 4º; Regno-doc13.2021.404.

21 Código de Direito Canônico cân. 630.

22 Dante, Paraíso, XII, 83-84.

23 Cf. Hoyeau, “Specchi complici”, in Il tradimento dei padri, 139-168; Ide, “Du côté de la victime” e “Le réseau narcissique”, in Manipulateurs. Les personnalités narcissiques, 89-99; Ronzoni, ‘Il reclutamento e le motivazioni di chi aderisce”, in Le sètte ‘sorelle’, 57-74; Id., ‘Le vittime’ in L’abuso spirituale, 61-71.

24 Hoyeau, Il tradimento dei padri, 139.

25 Ibidem, 140-168.

26 Ide, Manipulateurs. Les personnalités narcissiques, 89-92.

27 Ibidem, 92-99.

28 Ronzoni, Le sètte “sorelle’, 60-63.

29 Ibidem, 63-74.

30 Ronzoni, L’abuso spirituale, 61-71.

31 A citação é de J.A. Möhler, Symbolik oder Darstellung der dogmatischen Gegensätze der Katholiken und Protestanten nach ihren öffentlichen Bekenntnisschriften, vol. 2.: Zum Verständnis der Symbolik, introdução e comentário de J.R. Geiselmann, Hegner, Köln-Olten 1961, 698.

32 Cf. Hoyeau, “Salvare la Chiesa”, in Il tradimento dei padri, 51-94.

33 A intervenção pode ser consultada na íntegra em G. Caprile, Il Sinodo dei vescovi. Settima assemblea generale ordinaria (1-30 ottobre 1987), Civiltà cattolica, Roma 1989, 318-321, aqui 320; Regno-doc. 21,1987,666.

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