03 Agosto 2021
"O discernimento envolve o intelecto e o coração no complexo "processo" inaciano, no qual o "praticante" reflete sobre suas próprias fraquezas", escreve Fabrizio D'Esposito, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 02-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Todo modo para buscar y hallar la voluntad divina". “Qualquer modo para buscar e encontrar a vontade de Deus”. Todo modo: do romance de Leonardo Sciascia ao filme de Elio Petri e finalmente às supostas analogias com o “Whatever it takes”, “A qualquer custo”, do premiê onisciente e “jesuíta” SuperMario Draghi. Uma citação que ciclicamente volta à moda, mas quando pronunciada muitas vezes corre o risco de se tornar um fim em si mesma, tanto em sentido político quanto onomatopaico, apenas pelo som reproduzido em alguma sala de TV.
Convém, portanto, recolocá-la em sua dimensão original, que é a dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus. Afinal, no último sábado, 31 de julho, foi o aniversário da morte do ex-soldado espanhol, em 1556, em Roma. E este ano – não por acaso Inaciano para a Igreja - são exatamente cinco séculos desde sua conversão em maio de 1521, depois de ser gravemente ferido em Pamplona por uma bala de canhão dos franceses.
Todo modo, portanto. A frase está na anotação que abre a obra-prima de Santo Inácio: “Porque, assim como passear, caminhar e correr são exercícios corporais também se chamam exercícios espirituais os diferentes modos de a pessoa se preparar e dispor para tirar de si todas as afeições desordenadas e, tendo-as afastado, procurar e encontrar a vontade de Deus, na disposição de sua vida para o bem da mesma pessoa”. Os Exercícios estão divididos em quatro semanas e são um dos livros menos "estáticos" do catolicismo, um devir contínuo e único para cada "praticante". Como explica Francisco, o primeiro Papa jesuíta da Igreja, no prefácio do monumental Buscar e Encontrar a Vontade de Deus. Guia Prático dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, escrito pelo Padre Miguel Ángel Fiorito (1076 páginas, Ancora, 105 euros). O pontífice comenta: “Segundo o modelo do Evangelho, o fogo e a forma interior dos Exercícios, como diz Fiorito, consistem na ação interior de conhecer - através do discernimento - 'a vontade divina sobre os temas relevantes de nossa vida espiritual'".
Padre Fiorito (1916-2005) foi professor de Bergoglio e também formador de várias gerações de jesuítas argentinos. As suas são originais "fichas de leitura" para os Exercícios, que se destinam a "ajudar" aqueles que os praticam. Sempre Francisco: “A sua ajuda chega a ponto em que o outro, na sua liberdade, deseja sinceramente deixar-se ajudar”.
O discernimento envolve o intelecto e o coração no complexo "processo" inaciano, no qual o "praticante" reflete sobre suas próprias fraquezas. Um exemplo, extrapolado das fichas do padre Fiorito: “A primeira coisa que devemos fazer é tornar-nos 'indiferentes' (ES 23) em relação aos dois termos da alternativa entre os quais queremos escolher segundo a vontade de Deus. É evidente que isso não significa vir a não sentir nenhuma inclinação nem aversão em relação a cada termo da alternativa: aquela 'impassividade' é um ideal, mas não é indispensável para escolher bem”. É o encanto atemporal dos Exercícios, nos quais o Espírito sabe que “gostemos ou não, a vida do homem é uma luta”.
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Jesuítas. Uso e abuso político de “Todo modo”: os exercícios de Santo Inácio na “luta pela vida” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU