19 Fevereiro 2021
"Gostamos de ter o euro no bolso, mas parece que não temos consciência dos deveres de solidariedade para com os outros parceiros que essa escolha implica", escreve Vittorio Da Rold, em artigo publicado por Domani, 16-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pino Lorizio, da Pontifícia Universidade Lateranense, se perguntou como é a relação entre o primeiro-ministro Mario Draghi e a Igreja italiana. Um tema quente no mundo da mídia. Complexo e multifacetado e sem respostas claras. Também na Famiglia cristiana, Luigino Bruni, estudioso do terceiro setor e uma das vozes mais ouvidas do papa, conteve o entusiasmo pelo novo primeiro-ministro. O método da Companhia de Jesus em cujo instituto Massimo Draghi foi educado é intervir de forma radical e com obediência militar quando a situação da igreja está em perigo. Pino Lorizio, da Pontifícia Universidade Lateranense, se perguntou na Famiglia Cristiana no dia 5 de fevereiro como é a relação entre o primeiro-ministro Mario Draghi e a Igreja italiana. Um tema quente no mundo da mídia. Complexo e multifacetado e sem respostas claras. Depois de lembrar as proximidades, citando a educação de Draghi no instituto Massimiliano Massimo dos Jesuítas de Roma, a antecipação no Encontro de Rimini, a nomeação como membro da Pontifícia academia das ciências sociais e o título honoris causa da Universidade Católica, o teólogo lembrou que, dado que "nenhum programa político será jamais perfeitamente compatível com o Evangelho, a Igreja será sempre chamada a desempenhar um papel crítico-profético para com os governos e os Estados e aqueles que por eles têm responsabilidades de decisão". Uma posição marcada pela prudência e cautela.
Mas o que gerou discussão foi uma intervenção posterior também publicada no jornal dos Paulinos. “Estou surpreso com a exultação de tantos católicos com a chegada de Mario Draghi ao governo. Claro, se falou de seus estudos junto aos jesuítas, sua participação nos ritos da paróquia romana de San Bellarmino, seu diploma honorário na Universidade Católica, a conferência no Encontro de Comunhão e Libertação de Rimini, sua pertença à Pontifícia Academia de Ciências. Tudo isso pode ser encorajador, mas não o torna automaticamente um protagonista e defensor do catolicismo social. Até porque há outros aspectos da sua carreira que sugerem que pode seguir por um caminho diverso, senão contrário”. Assim falou o economista Luigino Bruni, estudioso do terceiro setor, animador da conferência sobre a economia de Francisco, uma das vozes mais ouvidas pelo papa. Mas o que importa é que Bruni se distancia de quem já se manifestaram pela apoteose do ex-governador do BCE na entrevista intitulada A beatificação de Mario Draghi é adiada até a prova dos fatos que também foi publicada na Famiglia Cristiana em 10 de fevereiro. “Além disso”, continua Bruni, “pertencer à Academia de Ciências, que é pluralista por natureza, nada diz sobre o pensamento de Draghi. Os estudiosos de maior prestígio do mundo se reúnem na Casina Pio IV para oferecer contribuições, inclusive críticas, à doutrina social da Igreja, mas também não precisam ser necessariamente crentes. A verdade é que nosso herói nunca escreveu nada sobre o pensamento econômico cristão”. Um golpe venenoso.
Mas será mesmo assim? Maria Antonietta Calabrò em um artigo intrigante intitulado Um Draghi para dois papas. Quando Bento XVI quis que relesse a encíclica social publicada no Huffington Post em 4 de fevereiro, lembra que o papa emérito "quando a redação da última encíclica social da Igreja, Caritas in Veritate (29 de junho de 2009) estava quase pronta, pediu ao então secretário de Estado Tarcisio Bertone que fosse relida por Mario Draghi antes da publicação. Draghi, que era governador do Banco da Itália, leu aquela encíclica de antemão. Em um fim de semana. E deu o último “sinal verde” à sua publicação”. Pesquisando um pouco, descobriu-se que as relações entre Draghi e o Vaticano na pessoa do Papa Francisco continuaram com a nomeação em 10 de julho de 2020 do ex-presidente do BCE como membro da Academia de Ciências Sociais, uma instituição fundada em 1994 para fornecer à igreja os elementos a serem usados para o desenvolvimento da doutrina social e para permitir estudar os efeitos de sua aplicação na sociedade contemporânea. O órgão "consultivo" é presidido pelo economista Stefano Zamagni e o chanceler é o bispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo. O ex-presidente do Bundesbank, Hans Tietmeyer, também fez parte da Academia de Ciências Sociais por muito tempo, até sua morte em 2016. A esse respeito, há uma anedota que vale a pena lembrar sobre o tema quente da dívida italiana e o que fará Draghi na economia política. O governador do Banco da Itália, Ignazio Visco, em 2017, lembrou de uma reunião que teve com Tietmeyer pouco antes de sua morte, no outono de 2016. Visco relatou uma frase do banqueiro que foi presidente do Bundesbank entre 1993 e 1999: “Carlo Azeglio Ciampi nos prometeu que em 2010 a Itália teria um estoque da dívida sobre o PIB igual a 60 por cento. Hoje vocês estão em 130 por cento. Portanto, não são confiáveis”. O que Tietmeyer diria hoje com a dívida da Itália em 159% do PIB e com o BCE que a mantém à tona com compras maciças? E Draghi, como ex-banqueiro central, não sentiria a necessidade de honrar aquela promessa política, feita a ele por um governo técnico, que Tietmeyer pedia para ser honrada? O problema da dívida de Draghi como presidente da Eurotower inundou os mercados de liquidez com o QE para defender a economia social de mercado que é a base da zona do euro; mas não pode esquecer a sustentabilidade da dívida italiana, um problema que há anos tem sido varrido sob o tapete, governo após governo, executivos tradicionais e populistas, apesar dos constantes apelos de Bruxelas e Frankfurt.
Gostamos de ter o euro no bolso, mas parece que não temos consciência dos deveres de solidariedade para com os outros parceiros que essa escolha implica. A dívida, como disse a Draghi no Meeting de Cl, é de dois tipos: a boa para investimentos produtivos e a ruim para subsídios como os bônus concedidos para a compra de patinetes sem qualquer diferença na renda do beneficiário do subsídio. Gastos correntes que não aumentam a receita, mas apenas inflam os gastos públicos e os investimentos produtivos que aumentam a produtividade, relançam a recuperação e permitem quitar dívidas anteriores. Basicamente, os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola são um método acessível a todos de ascetismo, alternando leituras, reflexões, jejuns, discernimento (palavra cara ao cardeal jesuíta Carlo Maria Martini) e escolha. O método da Companhia de Jesus em cujo instituto Massimo Draghi foi educado é intervir de forma radical e com obediência militar quando a situação da igreja está em perigo. Agindo como conselheiros dos monarcas e tentando endireitar o barco no mar tempestuoso. Fazendo de maneira pragmática o que é oportuno no momento oportuno. E se os conselhos (enviados por carta de Frankfurt) não forem ouvidos por anos, então pode se chegar, para salvar o barco na tempestade, até a se substituir temporariamente aos monarcas (os políticos eleitos) na gestão do poder quando eles fracassam.
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As virtudes jesuítas de Draghi são suficientes para tranquilizar a igreja de Francisco? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU