07 Julho 2023
"Em 3 de julho, a pesquisadora da Human Rights Watch, Lauren Seibert, e a Alarm Phone denunciaram que, após uma busca em uma casa em Sfax, na Tunísia, 48 pessoas migrantes foram presas e 20 delas, incluindo 6 mulheres, duas grávidas e uma de 16 anos, foram deportadas pelos militares tunisinos para a fronteira com a Líbia, sem dinheiro e sem comida. Essas práticas de deportação e violência perpetrada pelas autoridades locais sobre as comunidades migrantes são, além disso, documentadas há tempo. Outras capturas e deportações ocorreram no dia 4 de julho e no momento há mais de 400 pessoas detidas em condições desumanas na zona militarizada na fronteira entre Tunísia e Líbia", escreve padre Mattia Ferrari, capelão da ONG Mediterranea Saving Humans, em artigo publicado por La Stampa, 06-07-2023.
Imagens de violência contra migrantes chegam da Líbia e da Tunísia. “Pessoal, desejo que o Espírito lhes traga inquietação diante de coisas que não são boas, que não são honestas, que não são justas, que não são limpas, lhes cause uma tal inquietação que vocês tenham que levantar a voz toda vez que o corpo do Senhor não é reconhecido nos rostos dos irmãos": essas palavras de dom Tonino Bello, bispo da Puglia sempre ao lado dos últimos, indicado pelo Papa Francisco como "profeta", ressoam com força nestes dias, em que chegam novamente imagens de violências desumanas perpetradas contra migrantes na Líbia e na Tunísia, onde a Itália e a Europa tentam repelir as pessoas migrantes.
Em 3 de julho, a pesquisadora da Human Rights Watch, Lauren Seibert, e a Alarm Phone denunciaram que, após uma busca em uma casa em Sfax, na Tunísia, 48 pessoas migrantes foram presas e 20 delas, incluindo 6 mulheres, duas grávidas e uma de 16 anos, foram deportadas pelos militares tunisinos para a fronteira com a Líbia, sem dinheiro e sem comida. Essas práticas de deportação e violência perpetrada pelas autoridades locais sobre as comunidades migrantes são, além disso, documentadas há tempo. Outras capturas e deportações ocorreram no dia 4 de julho e no momento há mais de 400 pessoas detidas em condições desumanas na zona militarizada na fronteira entre Tunísia e Líbia. Algumas dessas pessoas parecem já ter sido mortas: entre elas, uma das duas mulheres grávidas deportadas há dois dias. Segundo um morador local, a situação sanitária é catastrófica: "As crianças são obrigadas a beber água do mar", afirmou.
Enquanto isso, a Itália e a Europa estão tentando fortalecer a estratégia de rejeições acertadas com a Tunísia, que envolvem a contenção dos migrantes em tais condições desumanas. Essas políticas produzem apenas um aumento da violência, como já aconteceu na Líbia, onde as máfias prosperam com a retenção dos migrantes que a Itália acertou com a chamada Guarda Costeira Líbia. Somos responsáveis por essa desumanidade, nossa consciência não pode se considerar limpa.
Em vez disso, deveríamos promover o acolhimento e, para garantir a liberdade de permanência nos países de origem, reconhecer finalmente a subjetividade e o protagonismo dos povos e movimentos do Sul do mundo que pedem para serem reconhecidos, para escrever um novo sistema social e econômico todos juntos e, assim, finalmente sair do colonialismo econômico das nossas multinacionais que os oprimem. O problema, porém, é que aos migrantes, e em geral a todos os pobres, não é reconhecido o direito de ser sujeitos e protagonistas: discute-se sobre eles, mas não com eles. Assim, em vez de escolhas corajosas se opta pelo caminho da violência.
A violência contra os migrantes não é um fator isolado, mas está profundamente ligada a muitas outras formas de violência perpetradas por nossa sociedade. Em alguns casos se trata de violência física, por exemplo, no caso de migrantes ou pessoas privadas do direito à moradia, em outros casos se trata daquela que o grande sociólogo Pierre Bourdieu chamava de violência simbólica, ou seja, aquela violência sutil, que é perpetrada tentando impor visões de mundo e estruturas mentais que impedem a plena emancipação e oprimem, por exemplo, as mulheres e as pessoas LGBTQI+.
Todas essas violências são fruto de um sistema autoritário, capitalista, patriarcal e nativista, que é introjetado por todos nós. A violência contra os migrantes representa o ápice de tudo isso.
Toda pessoa que tenha um coração humano deveria se levantar. Parece que a globalização da indiferença esteja se espalhando cada vez mais: a desumanidade foi normalizada. Mas a indiferença é a desumanidade ainda não tiveram a última palavra. Existem realidades, como a Mediterranea Saving Humans, que tenho a honra de servir como capelão, toda a "frota civil" e muitos outros movimentos, que operam uma verdadeira resistência humana e escolheram lutar, com seus próprios corpos e vidas, trilhando verdadeiramente o caminho da fraternidade. Esse é o valor político que deve tornar-se central para nossa época histórica.
Estamos numa encruzilhada: ou assumimos radicalmente o amor e a fraternidade e os fazemos carne, através dos nossos corpos e das nossas relações, ou a espiral de violência, autoritarismo, capitalismo, patriarcado e racismo desencadeada nos levará cada vez mais para o colapso, rumo a um mundo em que nos fechamos cada vez mais sobre nós mesmos e assim nos tornamos cada vez mais raivosos e infelizes. Felizmente existem jornais, como o La Stampa, que continuam a contar com coragem também o que é incômodo e tentam nos acordar. Então, graças a este jornal, gostaria de desejar a cada pessoa que tenha a coragem de abrir o seu coração ao amor visceral, tocar com suas mãos as feridas da humanidade, assumir radicalmente o valor político da fraternidade, ir ao encontro das pessoas que lutam pela vida e pela dignidade, reconhecendo nelas aquele dom de humanidade que pode nos salvar. Se tivermos a coragem de amar de verdade e de acreditar a partir desse amor que tudo pode mudar, então juntos encontraremos o caminho. Então seremos capazes de realizar um verdadeiro êxodo e alcançar aquela terra prometida que é a civilização do amor, uma sociedade onde a felicidade não é uma ilusão que nos é apresentada por falsas esperanças, mas é a alegria que dá sentido à sua vida quando você tem a coragem de amar de verdade. Se essas parecem utopias, venham conhecer estes movimentos, como o Mediterranea Saving Humans, onde tudo isso já é realidade.
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Deportações e violência contra os refugiados “Crianças obrigadas a beber água do mar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU