''Vou salvar os migrantes por dever de humanidade.'' Entrevista com Mattia Ferrari

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05 Mai 2019

Mattia Ferrari, 25 anos, é o jovem sacerdote de Nonantola (Modena), na Itália, que decidiu embarcar no barco de resgate Mare Jonio, ativo no âmbito da plataforma Mediterranea. Um gesto que não podia deixar de chamar a atenção da mídia e, provavelmente, provocar também alguma dor de cabeça naquela direita que se define como católica, mas não ama o papa. Basta pensar que o próprio arcebispo de Palermo, Corrado Lorefice, na missa do dia 2 de maio, recordou o Pe. Mattia, “o jovem padre e animador” que, seguindo a palavra de Jesus, está se fazendo “pescador de homens”.

A reportagem é de Alessandro Santagata, publicada por Il Manifesto, 03-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A colaboração do sacerdote com os militantes da associação Ya Basta começou há alguns anos em Bolonha, no contexto de uma sinergia inédita com a diocese de Dom Matteo Zuppi. E precisamente o Pe. Mattia, na época ainda seminarista, foi decisivo na organização do encontro que ocorreu há um ano no centro social TPO de Bolonha, com o bispo e Luciana Castellina, chamados a discutir, junto com os militantes locais, o livro “Terra, casa, lavoro [Terra, teto, trabalho], contendo os discursos do Papa Francisco aos movimentos populares.

Nós o entrevistamos no dia 1º de maio, enquanto, com o Mare Jonio, ele estava sulcando os mares da Líbia.

Eis a entrevista.

O que o levou a embarcar com o Mare Jonio como “capelão de bordo” e como essa escolha se insere no seu caminho espiritual e político?

Essa escolha nasceu de alguns fatores concomitantes. Acima de tudo, Luca Casarini, no encontro com o arcebispo de Palermo, Corrado Lorefice, expressou o desejo de ter um padre a bordo. Como eu sou amigo há dois anos dos centros sociais bolonheses TPO e Labas, que, por meio da associação Ya Basta, fazem parte da Mediterranea, e como somos amigos justamente graças à fraternidade comum com os migrantes, pediram-me para ser o “padre a bordo”. Eu certamente não podia recusar. A minha decisão, portanto, se insere no meu caminho de discípulo de Jesus, que me levou a ser amigo e irmão desses jovens que optaram por colocar sua vida em risco para salvar a do próximo e dos migrantes que batem em nossas portas.

Como foi o duplo debate com o seu bispo, Dom Castellucci, e com Dom Lorefice?

Muito bem. Corrado Lorefice já havia apoiado a Mediterranea com convicção, encontrando-se com Luca Casarini e dando-lhe de presente um livro com a dedicatória: “Estou com vocês”. Foi ele que autorizou que houvesse um padre a bordo. Castellucci acolheu com alegria o meu pedido de embarcar e me apoiou com afeto.

Houve também a ajuda de Zuppi?

Se houve diretamente, eu não sei. Certamente ele está muito satisfeito. Zuppi é um ponto de referência para todos nós. Aqui comigo há jovens do centro social bolonhês Labas, que têm uma relação de estima e de afeto com ele.

Como você interpreta a sua missão como capelão de bordo? Você recebeu diretrizes sobre isso?

Eu não tenho diretrizes particulares. A minha missão é a de levar a proximidade da Igreja de Jesus para esses jovens. Além de rezar, eu falo muito com eles e temos conversas muito bonitas, com as quais eu mesmo, por primeiro, estou me enriquecendo muito. Aqui somos como uma grande família: todos fazemos tudo. Cozinhamos, organizamos e nos preparamos para eventuais resgates.

O que você acha do modo pelo qual Salvini [ministro do Interior italiano] e outros atacaram a experiência da Mediterranea?

São ataques injustos. A Mediterranea dá medo porque são jovens que não só falam, mas também fazem! Põem a sua vida em jogo para salvar a dos outros. A Mediterranea não só salva os migrantes: salva a todos nós da desumanização desenfreada. O slogan “portas fechadas” é inadmissível por uma questão de humanidade, porque não se deixa ninguém morrer no mar. E por uma questão de justiça, porque somos nós, ocidentais, que desde sempre exploramos o solo africano e obrigamos essa gente a partir.

E as polêmicas contra a Igreja do Papa Francisco?

Também são ataques injustos. A Igreja foi colocada pelo Senhor ao lado dos pobres e dos abandonados da história. O Papa Francisco é fiel a esse princípio e por isso é atacado pelos poderosos.

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