09 Março 2018
"Nas urnas Deus te vê, Stalin não". Esse foi um dos slogans mais famosos que circulavam durante as cruciais eleições de 1948. Passados 70 anos, hoje se poderia dizer que, no momento do voto, realmente ninguém te vê: portanto, das eleições brotam os verdadeiros sentimentos do povo. Essa é a força da democracia. Quando a eleição é realizada de acordo com as regras, sem violência ou coerção, o resultado da votação descreve as preferências e os desejos da maioria dos cidadãos.
O comentário é de Piergiorgio Cattani, publicado por Trentino, 08-03-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Torna-se um espelho fiel das tendências políticas (e culturais) do momento. E quem quer analisar a sociedade deve simplesmente prestar atenção.
Mais de 50% dos italianos escolheram os chamados partidos "antissistema". Definição bastante ambígua porque o "sistema" descrito pela Lega não é exatamente aquele evocado e contestado pelo Movimento 5 Stelle. Mas existem algumas características comuns. Começando com o idioma.
Quantas vezes se falou sobre o estilo comunicativo mais grosseiro, a difusão da vulgaridade, o uso de frases cada vez mais elementares e imediatas, portanto desprovidas da possibilidade de realizar um raciocínio complexo. Eliminadas todas as boas intenções, terminadas as campanhas institucionais: os cidadãos querem outra coisa. A linguagem direta, com algum palavrão, que não deixa espaço para contemporizar.
Em segundo lugar ganhou a evocação do medo e do inimigo interno e externo. Novamente aqui com diferentes tons. É evidente que o diário, incessante e coerente (de seu ponto de vista) incitamento ao desprezo pelo estrangeiro operado pela Lega de Salvini, acabou recompensando o partido. No norte, quase 30% apoiaram tal orientação. Salvini entendeu o desconforto generalizado? Talvez, mas também o alimentou, para se apresentar, em seguida, como solução. Sobre o tema da migração o M5s foi astutamente ambíguo. Não se sabe qual é a posição de Di Maio. Mas as pessoas o perceberam como a pessoa que quer bloquear a imigração. Um Minniti sorridente. E que vai privilegiar os italianos. Especialmente aqueles que se auto percebem como pobres, como empobrecidos pelo "sistema".
Que viram na ambígua relação de Renzi com os bancos o símbolo de uma política prisioneira dos "grandes poderes". Desnecessário explicar que – para além das escolhas concretas de governos carimbados como PD - existe um contexto econômico do qual não podemos prescindir. Nada disso importa: o M5s prometeu que esses "pobres" se recuperarão. Por isso, foi vencedor em quase todo o Sul. Falar de dinheiro fez a diferença. Salvini dizia: "Aos italianos interessam duas coisas: chega de impostos e chega de clandestinos". Muitos lhes deram razão. Os do M5s fizeram um raciocínio diferente, mas não muito distante: "chega de dinheiro para os políticos, aos mesmos de sempre: vamos dá-lo à população". O inimigo sobre o qual jogar a culpa já se sabe qual é; naturalmente é a "Europa".
Não se sabe se e como será formado um governo. Enquanto isso, precisamos entender que prevaleceu uma visão de mundo e da Itália muito clara. Não é aquela da burguesia "iluminada". É aquela das periferias enfurecidas, que odeiam os estrangeiros sem jamais ter visto um, que punem os políticos de profissão enquanto tais. Os resultados do Trentino são óbvios. Quantas vezes se falou de autonomia? Quantas discussões, quantas tentativas para alimentar um sentimento de pertencimento? As eleições sancionaram outra verdade: para mais de 50% da população do Trentino não interessa em nada a autonomia. A Lega de Salvini - partido agora nacionalista de direita, mas que ainda tem o coração na Lombardia e no Veneto - é contra a autonomia do Trentino. E o M5s? Basta ver as declarações de Fraccaro. Os aplausos a Mentana que atacava a Autonomia se traduziram em votos para essas duas forças. Mesmo Panizza (que não pode ser acusado de não estar "junto às pessoas"), emblema do autonomismo de "velho estilo", foi esmagado por essa onda. Na política, hoje, é preciso se abster dos juízos definitivos. As viradas, as revoluções, os terremotos ocorrem com muita frequência.
No entanto, existem tendências claras. Quem tem posições diferentes daquelas dos vencedores atuais terá que se questionar a partir dos elementos mencionados acima: a linguagem, a relação com as classes menos favorecidas, o fenômeno da migração e, na nossa região, a autonomia. Não se trata de perseguir a abordagem hoje vencedora: não, não é isso, trata-se de entendê-la. Para propor uma alternativa.
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Itália. Venceram as periferias enfurecidas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU