13 Junho 2023
"Justamente porque as hipóteses se reduziram e os cristãos de ambas as posições devem aceitar o fato de serem minoria no mundo, serão necessárias capacidade de discernimento e grande responsabilidade: resistir à tendência sectária que alimenta o orgulho e fornece uma identidade forte e aprender todos os dias a habitar este mundo com tanta simpatia pela humanidade, por sermos todos irmãos, todos em busca da vida e da felicidade." escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 12-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Vinte anos atrás, o padre teólogo e filósofo francês Maurice Bellet, percebendo a crise que ameaçava o futuro do catolicismo, publicou um livro capaz de sacudir muitos fiéis e apresentar questionamentos dramáticos para a Igreja. O título, A Quarta Hipótese, sugeria o que Bellet almejava: um renascimento do cristianismo, um novo começo que se desse conta do que está morrendo. Das hipóteses formuladas, a que era apresentada como a mais provável era, no entanto, um proceder desgastado da fé cristã com tentativas ocasionais de renovação que não teriam conseguido garantir um futuro para a Igreja.
Bellet também via a possibilidade de uma saída de cena suave e indolor da fé cristã dissolvida em cultura, nos valores da sociedade ocidental. No entanto, não aparecia no livro de Bellet outra hipótese: a redução da Igreja a uma minoria em diáspora, com forte identidade, exposta à tentação das dinâmicas sectárias: poucos, mas zelosos, combatentes sitiados.
Vinte anos se passaram e se continua a formular hipóteses sobre o futuro do cristianismo, também porque a sua crise se agravou no Ocidente, mas se reduziram as hipóteses. A hipótese que parece mais sedutora é aquela de um Catolicismo com forte identidade, que dê preferência àquela católica sobre aquela cristã.
O catolicismo, expressão da fé da Igreja romana nos últimos séculos, deve ser recuperado também porque o tradicionalismo parece cada vez mais sedutor nesta época de incertezas. Quem se reconhece nessa tendência certamente não pensa numa "minoria-pequeno rebanho", uma minoria significativa segundo o Evangelho, uma minoria que seja sal e fermento na massa, mas numa cidadela, aquela dos "poucos, mas puros e observantes".
Essa visão certamente não coincide com a hipótese formulada várias vezes pelo cardeal e depois papa Ratzinger, que de fato profetizava uma Igreja-minoria, mas presença hospitaleira na companhia dos homens e não contra o mundo. Essa visão de Ratzinger, muito próxima da hipótese defendida por Maurice Bellet, permanece atual porque permite ao cristianismo sempre recomeçar, renascer e atrair homens e mulheres peregrinos nos caminhos daquela esperança que o Evangelho descortina.
Mas, justamente porque as hipóteses se reduziram e os cristãos de ambas as posições devem aceitar o fato de ser minoria no mundo, serão necessárias capacidade de discernimento e grande responsabilidade: resistir à tendência sectária que alimenta o orgulho e fornece uma identidade forte e aprender todos os dias a habitar este mundo com tanta simpatia pela humanidade, por sermos todos irmãos, todos em busca da vida e da felicidade.
Além disso, essa hipótese é a que mais se aproxima da visão da comunidade cristã delineada por Jesus: pequeno rebanho que, mesmo que rodeado por lobos, escolhe e vive a mansidão dos cordeiros e não se deixa tentar pela inimizade e pela pretensão de possuir uma verdade que ofusca.
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O pequeno rebanho e a cidadela. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU