07 Junho 2023
Em 08-12-1963, Enzo Bianchi fundou a comunidade ecumênica de Bose. Sessenta anos depois, aos oitenta anos completos, em julho inaugurará a "Casa della Madia": um centro de espiritualidade e hospitalidade criado com a reforma de uma fazenda em Albiano, na província de Turim.
A entrevista é de Alex Corlazzoli, publicada por il Fatto Quotidiano, 04-06-2023.
Bianchi, repudiado pela sua Bose, isolado por uma parte do Vaticano até com carta aos bispos em 2020, assinada pelo secretário de Estado Pietro Parolin, que convidava os pastores das dioceses a não convidá-lo mais, está recomeçando.
Ele explica isso em uma entrevista exclusiva ao nosso jornal: “A Santo Antônio, pai dos monges, quando tinha cem anos diziam: 'O que você está fazendo ali no deserto com a sua idade?' Ele respondia: 'Estou recomeçando de novo'. Eu também faço isso na minha idade e vou fazê-lo enquanto eu viver”. Bianchi, que mora em uma casa há mais de três anos perto de Turim com sua horta e seus livros, indo fazer as compras sozinho e participando da Missa na paróquia, nunca se resignou. Continuou a acompanhar os acontecimentos da Igreja, da política, de seu observatório especial, enquanto realizava um novo sonho.
O cardeal Matteo Zuppi foi escolhido pelo Papa para tentar o caminho da paz entre a Rússia e a Ucrânia. Uma boa decisão?
Dom Matteo é um homem de paz e capaz de reconciliação. O entendimento entre a Rússia e a Ucrânia é uma paz mundial porque sabemos bem que a disputa é entre a OTAN e a Rússia, entre o Ocidente e o Oriente. É uma tentativa inteligente que o Papa fez depois de ter movido a diplomacia vaticana.
Você conhece aquele mundo e nos últimos meses nunca teve palavras de desprezo pelo patriarca de Moscou, Kirill...
Não devemos acentuar o conflito nem chegar a palavras de desprezo. Kirill não é um nosso contemporâneo, segue uma lógica de um Estado teocrático, consequentemente também acredito que não seja nem tão convencido de todo o apoio dado a Putin. É preciso conhecer aquela terra que vai até o fim no extremo Pacífico, onde não existe uma opinião pública... caso contrário corremos o risco de piorar situações que são apenas estratégicas e de conveniência.
É uma guerra clandestina entre as igrejas ortodoxas dividida entre duas frentes. A Igreja Católica tem sido tímida, tem se mostrado mais atenta à estratégia política que às relações entre as Igrejas. Isso não ajudou o ecumenismo que apresenta o Vaticano como uma das potências políticas e não como uma irmã que poderia fazer um trabalho de unidade que não aconteceu.
Enquanto isso, a Europa vai para a direita: Espanha, Turquia, Itália. O que está acontecendo? Também é fruto de uma Igreja que foi para a direita? Você gosta de Elly Schlein?
Me parece que, para uma esquerda que faça sentido, é preciso abandonar essa ideologia radical da qual se revestiu nos últimos anos. Em primeiro lugar hoje não há igualdade e justiça, mas um horizonte ocidental.
No Twitter, você escreveu: “Nas últimas semanas, conheci a fraqueza vivida entre os doentes que recebem tratamentos dolorosos, mas agora recuperado estou de novo com vocês"...
Passei por uma delicada cirurgia cardíaca. Foram dias de medo, de ansiedade, mas também de solidariedade com os doentes. Senti-me parte daquela unidade que busca significado na dor, mantendo a esperança.
Uma nova jornada começará em julho: "Casa della Madia". Acabou o exílio de que fala em seu último livro "Cosa c’è di là" (Il Mulino)?
Não, o exílio da própria carne, do corpo do qual fazia parte, contínua. Acaba o isolamento.
Queremos retomar nas mãos as nossas vidas e ter um local de encontro para todos aqueles que buscam caminhos da humanização. A Casa della Madia será um lugar de encontro e encruzilhada na esperança de um amanhã melhor e uma terra mais habitável como Bose também era.
Outra comunidade monástica, irmã de Bose?
Um filho, uma vez gerado, é único. Não deve haver nenhuma concorrência entre nós e o que eu criei antes, mesmo que tenha me rejeitado e recusado. Eu não guardo rancor. Acho que seguiremos caminhos distintos e com o novo prior haverá também a possibilidade de colaboração.
Você nunca pediu nada para Bose, mas agora lançou um apelo: uma doação para concluir as reformas.
Bose foi crescendo aos poucos com gente jovem que trabalhava. Vivemos disso e demos muito aos outros em muitos projetos de ajuda. Agora estamos começando com um grupo de idosos que não tem nada, quase todos com mais de 60 anos. A reforma teve um preço, por isso ousamos pedir aos amigos que nos ajudassem a concluir essas obras. Até porque esta casa também será para eles: haverá lugares comuns, quartos para a hospitalidade. A nossa vida será de trabalho, acolhimento, encontro, serviço aos mais pobres e necessitados naquela região; não especificamente de oração. Uma vida simples, não queremos fazer nada majestoso. Espero por vocês em julho".
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“Zuppi é a manobra certa para a paz. Eu estou recomeçando, mas não será outra Bose”. Entrevista com Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU