Kosovo, risco de outra guerra. Artigo de Enzo Bianchi

Vista de Pristina, capital do Kosovo (Foto: Mario Heller | Unsplash)

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06 Junho 2023

"Tenho repetidamente chamado a atenção para o clima de hostilidade que nunca cessou e para a possibilidade de que leve a uma guerra no coração dos Bálcãs", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 05-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

É paradoxal que na Europa, terra da diversidade e da complexidade onde se desenvolveu um pensamento que buscou obstinadamente a paz, estejamos assistindo ao recrudescimento da guerra. Não só isso, mas, justamente na Europa ainda existem focos de violência para os quais a religião tem uma contribuição decisiva. Na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, desde o início, destacamos a mistura explosiva de nacionalismo e religião e vimos como as diferentes igrejas cristãs atiçaram as chamas das hostilidades.

Tendo frequentado aquelas terras, tenho repetidamente chamado a atenção para o clima de hostilidade que nunca cessou e para a possibilidade de que leve a uma guerra no coração dos Bálcãs.

Eram terras habitadas por ortodoxos sérvios e albaneses muçulmanos, que conviviam de forma pacífica. Sob o regime comunista, as duas componentes levavam uma vida pobre, mas caracterizada pela solidariedade e troca contínua. Depois houve a libertação do comunismo, despontaram os vários espíritos nacionais já presentes naquela região. E foi a guerra, com o aparecimento da palavra “etnia”. Em poucos meses, a violência e a propaganda conseguiram destruir convivências consolidadas com a intenção de traçar fronteiras e expulsar as minorias para atribuir o território a uma única etnia.

As atenções estavam voltadas para Kosovo, uma pequena, mas importante região que ninguém mencionava anteriormente, mãe de todos os sérvios, berço de sua religião ortodoxa. Para os sérvios, Kosovo, e dentro dele Metochia, é o berço da fé e somente lá eles encontram suas fontes. Mas desde 2008, com a proclamação unilateral da independência, surgiu também uma perseguição cristã aos sérvios para induzi-los a abandonar essa terra: igrejas são queimadas, mosteiros são saqueados e atos de violência contra simples civis são registrados em todos os lugares. A Igreja sérvia pediu repetidamente a condenação de tais atos, e invocou o diálogo, a tolerância, a convivência respeitosa, e o Patriarca Porfirio, que é um homem de Deus, intervém pedindo insistentemente a paz e o fim das hostilidades. Infelizmente, a violência parece estar aumentando e nas últimas semanas houve confrontos com feridos que também envolveram forças de paz da OTAN. Ambos os lados do conflito encontram pretextos constantes para alimentar os confrontos. Uma vez que existe uma certa simetria entre a guerra russo-ucraniana e esse recrudescimento da violência, existe o temor de que o conflito se estenda cada vez mais ao coração da Europa: uma Europa inerte, incapaz de autoridade, vergonhosamente ausente.

Uma Europa que assim procura para si o suicídio na forma de uma doce morte, sem reagir.

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