"O ser humano ocupou, dominou e explorou o Planeta em uma escala tão grande que está provocando a 6ª extinção em massa das espécies", escreve José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 22-08-2022.
“Às vezes, se fala na brutalidade selvagem do ser humano, mas isso é incrivelmente injusto e ofensivo com os outros animais; um animal nunca poderia ser tão cruel, tão requintadamente cruel, quanto o ser humano”.
– Fiódor Dostoiévski (1821-1881)
A devastadora ação humana sobre a biodiversidade pode ser comparada ao impacto causado pelo asteroide que colidiu com a Terra há 66 milhões de anos, dizimando os dinossauros e cerca de 75% das espécies existentes. Mas o ecocídio é também um suicídio.
O antropocentrismo criou uma hierarquia entre as espécies e deu ao ser humano o monopólio dos direitos sobre todas as demais espécies vivas da Terra. Porém, o multinaturalismo desenha uma nova configuração do mundo, com base no direito intrínseco de todas as formas de vida e na convivência de uma comunidade multiespécies, como mostrou Mateus Uchôa (02/08/2022).
Para refletir sobre o antropocentrismo, o multinaturalismo e o ecocídio será realizado, em 27 de agosto de 2022, o Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE). Será um momento para reafirmar a luta contra o genocídio das espécies, o holocausto biológico, a aniquilação da biodiversidade e a escravidão animal. A luta contra o especismo e contra a 6ª extinção em massa das espécies deve ser entendida no contexto do movimento pela libertação animal.
O Relatório Planeta Vivo 2020, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), mostra que o avanço do processo de crescimento contínuo da produção e consumo de bens e serviços ao bel-prazer da humanidade tem provocado uma degradação generalizada dos ecossistemas globais e gerado um ecocídio da vida selvagem que sempre existiu no planeta muito antes dos seres humanos. A superexploração da Terra está transformando o Antropoceno em Piroceno, com a emergência climática se manifestando nas multiplicações de queimadas e fogos que destroem o meio ambiente.
A ciência é clara em dimensionar o tamanho da crise climática e ambiental. Além do último relatório do IPCC (09/08/21), outro documento importante foi assinado por milhares de cientistas que repetiram apelos por ação urgente para enfrentar a emergência climática, alertando que vários pontos de inflexão agora são iminentes.
Os pesquisadores – parte de um grupo de mais de 14.000 cientistas que assinaram uma iniciativa que declara uma emergência climática mundial – disseram em um artigo publicado na revista BioScience, no dia 28 de julho de 2021, que os governos falharam consistentemente em lidar com “a superexploração da Terra”, que eles descreveram como a causa raiz da crise.
Enquanto a população humana passou de 3,5 bilhões para 8 bilhões de habitantes em 2022, as áreas de florestas diminuíram e as populações de vertebrados silvestres, como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios, sofreram uma redução de 68% entre 1970 e 2016, conforme mostra o gráfico abaixo.
Para entender a crise da biodiversidade vale a pena ver a Aula 2, do curso AM088, do IFGW da Unicamp, do professor Mathias Pires, ocorrida no primeiro semestre de 2021. No mesmo curso tive a oportunidade de dar a aula “Decrescimento demoeconômico e capacidade de carga do Planeta” (Alves, 11/04/2021). Ambas estão disponíveis nos links abaixo.
Um relatório preparado pela Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), apresentado para mais de 130 delegações governamentais, mostrou que as atividades humanas ameaçam mais espécies atualmente do que nunca. Uma em cada quatro espécies está em risco de extinção.
A conclusão foi baseada no fato de que em torno de 25% das espécies de plantas e de animais estão vulneráveis. Isso significa que em torno de 1 milhão de espécies já enfrentam risco de extinção, muitas delas em décadas, a não ser que ações sejam tomadas para reduzir a intensidade de impulsionadores de perdas à biodiversidade. O relatório também examinou cinco fatores impulsionadores de mudanças “sem precedentes” na biodiversidade e em ecossistemas ao longo dos últimos 50 anos. São eles: mudanças no uso da terra e do mar; exploração direta de organismos; mudança climática, poluição e invasão de espécies estrangeiras.
O manifesto do Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE) diz: “A fronteira da espécie não é, e não pode ser, uma fronteira moral. Nossa sociedade deve evoluir para incluir os animais no nosso círculo de consideração moral”. O vegetarianismo e o veganismo são imperativos da ética de defesa animal.
O Brasil vive um momento de barbárie ambiental. A Amazônia está sendo desmatada, queimada e defaunada. A riqueza da flora está virando cinzas e os animais da floresta estão sendo queimados vivos. Trata-se de um holocausto biológico sem precedentes. Como disse Mahatma Gandhi: “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”.
Nenhuma ideologia é capaz de justificar o racismo, o sexismo, o escravismo ou a discriminação contra as espécies. Para evitar o especismo, o ecocídio e a Aniquilação Biológica, todas as pessoas, em suas diferentes identidades e inserções sociais, deveriam participar das atividades, no dia 27 de agosto, do Dia Mundial Contra o Especismo.
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