28 Agosto 2021
"A Era da Ecologia (Ecoceno) ilumina um tempo onde as relações entre humanidade e natureza sejam construídas na base da cooperação, harmonia e sinergia, ao invés da dominação e da exploração", escreve José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 25-08-2021.
“Não tenho dúvidas de que é parte do destino da raça humana, na sua evolução gradual, parar de comer animais, tal como as tribos selvagens deixaram de se comer umas às outras quando entraram em contato com os mais civilizados” - Henry Thoreau (1817-1862)
Em 28 de agosto de 2021 acontece o Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE). É uma oportunidade para refletir sobre a relação entre os seres humanos e os demais seres vivos da Terra. É também um momento para reafirmar a luta contra o genocídio das espécies, o holocausto biológico, o ecocídio, a aniquilação da biodiversidade e a escravidão animal.
A luta contra o especismo e contra a 6ª extinção em massa das espécies deve ser entendida no contexto da dominação e da exploração da vida animal. O Relatório Planeta Vivo 2020, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), mostra que o avanço do processo de crescimento contínuo da produção e consumo de bens e serviços ao bel-prazer da humanidade tem provocado uma degradação generalizada dos ecossistemas globais e gerado um ecocídio da vida selvagem que sempre existiu no planeta muito antes dos seres humanos. A superexploração da Terra está transformando o Antropoceno em Piroceno, com as multiplicações de queimadas e fogos que destroem o meio ambiente.
A ciência é clara em dimensionar o tamanho da crise climática e ambiental. Além do último relatório do IPCC (09/08/21), outro documento importante foi assinado por milhares de cientistas que repetiram apelos por ação urgente para enfrentar a emergência climática, alertando que vários pontos de inflexão agora são iminentes. Os pesquisadores – parte de um grupo de mais de 14.000 cientistas que assinaram uma iniciativa que declara uma emergência climática mundial – disseram em um artigo publicado na revista BioScience, no dia 28 de julho de 2021, que os governos falharam consistentemente em lidar com “a superexploração da Terra”, que eles descreveram como a causa raiz da crise.
Enquanto a população humana passou de 3,5 bilhões para cerca de 7,5 bilhões de habitantes, as áreas de florestas diminuíram e as populações de vertebrados silvestres, como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios, sofreram uma redução de 68% entre 1970 e 2016, conforme mostra o gráfico abaixo.
Foto: EcoDebate
Como disse a primatologista e ambientalista britânica Jane Goodall (1934-): “Os chimpanzés, gorilas e orangotangos viveram milhares de anos em suas florestas, com vidas fantásticas, em entornos onde reina o equilíbrio, em espaços onde nunca lhes passou pela cabeça destruir a floresta, destruir o seu mundo. Eu diria que eles tiveram mais sucesso do que nós em relação a esta harmonia com o meio ambiente”.
Para entender a crise da biodiversidade vale a pena ver a Aula 2, do curso AM088, do IFGW da Unicamp, do professor Mathias Pires, ocorrida no primeiro semestre de 2021. No mesmo curso tive a oportunidade de dar a aula “Decrescimento demoeconômico e capacidade de carga do Planeta” (Alves, 11/04/2021). Ambas estão disponíveis nos links abaixo.
Um relatório preparado pela Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), apresentado para mais de 130 delegações governamentais, mostrou que as atividades humanas ameaçam mais espécies atualmente do que nunca. Uma em cada quatro espécies está em risco de extinção.
A conclusão foi baseada no fato de que em torno de 25% das espécies de plantas e de animais estão vulneráveis. Isso significa que em torno de 1 milhão de espécies já enfrentam risco de extinção, muitas delas em décadas, a não ser que ações sejam tomadas para reduzir a intensidade de impulsionadores de perdas à biodiversidade. O relatório também examinou cinco fatores impulsionadores de mudanças “sem precedentes” na biodiversidade e em ecossistemas ao longo dos últimos 50 anos. São eles: mudanças no uso da terra e do mar; exploração direta de organismos; mudança climática, poluição e invasão de espécies estrangeiras.
O manifesto do Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE) diz: “A fronteira da espécie não é, e não pode ser, uma fronteira moral. Nossa sociedade deve evoluir para incluir os animais no nosso círculo de consideração moral”. O vegetarianismo e o veganismo são imperativos da ética de defesa animal.
É preciso abandonar a distopia do Antropoceno e abraçar a utopia do Ecoceno. A Era da Ecologia (Ecoceno) ilumina um tempo onde as relações entre humanidade e natureza sejam construídas na base da cooperação, harmonia e sinergia, ao invés da dominação e da exploração.
O Brasil vive um momento de barbárie ambiental. A Amazônia está sendo desmatada, queimada e defaunada. A riqueza da flora está virando cinzas e os animais da floresta estão sendo queimados vivos. Trata-se de um holocausto biológico sem precedentes. Como disse Mahatma Gandhi: “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”.
Nenhuma ideologia é capaz de justificar o racismo, o sexismo, o escravismo ou a discriminação contra as espécies. Para evitar o especismo, o ecocídio e a Aniquilação Biológica, todas as pessoas, em suas diferentes identidades e inserções sociais, deveriam participar das atividades, no dia 28 de agosto, do DIA MUNDIAL CONTRA O ESPECÍSMO.
Foto: EcoDebate
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Dia Mundial pelo fim do Especismo. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU