28 Agosto 2020
"Nenhuma ideologia humana é capaz de justificar o racismo, o sexismo, o escravismo ou a discriminação contra as espécies. Para evitar o especismo, o ecocídio e a aniquilação biológica, todas as pessoas, em suas diferentes identidades e inserções sociais, deveriam participar das atividades, no dia 29 de agosto, do Dia Mundial Contra o Especismo e da luta antiespecista", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 26-08-2020.
O ser humano é uma das espécies mais novas da comunidade biótica. Existem milhões de formas de vida que ocupam a Terra há dezenas de milhões de anos. Espécies que viviam livres e soberanamente em seus territórios, disputando espaços, mas sem dominar todo o terreno.
Contudo, os humanos construíram uma civilização poderosa que ocupou todos os cantos do Planeta e utiliza a riqueza da natureza e a abundância da biodiversidade em benefício próprio, com finalidade egoística. O ser humano é especista, pois discrimina, abusa, maltrata e mata as demais espécies vivas da Terra. Rejeitar o especismo significa se opor ao sofrimento animal, rejeitar a discriminação das espécies e evitar o predomínio do “imperialismo” humano.
O Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE) em 2020 ocorrerá no dia 29 de agosto. É uma oportunidade para denunciar o genocídio das espécies, o holocausto biológico, a aniquilação da biodiversidade, o ecocídio e a escravidão animal. É um momento para dar vez e voz aos seres sencientes que sofrem silenciosamente e dão a vida e o sangue para satisfazer o apetite humano e a ganância do consumismo. A luta contra o especismo é também contra a 6ª extinção em massa das espécies. Contra a dominação e a exploração da vida animal.
O Relatório Planeta Vivo 2018, elaborado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), mostra que o avanço da produção e consumo da humanidade tem provocado uma degradação generalizada dos ecossistemas globais e gerado um ecocídio da vida selvagem do planeta: as populações de vertebrados silvestres, como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios, sofreram uma redução de 60% entre 1970 e 2014. No mesmo período a população humana praticamente dobrou de tamanho.
Relatório preparado pela Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) mostrou que uma em cada quatro espécies está em risco de extinção. A conclusão foi baseada no fato de que em torno de 25% das espécies de plantas e de animais estão vulneráveis. Isso significa que em torno de 1 milhão de espécies já enfrentam risco de extinção, muitas delas em décadas, a não ser que ações sejam tomadas para reduzir a intensidade de impulsionadores de perdas à biodiversidade. O relatório também examinou cinco fatores impulsionadores de mudanças “sem precedentes” na biodiversidade e em ecossistemas ao longo dos últimos 50 anos. São eles: mudanças no uso da terra e do mar; exploração direta de organismos; mudança climática, poluição e invasão de espécies estrangeiras.
Nenhuma ideologia humana é capaz de justificar o racismo, o sexismo, o escravismo ou a discriminação contra as espécies. Para evitar o especismo, o ecocídio e a aniquilação biológica, todas as pessoas, em suas diferentes identidades e inserções sociais, deveriam participar das atividades, no dia 29 de agosto, do Dia Mundial Contra o Especismo e da luta antiespecista.
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Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE): 29 de agosto de 2020. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU