19 Março 2019
“Suponhamos que não soubéssemos se nasceríamos como seres humanos ou como animais de outras espécies: que tipo de mundo escolheríamos?”, questiona Óscar Horta, professor de Filosofia Moral e Política na Universidade de Santiago de Compostela, em artigo publicado por El País, 15-03-2019. A tradução é do Cepat.
Cada vez mais gente entende que todos os seres humanos deveriam receber pleno respeito. Muitas vezes, assume-se que isso deveria ser assim pelo simples fato de sermos humanos. Mas, na realidade, o mero pertencimento a uma determinada espécie nada mais é do que uma classificação biológica. Não é o que determina o que pode nos prejudicar. O que é relevante para esse último é algo muito mais simples: nossa possibilidade de sentir e sofrer. Isso é o que também é chamado de senciência. A senciência é a capacidade de ter experiências, que podem ser positivas, como prazer, ou negativas, como o sofrimento.
Agora, essa capacidade não é exclusiva dos seres humanos. Também muitos outros animais a têm. No entanto, assume-se habitualmente que apenas seres humanos merecem nossa consideração. Como consequência, os animais (ou, melhor dizendo, os animais não humanos) são tratados como coisas. São explorados diariamente das formas mais terríveis. E são deixados para sofrer a sua sorte quando estão em situação de necessidade, sem nos preocuparmos em ajudá-los.
Como é possível justificar essa atitude? Muitas vezes, afirma-se que os animais não merecem consideração, porque isso só tem que ser dado àqueles que possuem habilidades intelectuais complexas. Mas aqueles que defendem que todos os seres humanos devam ser plenamente respeitados, devem rejeitar este argumento discriminatório. Os seres humanos com diversidade funcional intelectual significativa, bem como os bebês que sofrem de uma doença terminal, merecem exatamente o mesmo respeito que qualquer outro ser humano, porque podem sofrer igualmente. Além disso, em outras ocasiões, se afirma que só temos que respeitar os seres humanos porque unicamente sentimos estima por eles. Mas, a estima também não é um critério justo. Uma menina órfã, sem ninguém que a ame e a proteja, precisa e merece o mesmo respeito que outra cercada por entes queridos.
Em contraste, existe um método simples para julgar de forma equânime a quem devemos respeitar. Entendemos normalmente que a justiça requer imparcialidade. Vamos pensar, então, no seguinte. Suponhamos que não soubéssemos se nasceríamos como seres humanos ou como animais de outras espécies: que tipo de mundo escolheríamos? Sob tais condições de imparcialidade, se pensássemos honestamente, certamente escolheríamos um mundo em que os animais fossem respeitados. Isso indica que a atitude de desconsideração em relação a isso não é justificada.
Essas razões têm levado cada vez mais pessoas a ver tal atitude como uma forma de especismo. Com este termo, cunhado há meio século, se chama à discriminação daqueles que não pertencem a uma determinada espécie. A ideia de que devemos rejeitar o especismo ainda é nova. Por essa razão, e porque questiona o proveito que obtemos do sofrimento animal, é ainda fácil de ridicularizar. Mas, o que importa não é isso, mas, sim, que também é uma ideia muito difícil de refutar. E esse é o motivo pelo qual a rejeição do especismo e a defesa dos animais vieram para ficar.
A edição da revista IHU On-Line, desta semana, tem como tema de capa Veganismo. Por uma outra relação com a vida no e do planeta.
A revista IHU On-Line estará disponível nesta terça-feira, a partir das 17h, nesta página, nas versões html, pdf e ‘versão para folhear’.
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O que é especismo e por que devemos rejeitá-lo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU