02 Mai 2022
Charles de Foucauld não é apenas um ícone sugestivo. Se a sua história continua tocando o coração de uma multidão de pessoas em todas as partes do mundo, isso não ocorre em virtude da sua imagem romântica de “eremita perdido nas areias do deserto”.
Estátua de Charles de Foucauld em Strasbourg, França. (Foto: Rabanus Flavus | Wikimedia Commons)
A reportagem é da Agência Fides, 28-04-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que prevalece é, acima de tudo, o grato estupor diante das tantas “conversões” que marcaram uma vida doada no seguimento do seu Senhor, até o dom de se reconhecer como “irmão universal”, envolvido em uma experiência de fraternidade “oferecida a todos, independentemente dos pertencimentos religiosos, étnicos ou nacionais”.
Foi assim que o arcebispo de Argel, Jean-Paul Vesco, prestou homenagem ao fecundo testemunho do monge francês que viveu boa parte da sua incomparável aventura espiritual na Argélia, em vista da sua iminente canonização (ele será proclamado santo em Roma no próximo dia 15 de maio).
Charles de Foucauld foi morto por um bando de saqueadores em Tamanrasset, no centro do maciço de Ahaggar, no extremo sul da Argélia, no dia 1º de dezembro de 1916. A sua morte – sublinha o arcebispo de Argel na sua reflexão, publicada no site da Igreja Católica da Argélia – contribuiu para forjar um ícone de “eremita perdido nas areias do deserto”. Uma imagem que não expressa plenamente a verdade do seu destino tão singular de porte tão universal.
Com o passar do tempo – observa Dom Vesco – pôde aflorar uma imagem “mais bela e mais humana da personalidade de Charles de Foucauld”, desvinculada da natureza estática do seu “ícone”.
O testemunho oferecido por Foucauld coincide com um caminho marcado por “sucessivas conversões”, pela sucessão de novos começos, que marcam a vida do futuro santo, que ficou órfão aos cinco anos de idade, que logo havia “desaprendido” as orações aprendidas na primeira infância.
Esse testemunho – ressalta o arcebispo, pertencente à Ordem dos Pregadores – ainda fala ao coração de uma multidão de pessoas. Faz parte do itinerário cristão de Charles de Foucauld o consentimento que ele deu à própria ordenação sacerdotal, no dia 9 de junho de 1901, na capela do Seminário de Viviers, escolha na qual se pode tocar com a mão “o seu zelo missionário e a sua solicitude de ir ao encontro dos mais distantes do anúncio evangélico, até as fronteiras do Saara francês da época, não conseguindo evangelizar o Marrocos, explorado de modo heroico e extraordinário antes da sua conversão”.
No auge do seu caminho existencial e espiritual, na sua singular confissão de fé feita entre os povos da região – continua o arcebispo de Argel – “Charles descobrirá homens e mulheres, certamente desconhecidos dos bons franceses do seu tempo, mas enraizados em uma tradição, uma religião e uma cultura pela qual ele se apaixonará a ponto de sacrificar horas e horas de oração” e de estabelecer com elas “a relação de alteridade e reciprocidade própria da amizade. Foi então, e só então – destaca Jean-Paul Vesco – que Charles se tornou o irmão universal que tanto desejava ser”.
E a sua “fraternidade oferecida a todos, independentemente dos pertencimentos religiosos, étnicos ou nacionais, é a marca registrada da fraternidade dos discípulos de Cristo”.
Na parte final do seu texto, o arcebispo Vesco aproxima a história de Charles de Foucauld às de outras testemunhas da fé mortas na Argélia e na França em tempos mais recentes: “Assim como para outras grandes testemunhas, como os monges de Tibhirine ou o bispo Pierre Claverie, a morte de Charles de Foucauld não foi intencionalmente procurada e não vale por si mesma. Ela evidencia o cumprimento de uma vida cuja imensa fecundidade Charles, o irmão universal, não pôde entrever. Mais perto de nós, a morte do padre Jacques Hamel não diz nada em si mesma, senão a cegueira dos seus assassinos. Em vez disso, ela evidencia a beleza e a fidelidade de uma vida doada até o fim por um humilde sacerdote, no seguimento do seu Senhor”.
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Rumo à canonização de Charles de Foucauld: a fraternidade universal é a sua “marca registrada” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU